Mulheres ainda são minoria nas engenharias
            Embora 
              o censo referente à 2003 tenha confirmado inúmeros 
              avanços das mulheres em relação ao mercado 
              de trabalho e acesso à educação, algumas categorias 
              profissionais ainda são tipicamente masculinas. Em pleno 
              dia internacional das mulheres, a USP lança o livro As 
              mulheres politécnicas: histórias e perfis que 
              conta a trajetória de engenheiras da tradicional Escola Politécnica, 
              que comemora seu 110º aniversário e revela que, embora 
              sua participação esteja crescendo nas engenharias, 
              as mulheres ainda são minoria e não ocupam cargos 
              hierárquicos mais altos. 
            A 
              obra, organizada por Eni de Mesquita Samara, historiadora da Faculdade 
              de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e Maria Cândida 
              Reginato Facciontti, engenheira química e professora da Escola 
              Politécnica, traz um panorama das mulheres no mercado de 
              trabalho brasileiro desde o período colonial até os 
              dias atuais. Antes, a escolha profissional era pelas categorias 
              consideradas tipicamente femininas - como tecelãs, parteiras, 
              secretárias e professoras.
            Para 
              entender um pouco do perfil dessas mulheres, a publicação 
              conta ainda com um perfil estatístico e com biografias das 
              titulares e mini-biografias das professoras associadas e doutoras, 
              incluindo sua trajetória acadêmica, origem familiar 
              e a experiência profissional. Samara explica que, embora os 
              perfis dessas profissionais seja variado, há uma tendência 
              em terem cada vez menos filhos para conseguirem conciliar a maternidade 
              com a vida profissional, tendência também observada 
              para as mulheres brasileiras, apresentada pelo último Censo. 
              "Nem todas as mulheres tem uma infraestrutura que as permitam 
              continuar com sua profissão, depois da maternidade", 
              justifica a historiadora. 
            Ao 
              longo dos 110 anos de Escola Politécnica, registra-se a presença 
              de Eunice Peregrino de Caldas, em 1899, e Alcina Maria Moura, em 
              1905, como as primeiras alunas não-oficiais em engenharia 
              civil da instituição, que participaram das aulas como 
              ouvintes. Apenas em 1928, gradua-se a primeira engenheira, Anna 
              Fridda Hoffman, e atualmente existem apenas duas titulares, oito 
              livres-docentes e 36 doutoras compondo a equipe, entre os 495 docentes. 
              
              
              Quando toma-se o total de títulos de mestrado conquistados 
              no final da década de 90, existem quase 800, para homens, 
              enquanto que para mulheres este número não atinge 
              a casa dos 200. 
            É 
              na década de 1950 que a participação feminina 
              começa a crescer, informa Samara, passando a ter um fluxo 
              contínuo duas décadas mais tarde e se confirmando 
              apenas nos anos 90. Mesmo assim, explica a coordenadora do livro, 
              existem áreas em que há maior concentração 
              como é o caso da mecânica e civil em contraposição 
              com as engenharias naval e de transportes, onde não existem 
              mulheres, e as engenharias de produção, mineral, química 
              e metalúrgica, onde elas ainda estão timidamente presentes.
            Discriminação
              As engenheiras da Escola Politécnica entrevistadas para a 
              produção do livro afirmam que a discriminação 
              está presente apenas fora da instituição, quando 
              elas partem para o mercado de trabalho. E quando a questão 
              é salário, diferentemente de cargos em empresas privadas 
              ou como ocorre no cinema, homens e mulheres são igualmente 
              reconhecidos. "O único ambiente onde as mulheres não 
              são discriminadas em termos salariais são provavelmente 
              em todas as estatais, em empregos públicos, e nas universidades", 
              diz Samara. No entanto, as mulheres da Politécnica ainda 
              não pertencem aos quadros hierárquicos mais altos.