Projeto residencial ecológico de estudante é premiado pela Eletrobrás
Uma casa que aproveita recursos naturais como o vento, o sol e a água da chuva e conta com tratamento biológico do esgoto. Esse projeto arquitetônico totalmente ecológico, desenvolvido por Gustavo Braz Carneiro, aluno de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), venceu a edição 2004 do Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia na categoria "Edificações", modalidade "Estudante". A premiação, que faz parte do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), da Eletrobrás, aconteceu no dia 13 de dezembro, no Rio de Janeiro.
O projeto premiado de Carneiro começou com a sua participação na 2003 Design Competition for an Ecohouse, promovida pela Escola de Arquitetura da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Essa competição, que contou com 120 participantes de 30 países, consistia na criação de uma edificação para cinco pessoas (um casal com duas crianças e uma pessoa idosa), confortável em qualquer estação climática e capaz de se manter sem consumir grandes quantidades de combustíveis fósseis (no Reino Unido, quase 85% da energia é produzida por petróleo ou gás natural). Após as sugestões que recebeu da banca examinadora, o estudante da UFSC aperfeiçoou seu trabalho e chegou na versão que venceu em 2004 o prêmio oferecido pela Eletrobrás.
Na casa projetada pelo estudante, o tratamento de esgoto não usa energia, agentes químicos e nem processos mecânicos: é totalmente biológico. O sistema utiliza raízes de junco, que liberam oxigênio e possibilitam a existência de bactérias, que fornecem nutrientes para a vegetação e diminuem a carga orgânica da água do esgoto. O projeto também prevê o armazenamento da água da chuva em um reservatório, para que ela possa ser usada nos vasos sanitários e no jardim da casa. Carneiro utilizou dados pluviométricos de três anos em Florianópolis, que indicaram a possibilidade de substituição de cerca de 50% da água tratada por água da chuva.
Um sistema de placas solares tem um duplo papel na casa: além de permitir o armazenamento de energia e fornecimento do excedente para a concessionária, também serve para o aquecimento de água, que é armazenada na cobertura, em outro reservatório, abaixo dos reservatórios de água potável e água pluvial. A água quente alimenta um sistema de tubulações sob o piso, que pode ser acionado no inverno, para manter o conforto térmico na casa. "Quando se percebe a necessidade de um auxílio para a manutenção de conforto, aciona-se uma chave/registro que faz com que uma pequena bomba movimente o fluxo de água quente, percorrendo a extensão das tubulações", explica Carneiro.
O
projeto prevê ainda o uso de blocos de tijolos Isopet, desenvolvidos
pelo Departamento de Construção Civil do Centro Federal
de Educação Tecnológica do Paraná. Segundo
o estudante da UFSC, esses blocos, confeccionados em concreto leve,
com garrafas plásticas
e escórias de pneus no interior, não requerem argamassa
para assentamento em sua lateral e apresentam resistência
similar aos tijolos cerâmicos, além de amortecerem
os picos de temperatura (tanto as mínimas quanto as máximas).
O estudante também pensou em soluções externas
à casa para o conforto térmico de seus habitantes,
como um espelho d'água na entrada, para amenizar a temperatura
em dias quentes - que se abastece do reservatório onde é
armazenada a água da chuva -, e árvores caducifólias
ao redor, que dão sombra no verão, mas perdem a folhagem
no inverno, permitindo a incidência do sol para o aquecimento
das paredes da casa na estação mais fria.
Para contemplar uma das exigências estabelecidas pela competição inglesa que inspirou o projeto (a de que um dos habitantes da casa seria uma pessoa idosa), Carneiro pensou em um elevador pneumático para a residência de dois pavimentos. Esse elevador não utiliza cabos, pistões hidráulicos, polias, óleo ou engrenagens. Ele funciona por diferença de pressão e, segundo o estudante, apresenta um baixo consumo de energia, com potência de 5 kW.
O
somatório dessas soluções apresentadas no projeto,
particularmente o uso de painéis solares, torna o custo da
edificação de 160m2 alto, avaliado em torno de R$
240 mil no início deste ano. Mas Carneiro, que pretende cursar
arquitetura na mesma universidade, já trabalha como projetista
de Arquitetura em Florianópolis e tem tentado difundir isoladamente
ou em conjunto essas tecnologias empregadas em seu projeto premiado.
"Ainda não consegui incorporar todas as possibilidades
em uma única edificação, porém as premissas
de arquitetura bioclimática e aquecimento solar de água
possuem uma boa aceitação aqui no Sul", afirma.
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