Software auxilia arqueólogos na montagem de fragmentos
de cerâmicas
Através
de vestígios deixados por sociedades antigas que arqueólogos
conseguem vislumbrar seus costumes e formas de organização.
Entre estes vestígios encontram-se, comumente, inúmeros
cacos de cerâmica, que precisam ser montados para recompor
a peça original. O trabalho demorado e muitas vezes difícil
de ser concluído é agora auxiliado por um software,
desenvolvido por Jorge Stolfi, do Instituto de Computação
da Unicamp, que consegue reunir fragmentos de cerâmicas a
partir de fotos digitalizadas, como se montasse um quebra cabeças
virtual.
O
programa já está sendo testado numa coleção
de fragmentos de cerâmica do Instituto Arqueológico
Brasileiro (IAB). A pesquisadora Helena Cristina Leitão,
que auxiliou Stolfi neste projeto, está fotografando as peças
com uma câmera digital. A seguir as fotos serão processadas
para corrigir as distorções de perspectiva e extrair
delas o formato de cada fragmento em três dimensões.
"Para este fim é necessário obter várias
fotos, com ângulos e iluminações diferentes.
A forma tridimensional pode ser então determinada pelo computador,
por uma técnica de visão computacional chamada estereoscopia",
explica Stolfi, que é engenheiro eletrônico com mestrado
e doutorado em ciência da computação.
Numa
segunda fase o programa procura dois trechos de contornos de fragmentos
distintos que possuam formas aproximadamente complementares, isto
é, que se encaixem um ao outro deixando apenas frestas mínimas.
"Esse procedimento é repetido diversas vezes, com versões
cada vez mais detalhadas dos contornos. Uma análise do trabalho
efetuado em todas estas etapas mostra que ele é muito menor
que o trabalho de comparar todos os trechos possíveis dos
contornos originais", diz o pesquisador. Numa coleção
arqueológica típica existem centenas ou milhares de
fragmentos, e para cada um há centenas de possibilidades
de encaixe o que torna a atividade muito demorada ou até
inviável, por isso o software desenvolvido no Instituto de
Computação pode ser de grande valia para o trabalho
arqueológico.
Outra
área que também pode se beneficiar com o programa
é a restauração de documentos. Na fase inicial
de testes, Stolfi aplicou o software em fragmentos de papel e concluiu
que o pode ser usado em certos tipos de papel antigo que fraturam,
em vez de rasgar. Mesmo assim, Mirdza Sichmann, especialista de
conservação de acervos da Centro de Memória
Unicamp, lembra que a digitalização exigiria cuidados
extras. "A luz e o calor aplicados no papel durante o processo
podem danificar ainda mais o documento, mas pode valer a pena porque
vai agilizar o trabalho do restaurador e deixar o conteúdo
das cartas acessível para o pesquisador mais rapidamente",
conclui.