Comunidade americana quer mais estudos para justificar alto índice 
              de câncer de mama
              
              
            Ter 
              filhos após os 30 anos de idade, optar pela terapia de reposição 
              hormonal e consumir álcool são as razões encontradas 
              por pesquisadores para explicar o alto índice de câncer 
              de mama no condado de Marin, na Califórnia, nos EUA. Conhecida 
              como a "capital mundial" do câncer de mama, Marin 
              registra uma taxa de incidência deste tipo de câncer 
              40% maior do que no restante dos Estados Unidos e, por isso, tem 
              sido foco de vários estudos. A população local, 
              no entanto, discorda da opinião dos cientistas e acredita 
              e os altos índices da doença podem estar relacionados 
              a contaminação do meio ambiente.
            Uma 
              pesquisa feita no ano passado pela Universidade da Califórnia, 
              em São Francisco, apontou que ingerir dois copos de bebida 
              alcóolica por dia aumenta significativamente o risco da mulher 
              desenvolver um câncer de mama. O risco cresce se a mulher 
              optar por não ter filhos ou resolver engravidar tardiamente 
              e é ainda maior se ela fizer reposição hormonal 
              ao entrar na menopausa. Essas constatações, segundo 
              cientistas do Centro de Câncer do Nordeste da Califórnia 
              (Northern California Cancer Center), sugerem que a ocorrência 
              de câncer de mama é alta em qualquer lugar onde há 
              mulheres com esses fatores de risco, como ocorre em Marin. Na opinião 
              deles, não haveria nenhuma razão para acreditar que 
              o meio ambiente estaria causando a alta taxa dessa enfermidade no 
              local.
            Mas, 
              a população do condado - formada por cerca de 250 
              mil habitantes - têm dúvidas em relação 
              a esses estudos e não descarta a possibilidade de haver uma 
              ligação entre o meio ambiente e a incidência 
              elevada de câncer de mama. Eles citam, por exemplo, possíveis 
              contaminações de latas de lixo radioativas das Ilhas 
              Farallon, dos dejetos da base da Força Aérea Hamilton, 
              em Novato, e de uma pedreira local. Para essas pessoas, nenhum estudo 
              prova que esses elementos podem ser descartados como uma causa do 
              câncer de mama em Marin. 
            Apesar 
              dos protestos da população, os pesquisadores são 
              categóricos quando o assunto é câncer e meio 
              ambiente. "As substâncias tóxicas encontradas 
              no meio ambiente causam a doença, mas elas seriam responsáveis 
              por uma pequena porcentagem dos casos de câncer, quando há 
              uma exposição por um longo período", afirma 
              o editor médico da Sociedade Americana de Cancerologia, Herman 
              Kattlove. Para os pesquisadores do Centro de Câncer da Califórnia, 
              os estudos feitos, usando o que há de melhor na área 
              de epidemiologia ambiental, não mostraram nenhuma forte associação 
              entre exposição ambiental e câncer de mama. 
              Por outro lado, as pesquisas mostraram que engravidar em idade mais 
              avançada e consumir álcool são sérios 
              fatores de risco.
            Para 
              Eduardo De Capitani, professor do Departamento de Clínica 
              Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp 
              e participante de um projeto da área de Geologia Médica 
              no Vale do Ribeira, o câncer de mama não é considerado 
              um câncer com forte relação causal com exposição 
              à radiação. "Este tipo de câncer 
              tem outros fatores mais importantes do que a radiação, 
              como a reposição hormonal com estrógeno, tipo 
              de alimentação e estilo de vida", afirma. A relação 
              com radiação, segundo ele, é mais freqüente 
              nos casos de cânceres hematológicos, como as leucemias 
              e os linfomas. De qualquer forma, de acordo com o médico, 
              a presença e a dose de radiação devem ser estabelecidas 
              no ambiente, antes de se levantar a hipótese de relação 
              causal.
            Como 
              a determinação genética está intimamente 
              relacionada ao câncer de mama - se há casos na família, 
              as chances de desenvolver essa doença aumentam - é 
              preciso, na opinião do professor da Unicamp, investigar a 
              árvore genealógica dessas mulheres, respondendo a 
              questões como "de onde vieram essas pessoas, a quais 
              famílias pertencem e com quem se casaram, etc". Capitani 
              afirma que não são raros os casos de incidência 
              aumentada de algumas doenças em comunidades pequenas e isoladas. 
              "Há exemplos de ilhas, onde existe alto índice 
              de casamentos intrafamiliares, que registram excesso de doenças 
              ligadas apenas às características genéticas 
              daquela população e não com o ambiente." 
              Assim, "nos estudos epidemiológicos de elevadas incidências 
              de determinadas doenças em certas comunidades mais fechadas, 
              os pesquisadores devem sempre investigar a história dessa 
              populações do ponto de vista antropológico, 
              genealógico, levantando eventual hipótese de determinação 
              genética daquela afecção aumentada."
              Se esses estudos epidemiológicos não mostrarem as 
              causas da elevada taxa do câncer de mama, é preciso 
              partir, então, para estudos ligados à radiação. 
              "É difícil associar, de imediato, este tipo de 
              câncer, assim como o de pulmão, com uma causa ambiental 
              tóxica, não ligada, no caso do pulmão ao tabagismo, 
              e no caso da mama ao uso crônico de hormônios. Os fatores 
              de risco conhecidos até o momento para o câncer de 
              mama são muito semelhantes aos fatores encontrados pelos 
              pesquisadores no condado de Marin", ressalta.
            Um 
              dos problemas relacionados ao estudo de câncer e outras doenças, 
              segundo diz Capitani, é a falta de incentivo das agências 
              de pesquisas para estudos da parte ambiental, além da dificuldade 
              metodológica que esse tipo de estudo coloca. "Hoje, 
              a tendência é o financiamento de estudos genéticos. 
              Na visão de alguns pesquisadores a genética explicaria 
              quase tudo. Pesquisas nessa área conseguem mais verbas com 
              mais facilidade. Já para estudos ambientais, o interesse 
              e o empenho financeiro são menores por parte dos governos 
              e das indústrias", lamenta, ressaltando a importância 
              de se estudar todas as hipóteses - genéticas e ambientais 
              - para chegar a respostas mais próximas das verdadeiras.
            
              
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                   Riscos 
                    de desenvolver câncer de mama 
                     
                    Dados do Instituto Nacional do Câncer indicam que, o 
                    câncer de mama é relativamente raro antes dos 
                    35 anos de idade, mas acima desta faixa etária sua 
                    incidência cresce rápida e progressivamente. 
                    No Brasil, essa doença é o que mais causa mortes 
                    entre as mulheres. A história familiar, de acordo com 
                    essas informações, é um importante fator 
                    de risco para o câncer de mama, correspondendo a cerca 
                    de 10% dos casos de doença. A idade também é 
                    outro fator considerável, assim como a primeira menstruação 
                    precoce, a menopausa tardia - após os 50 anos de idade 
                    -, a ocorrência de gravidez após os 30 anos e 
                    o fato de não ter filhos. A ingestão regular 
                    de álcool, mesmo em quantidade moderada, também 
                    é considerada um forte fator de risco.  
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