Figura mítica feminina ajuda a desvendar passado político
mexicano
Uma
das maiores preocupações dos mexicanos desde a sua
emancipação política, no século XIX,
é a definição de sua identidade como parte
do processo de construção do Estado Nação.
Saber a importância das representações sobre
a mulher nesse contexto é o objetivo de uma pesquisa desenvolvida
pela historiadora Rosa Maria Spinoso de Montandon, do centro Universitário
do Planalto de Araxá (UniAraxá), Minas Gerais. Sua
principal fonte de estudo são as histórias sobre a
figura mitológica feminina conhecida como "La Llorona".
Montandon
diz que "La Llorona" é tida como uma assombração
em forma de mulher, vestida de branco, chorosa e descabelada, que
atrai as pessoas nas margens de rios, lagos e nas encruzilhadas.
Para a pesquisadora, essa entidade mítica funde numa mesma
figura mãe e amante, as duas faces de uma idealização
do papel feminino que serviu como modelo de conduta para as mulheres,
com noções sobre o certo e o errado. "Trata-se
de uma estratégia institucional e masculina de controle,
que se pretendia forjar durante o século XIX, articulada
com o projeto de construção da mulher, no moderno
Estado mexicano", explica.
Baseada
nas literaturas popular e erudita do México, na história
oral e em manuscritos pré-colombianos, Montandon fez um mapeamento
das representações femininas que mesclam histórias
indígenas e aquelas que julga oriundas de um berço
europeu, buscando os mitos que deram origem à figura de "La
Llorona". Para a historiadora, a genealogia e a historicidade
de "La Llorana" permitem compreender parte do projeto
político mexicano que articulou imagens femininas pré-colombianas
com as do culto cristão à Virgem Maria, ainda hoje
presentes no imaginário popular.
Entre
as representações indígenas que deram origem
ao mito de "La Llorona", e que são associadas a
uma outra série de figuras femininas, Montandon cita as histórias
sobre as "Cihuateteo", as mulheres deusas. "Tais
deidades [divindades] mesoamericanas eram as mulheres mortas no
primeiro parto, que desciam à terra em determinados dias
do calendário para assombrar crianças e adultos nas
beiras dos rios ou nas encruzilhadas", esclarece a pesquisadora.