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Identificação de "perfil inflamatório" pode aperfeiçoar tratamento de cardíacos

Um princípio que tem norteado vários estudos na área da medicina é que o corpo de cada indivíduo pode apresentar respostas distintas em casos de lesões muito semelhantes. Uma simples espinha pode causar inflamação em uma pessoa e, em outra, não passar de um pequeno ponto quase indolor. Uma pesquisa desenvolvida no Instituto do Coração de São Paulo (InCor) identificou um quadro inflamatório específico em pacientes que apresentam infarto e angina - uma espécie de "pré-infarto". O estudo, baseado na análise de 50 pacientes voluntários, pretende agora aferir o uso de medicação específica para combater essa inflamação, e assim, melhorar o tratamento dessas doenças.

Muitas pessoas imaginam que problemas cardíacos resultam apenas da obstrução de veias e artérias por "placas de gordura" que vão se acumulando ao longo do tempo. Segundo o doutorando Juliano de Lara Fernandes, que desenvolveu o estudo, existe um tipo de inflamação que precede o infarto e que pode até agravar essa obstrução. Trata-se de uma resposta imunológica do corpo humano, tecnicamente conhecida como T-helper 1 (Th1), que ocorre em todo o organismo e faz com que determinados tipos de células causem um processo inflamatório específico nas paredes de veias e artérias, podendo variar de intensidade. Desse modo, as placas de aterosclerose - nome técnico das conhecidas "placas de gordura" - ficam mais propensas a se romper e causar um entupimento.

O próximo passo da pesquisa é utilizar um medicamento denominado pentoxifilina, que combate essa resposta imunológica, em cada um dos pacientes. "Identificamos o problema e agora devemos propor um tratamento para ele", diz Fernandes. O paciente poderá ter um tratamento mais direcionado para o seu caso e, conseqüentemente, mais efetivo. O estudo, que teve essa etapa inicial concluída em dezembro de 2003, será publicado na revista Cytokine, que possui um alto índice de impacto, medido pelo número médio de citações de seus artigos. Cada artigo publicado na revista Cytokine é citado em média 2,34 vezes por outros autores. A média para revistas de cardiologia é 1,8.

O estudo realizado no InCor também abre portas para a compreensão de quadros patológicos mais complexos. Por se tratar de uma inflamação sistêmica - que atinge o corpo inteiro -, ela também pode ser responsável pelo aumento de derrames cerebrais ou obstruções de artérias periféricas pelo mesmo processo. "Além disso, este tipo de resposta imunológica também pode estar associado a um quadro conhecido como síndrome plurimetabólica, que envolve obesidade, resistência à insulina e hipertensão", afirma Fernandes.

Essa pesquisa é fruto de uma parceria do InCor com a Unicamp, o que possibilitou o acompanhamento de pacientes de São Paulo e Campinas. Concomitantemente à pesquisa, Juliano Fernandes também atuou como colaborador em outra, que visa aperfeiçoamento da utilização de ressonância magnética para o diagnóstico de problemas cardíacos, que pode vir a substituir o método tradicional, o cateterismo. Os testes de ressonância permitiram quantificar a espessura das paredes das artérias coronárias dos pacientes.

Em função dessa parceria entre as instituições de São Paulo e Campinas, o pesquisador teve a oportunidade de ser co-orientado pelos professores Otávio Rizzi Coelho e Maria Heloísa Blotta, da Unicamp, que participaram da pesquisa, além de contar com a orientação de Carlos Vicente Serrano Jr., da USP e com a colaboração da equipe de Ressonância Magnética do InCor .

Os resultados parciais da pesquisa também serão apresentados no Congresso Mundial da Ressonância Cardíaca, que ocorrerá em fevereiro deste ano, em Barcelona, na Espanha. Fernandes também avalia que ainda este ano, quando conclui seu doutoramento, poderá apresentar os resultados definitivos de ambos os estudos.


Leia matéria sobre:

- As técnicas de diagnóstico que podem substituir o cateterismo

Atualizado em 03/02/04
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