Pesquisadoras estudam estado de saúde das praias de Pernambuco
Recife,
capital do estado de Pernambuco, apresenta algumas das mais belas
praias brasileiras. Uma delas, a praia de Boa Viagem, conhecida
também pela música Moça bonita da praia
de Boa Viagem, cantada por Alceu Valença, é hoje
objeto de estudo de pesquisadoras pernambucanas interessadas em
monitorar o estado de saúde das praias.
Sob
a orientação de Monica Costa, do Departamento de Oceanografia
da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), Stella Teles de Souza
defendeu dissertação de mestrado sobre as praias de
Boa Viagem e do Pina, no Recife, em fevereiro passado. O trabalho
objetivou estabelecer as bases para que as praias continuem garantindo
os serviços ecológicos e sociais que sempre prestaram
à sociedade.
"Muitas
vezes os usos de um mesmo ambiente entram em conflito. Um exemplo:
banho versus despejo de esgotos", afirma Costa. "A
solução desses conflitos passa pela qualificação,
quantificação, caracterização e minimização
dos mesmos". A pesquisadora explica que as pesquisas estão
definindo e avaliando as variáveis que condicionam a saúde
das praias, quais as áreas de cobertura vegetal das dunas,
presença/ausência de árvores, cobertura dos
recifes com macroalgas, presença/ausência de fauna
na face da praia, cobertura faunística dos recifes, exploração
das praias por vendedores ambulantes, especulação
imobiliária nas adjacências, padrões de uso
e ocupação do solo, número de barracas oficiais
de vendas de alimentos e bebidas, número de eventos culturais
realizados.
Praia
urbana e bastante movimentada, Boa Viagem é considerada uma
Unidade de Conservação Municipal e classificada como
Zona de Proteção Ambiental desde 2001. Com 8 km de
extensão, mas com algumas áreas não recomendadas
por causa da poluição e da presença esporádica
de tubarões, Boa Viagem e Pina são monitoradas pela
Agência Estadual de Recursos Hídricos e Meio Ambiente.
"As duas praias não estavam recebendo a devida atenção
por parte das autoridades estaduais e municipais, se considerarmos
as divisas que elas geram. São unidades de conservação
sem nenhum tipo de estudo, científico ou de gerenciamento
que as descreva cientificamente de forma abrangente", afirma
Costa.
O
lançamento na imprensa do projeto de contenção
de avanço do mar nessas praias motivou as cientistas a trabalhar
nesta linha de pesquisa. O projeto de contenção causou
preocupação às pesquisadoras, pois não
estava de acordo com o que acreditavam ser mais adequado para a
praia. "Na época do lançamento do projeto, nós
já havíamos começado a trabalhar na praia,
mas ainda de maneira muito tímida. Foi desde então
que os projetos mais consistentes começaram a surgir. A iminência
de uma obra caracterizada como uma intervenção de
grande porte exigia que o monitoramento ambiental e a avaliação
da percepção dos usuários da praia sobre o
assunto fossem feitos o mais rápido possível",
explica Costa.
Em
1952, época da fundação do Departamento de
Oceanografia da UFPE, Mark Kempf fez os primeiros trabalhos sobre
a fauna de corais dos recifes que protegem a praia da Boa Viagem.
Depois disso, alguns trabalhos pontuais foram feitos, mas não
eram sistemáticos nem amplos em termos de tempo e espaço.
O início da retomada dos trabalhos nesta área foi
marcado pelas pesquisas da Stella de Souza e de Maria das Neves
Gregório, que defendeu uma tese de mestrado sobre sedimentologia
e morfologia das praias do Pina e de Boa Viagem, orientada por Tereza
Medeiros, também da UFPE. "Não existe, que eu
saiba, nenhum trabalho no Brasil abordando praias sob este ponto
de vista, ou seja, de forma orgânica, para avaliação
da saúde ambiental", continua Costa. "Isso é
relativamente novo no Brasil, mas já bastante usado na Europa".
O trabalho de dissertação defendido por Stella conclui
que existem trechos distintos com relação a saúde
ambiental da praia: um quarto da extensão já está
comprometido. Segundo as pesquisadoras, foi considerado saudável
o trecho que apresentou prestação de serviços
ecológicos sustentáveis à população,
como proteção da costa, recarga do aquífero,
beleza cênica, espaço de lazer, contato com o meio
ambiente. A pesquisa foi iniciada no fim de 2001 e continuará
por mais alguns anos através de outras teses de doutorado
e mestrado.
A
próxima etapa avaliará a percepção dos
usuários da praia em relação às obras
de contenção costeira e contará com a forte
participação da sociedade. Os pesquisadores estão
procurando interagir com o programa "De Olho no Meio Ambiente",
da Petrobras, que está elaborando um diagnóstico participativo
sobre essas praias.