Redução de investimentos atrasa crescimento do
setor energético
Os
grandes desafios tecnológicos em energia nos próximos
20 anos referem-se, principalmente, ao desenvolvimento de ciência
e pesquisa, ao aperfeiçoamento dos serviços tecnológicos
e à formação de recursos humanos. Há
problemas de produção, abastecimento e transporte
dos recursos energéticos, principalmente em relação
ao petróleo e ao gás natural. Além disso, segundo
especialistas, a redução dos investimentos no setor
não acompanhou o crescimento da demanda. Manoel Nogueira,
coordenador geral de tecnologia de energia da Secretaria de Desenvolvimento
Energético, órgão do Ministério de Minas
e Energia (MME), acredita que a falta de investimentos do Governo
deve-se principalmente a empecilhos burocráticos.
Nogueira
cita a Lei 8666, que regulamenta os processos de licitação,
como uma barreira ao desenvolvimento tecnológico, uma vez
que foi feita voltada para as grandes construções
públicas. Segundo o coordenador geral, a Lei se atém
aos que oferecem o melhor preço e não necessariamente
ao que detenha uma tecnologia melhor e mais adequada para determinados
projetos. "O governo não faz o que quer e sim o que
a lei permite", lamenta. Ele diz ainda que a Petrobras só
consegue um maior dinamismo em suas ações, porque
não precisa cumprir essa lei. "Trabalhar com empresas
é mais fácil que trabalhar com órgãos
do Governo", desabafa.
Raimar
Bylaardt, coordenador geral do Núcleo de Desenvolvimento
Tecnológico da Agência Nacional do Petróleo,
destaca o problema de não haver continuidade nas ações
realizadas pelo governo. Segundo ele, muitos projetos acabam sendo
esquecidos pela dificuldade de comunicação entre os
diferentes setores. "Precisamos trabalhar em conjunto com os
outros Ministérios" ressalta. A própria ciência,
de acordo com José Eduardo Tanure, da Agência Nacional
de Energia Elétrica, precisa entrar em uma lógica
econômica. "O Brasil é muito bom em pesquisa básica,
mas temos que continuar esse processo e fazer pesquisa aplicada
à indústria", opina.
Exploração
de petróleo
Há cerca de oito mil poços de petróleo em exploração
no Brasil, embora o potencial chegue a vinte mil poços",
sendo que quase 90% das reservas estão localizadas em águas
com mais de mil metros de profundidade. "Estamos em uma fase
incipiente da exploração de poços de petróleo",
diz Osvair Trevisan, do Centro de Estudos de Petróleo (Cepetro)
da Unicamp. Um dos desafios nessa área é atrair investidores
dispostos a explorar as chamadas "novas fronteiras", ou
seja, locais de alto risco geológico e custos elevados, como
a Bacia Amazônica, a Bacia do Paraná e as águas
ultra-profundas.
De
acordo com o pesquisador André Furtado, do Instituto de Geociências
da Unicamp, é preciso aumentar o envolvimento da indústria
em projetos cooperativos entre Universidade-Empresa. Furtado informa
que há poucos projetos no Fundo Setorial do Petróleo
e Gás Natural que são realizados em conjunto com a
indústria. "A Petrobras, a universidade e os Centros
de Pesquisa e Desenvolvimento contam com boa infra-estrutura de
pesquisa, mas em geral, o esforços tecnológicos são
limitados" conclui.
Esses
e outros especialistas reuniram-se durante o "Fórum
Permanente de Energia e Ambiente", organizado pelo Cepetro,
International Energy Initiative (IEI), Instituto de Geociências
e Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp,
no último dia 2.