Privatização compromete serviços de saneamento 
              básico, afirma economista
            O 
              número reduzido de investimentos do governo federal nos serviços 
              de saneamento básico no Brasil fez com que alguns municípios 
              paulistas buscassem formas alternativas de financiamento para universalizar 
              o abastecimento de água, a coleta e o tratamento dos esgotos. 
              A análise de algumas dessas alternativas é o objetivo 
              da dissertação de mestrado do economista Manoel Carlos 
              Duarte de Mello Justo, que foi defendida nesta semana, no Instituto 
              de Economia da Unicamp.
            A 
              partir de um estudo de caso de três municípios - Limeira, 
              Ribeirão Preto e Campinas - o pesquisador buscou delinear 
              as diferenças entre a gestão pública e a gestão 
              privada dos serviços de saneamento, principalmente no que 
              diz respeito ao tratamento dos esgotos: "No Brasil, as obras 
              necessárias dependem de cada região. No estado de 
              São Paulo, a preocupação maior é o tratamento 
              de esgotos, diferentemente de outras regiões nas quais o 
              abastecimento de água ainda é um problema", diz 
              o economista. 
            Cada 
              um dos municípios paulistas selecionados por Justo representa 
              um modelo diferente de gestão. Campinas optou pela manutenção 
              da gestão pública, que é feita pela Sociedade 
              de Abastecimento de Água e Saneamento de Campinas (Sanasa). 
              "Campinas não concedeu os serviços à iniciativa 
              privada, procurando adaptar-se à falta de recursos, tentando 
              fazer caixa através da renegociação de contratos 
              e, assim, investir com recursos próprios, pelo menos até 
              o ano de 2003, quando o governo federal financiou as obras necessárias 
              para tratar 70% dos esgotos da cidade", explica o pesquisador.
            Limeira 
              optou pela concessão total dos serviços de saneamento 
              básico à iniciativa privada. Desde 1995, um consórcio 
              formado por uma empresa brasileira (CBPO) e uma empresa francesa 
              (Ondeo) é responsável pelos serviços de água 
              e esgoto da cidade. Justo informa que este caso particular de privatização 
              do saneamento revela semelhanças com experiências internacionais 
              tais como as da França e da Inglaterra, nas quais a preocupação 
              das empresas com a lucratividade faz com que elas aumentem as tarifas 
              cobradas da população e reduzam os investimentos em 
              novas obras. "Em Limeira, além de não cumprir 
              um cronograma de obras acertado com a prefeitura, as empresas privadas 
              realizaram uma série de aumentos nas tarifas. O último 
              reajuste implicou em um aumento de 45% para as chamadas classes 
              baixas e 23,17% para as classes mais altas", afirma.
            Já 
              no caso de Ribeirão Preto, o município optou pela 
              privatização parcial dos serviços de saneamento 
              básico, realizando, em 1995, uma parceria com a Ambient (consórcio 
              formado por empresas norte-americanas) e com o Banco Nacional de 
              Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção 
              de uma estação de tratamento de esgotos. Esta gestão 
              compartilhada apresentou alguns problemas que fizeram com que obra 
              só ficasse pronta em 2002. "As empresas privadas contavam 
              com o BNDES no financiamento da obra. A liberação 
              de verbas só aconteceu em 2000, fazendo com que um projeto 
              que, a princípio, deveria ser cumprido em 18 meses, fosse 
              terminado com um atraso brutal", afirmou o pesquisador. 
            Embora 
              Justo faça questão de ressaltar que os três 
              casos estudados não são suficientes para avaliar qual 
              setor - o público ou o privado - é mais eficiente 
              na gestão dos serviços de saneamento básico 
              no Brasil, os casos de Limeira e Ribeirão Preto permitem 
              caracterizar um padrão de comportamento da gestão 
              privada dos serviços de abastecimento de água, coleta 
              e tratamento dos esgotos no país. "A estratégia 
              do setor privado é investir o mínimo possível 
              ou buscar recursos públicos para investimento, como se viu 
              no caso de Ribeirão Preto. A tendência é aumentar 
              as tarifas para obter lucros compatíveis com o de qualquer 
              empresa tais como as do setor financeiro da economia. No final, 
              o que fica comprometido é a qualidade no atendimento da população."