Governo incentiva pequenos produtores a criarem peixes em reservatórios
            
              Utilizar 
              os reservatórios das barragens das hidrelétricas brasileiras 
              para produzir peixes em tanques-rede. Essa é a proposta da 
              Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap) para popularizar 
              a criação confinada de peixes, aumentando a produção 
              atual de cerca de um milhão de toneladas para 17 milhões 
              de toneladas ao ano. Segundo José Fritsch, secretário 
              especial de Aqüicultura e Pesca, a proposta do governo é 
              envolver os pescadores que residem nas regiões próximas 
              aos lagos, a população ribeirinha e agricultores, 
              incentivando a organização dessas pessoas em grupos 
              ou associações para que elas tenham melhores condições 
              de produzir. "Gente que foi removida ou desalojada durante 
              a construção das barragens e que, pela primeira vez, 
              depois de muitos anos, terá a oportunidade de produzir utilizando 
              a água das barragens", esclarece.
            Inicialmente 
              o projeto deve abranger os lagos das hidrelétricas de Tucuruí, 
              Três Marias, Furnas, Itaipu, Serra da Mesa e Sobradinho. Mas, 
              a Seap pensa também em implantar esse tipo de pesca em lagos 
              menores. "Já ocorreram encontros em Santa Catarina e 
              em Goiás, onde ficou comprovado o grande interesse pela proposta", 
              afirma.
            De 
              acordo com o secretário, os produtores não terão 
              de pagar para utilizar esses lagos para a criação 
              de peixes. "As hidrelétricas participarão desses 
              projetos como parte de suas políticas compensatórias 
              pelos danos causados à comunidade e ao meio ambiente", 
              diz. "Elas devem contribuir para a implantação 
              dos projetos e não cobrar nenhum tipo de aluguel ou algo 
              parecido, afinal as águas pertencem à União, 
              que estará concedendo aos produtores o direito de explorar 
              aquele local", afirma, referindo-se ao decreto assinado no 
              ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornando 
              as águas das barragens - que são de propriedade pública 
              - utilizáveis para a piscicultura.
            Para 
              ganhar a adesão da comunidade, o governo, segundo Fritsch, 
              conta com linhas de crédito e recursos orçamentários 
              que serão investidos nesta proposta. "O produtor poderá 
              buscar recursos para os projetos junto ao Programa Nacional de Fortalecimento 
              à Agricultura Familiar (Pronaf Pesca), ao Programa de Desenvolvimento 
              do Agronegócio (Prodeagro) e, no Norte, no Nordeste e no 
              Centro Oeste, através dos programas criados em parceria com 
              os fundos constitucionais e operados pelos bancos parceiros como 
              o Banco da Amazônia e o Banco do Nordeste." A Seap, informa 
              ele, também deverá fazer investimentos em diversos 
              locais, construindo fábricas de gelo e unidades de beneficiamento 
              em parceria com as comunidades.
            A 
              idéia de criar peixes em tanques-rede não é 
              tão nova. Há alguns anos, a Associação 
              Brasileira de Aqüicultura já discutia um projeto parecido 
              com este nos lagos formados pelas hidrelétricas de Goiás. 
              A diferença, dessa vez, é que este é um projeto 
              do governo federal com incentivo oficial. "Este projeto pode 
              trazer grandes resultados, como a geração de emprego, 
              renda e inclusão social, além do aumento da produção 
              de pescados", afirma ele. 
            Um 
              projeto piloto foi instalado em Itaipú, desde agosto do ano 
              passado, onde funcionam fazendas de criação de pacu. 
              A parceria entre a Seap, Itaipú, Agência Nacional de 
              Águas e outros órgãos do governo no zoneamento 
              do lago para a criação desses peixes mostra que a 
              idéia pode render bons frutos. Em 2002, a hidrelétrica 
              de Itaipú produziu 120 mil toneladas de peixes e a expectativa 
              é que, com a implantação do projeto, ela chegue 
              a produzir dois milhões de toneladas ao ano. "Vamos 
              estabelecer, em todos os lagos, as regiões onde poderemos 
              ou não criar peixes ou executar outras atividades como os 
              esportes náuticos". 
            A 
              proposta do governo é atuar, preferencialmente, com a população 
              ribeirinha e não com grandes empresas que venham fazer investimentos 
              nos lagos, como era sugerido no projeto de tanques-rede em Goiás. 
              Mas, o secretário não descarta a idéia de que 
              os empresários também se interessarão pelo 
              projeto. 
            Os 
              tanques redes são cercados com dimensões de dois por 
              três metros com 1,5 metro de profundidade, funcionando como 
              gaiolas que ficam mergulhadas na água. Dentro delas os peixes 
              são tratados como se estivessem em tanques escavados (açudes) 
              recebendo ração e acompanhamento diário do 
              criador. Cada tanque tem capacidade de produzir até 400 quilos 
              de peixe por ano. Quando os peixes atingem o tamanho ideal eles 
              são retirados pelo criador, com a ajuda de um barco, e levados 
              para o beneficiamento ou para a venda in natura. A prática 
              possibilita a criação de diversas espécies 
              em um mesmo reservatório.
            Investimentos
              A aqüicultura, explica o secretário, vem apresentando 
              índices significativos de crescimento nos últimos 
              anos - cerca de 30% ao ano. Em 2002, o Brasil exportou US$ 334 milhões 
              em pescados e teve saldo positivo de US$ 116 milhões. A previsão 
              para este ano é que as exportações ultrapassem 
              US$ 460 milhões, com saldo positivo superior a US$ 300 milhões. 
              Atualmente, os principais compradores dos pescados brasileiros são 
              os Estados Unidos, o Japão e a União Européia.
            "Há 
              pesquisas de espécies nativas para que possam ser realizadas 
              criações em cativeiro, tanto nos rios quanto no mar. 
              Nossos peixes de cativeiro também são muito apreciados 
              tanto no Brasil quanto no exterior e a tendência é 
              de que esse crescimento se acentue elevando a produção 
              nacional e aumentando as oportunidades de renda e emprego", 
              acredita Fritsch.
            Além 
              da criação em tanques-rede, a Seap busca a industrialização 
              e comercialização dos pescados para que cheguem mais 
              facilmente à mesa do brasileiro. "Trabalhamos para o 
              incentivo à criação de pescados no mar, no 
              desenvolvimento das espécies a serem criadas, na produção 
              de pescados em tanques escavados e no projeto de divulgação 
              dos peixe, que são nativos do Brasil, no exterior, para abrir 
              caminho também para a exportação da produção 
              que está sendo criada", diz. No mês passado, foi 
              divulgado que o governo espera investir R$ 3,5 milhões no 
              Programa de Expansão das Exportações de Pescado.