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Caixa de Pandora

Já se disse que os três grandes projetos científico-tecnológicos mais importantes do século XX são o Projeto Manhattan que resultou na bomba atômica em 1945, o Programa Espacial que levou o homem à lua em 1969, e, mais recentemente o Programa Genoma com a variedade de projetos de seqüenciamento, entre eles o genoma humano, e no Brasil, o genoma de patógenos, como o da Xyllela fastidiosa e o do câncer.

Certamente, pelos impactos no nível epistemológico, pelos esforços mobilizados para realizá-los e pelas conseqüências sociais, políticas e econômicas que acarretaram, esses projetos, cada um à sua maneira, pelas características que lhes são próprias, estão entre os mais espetaculares que a humanidade já conheceu. Um deles, o do genoma, com promessas de redenção e de salvação, que o contrapõe ao apocalipse anunciado pelo projeto Manhattan e confirmado pela força destruidora da bomba de hidrogênio, medida em megatoneladas de dinamite, mil vezes mais poderosa que a bomba de Hiroshima, que explodiu em 1952 no atol de Einwetok.

O físico J. R. Oppenheimer fora categórico ao responder afirmativamente sobre a necessidade da fabricação e da utilização da bomba. Dois anos depois, qual um Hamlet moderno, angustiado pelas dúvidas e, por isso mesmo, sem as credenciais de segurança, que lhe foram retiradas pelo governo americano, proferiu, em 1947, no Massachussetts Institute of Technology (MIT) uma conferência cujo título neutro "A física no mundo contemporâneo" não deixava entrever o questionamento dramático que ele faria sobre o uso bélico da energia nuclear e sobre o potencial destruidor que o homem tinha adquirido através do conhecimento e do domínio do processo de fusão nuclear:

"Apesar da visão e da sabedoria clarividente de nossos estadistas na época da guerra, os físicos sentiram uma responsabilidade muito particular por terem sugerido, apoiado e, enfim, conseguido, em grande parte, desenvolver as armas atômicas. Não se pode também esquecer que essas armas, por terem sido utilizadas efetivamente, dramatizaram impiedosamente a desumanidade e a maldade da guerra moderna. Falando cruamente, sem nenhuma vulgaridade ou hipérbole, os físicos conheceram o pecado; e esse é um conhecimento que jamais poderão esquecer."

O tom bíblico da mensagem e claro é a analogia da situação com a do pecado original, que leva à expulsão do homem do paraíso, é retomada em 1961, agora por um personagem que também marcaria para sempre a história mundial. John F. Kennedy, em seu discurso de posse na presidência dos U.S.A., ecoa o sentimento de culpa de Oppenheimer e posa de anjo apocalíptico, como o faria Bill Clinton, quarenta anos depois, a propósito genoma humano, posando agora de anjo salvador, como vimos, aqui mesmo, na edição anterior de Com Ciência.

Disse Kennedy em seu discurso: "O mundo está muito diferente, pois o homem detém em suas mãos mortais o poder de abolir todas as formas da pobreza humana e todas as formas da vida humana."

É sobre energia nuclear este número de Com Ciência e, em particular, sobre energia nuclear no Brasil.

A motivação imediata para a escolha desse tema está na ativação da usina Angra 2 e nas contradições e contrariedades de opiniões que o programa energético nuclear continua a despertar em nossa sociedade.

Várias dessas posições estão publicadas na revista sob a forma de entrevista, de reportagens, de artigos ou de comentários, buscando dar-lhes a organicidade necessária para refletirem, o quanto possível, o estado da arte do tema entre nós, os seus impactos, do ponto de vista da ciência e da tecnologia e os benefícios, ou não, que o programa traz à população, envolvendo questões sociais, econômicas e ambientais.

O compromisso da utilização da energia nuclear somente para fins pacíficos é suficiente para garantir as conseqüências positivas de seu emprego? O país está, gerencialmente falando, capacitado para a gestão de programas de risco dessa natureza? O monitoramento ambiental da região de Angra feito pela própria Eletronuclear é suficientemente confiável? O país dispõe de condições para monitoramentos alternativos? O impacto positivo do programa, que se dispersa pela região sudeste, compensa a desconfiança da população de Angra mais imediatamente sujeita ao impacto negativo potencial concentrado na cidade? O plano de emergência, caso ocorra acidente nuclear, é adequado e eficaz para evacuar a população? A estrada Rio-Santos oferece condições adequadas para a execução do plano? A demanda presente e futura de energia no país justifica por si só o programa nuclear? A relação custo-benefício, considerando os investimentos e o retorno social, é positiva ou mesmo equilibrada? A quantas anda o programa nuclear brasileiro como um todo? Deve o país continuar a investir em um programa energético dessa natureza e dessa envergadura? Essas e outras questões semelhantes acompanham o cidadão brasileiro e constantemente o confrontam, na mídia, com a necessidade de um entendimento sempre maior do problema.

Este número de Com Ciência propõe-se a contribuir para que o entendimento público da energia nuclear, como ameaça e como fonte de bem estar social, aumente qualitativamente, no sentido de que possamos, cada vez mais, intervir, como cidadãos, nos destinos e na formulação dos destinos que as políticas públicas traçam para a sociedade.

Carlos Vogt

 

 

 

 

         
   

 

   
   

Atualizado em 10/09/00

   
   

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