Vitória do Brasil na OMC abre portas
para novas denúncias
No
último dia 03 de março, foi concebida ao Brasil
a vitória definitiva contra os subsídios norte americanos
ao algodão. Em abril de 2004, o Brasil já havia
conseguido uma vitória preliminar contra os EUA e, após
apelação norte-americana, a decisão de 2004
foi mantida pelo Órgão de Apelação
da OMC - última instância judicial. O Brasil argumentou
que os subsídios concedidos pelo governo americano aos
exportadores de algodão violam as regras internacionais
de comércio, pois distorcem as regras de competitividade
dos produtos em desenvolvimento, como o Brasil, dentro do mercado
internacional. Agora, os EUA têm que de se adaptar às
normas da OMC, formulando uma nova política, e estão
sujeitos a sanções caso as descumpram.
Há
algumas décadas os EUA têm sido alvo de críticas
internacionais devido ao subsídio do algodão. Com
o aumento do subsídio norte-americano durante o governo
Bush, a participação do algodão americano
nas exportações cresceu de 17% em 1998 para 42%
em 2002 e 2003, enquanto houve uma queda dos preços no
mercado internacional. No Brasil, por exemplo, houve uma redução
de 12,6% no preço do algodão nacional depois de
adotada essa política de subsídio.
A
decisão da OMC pode representar algo maior do que uma decisão
meramente econômica. Segundo Rodrigo Cintra, vice-presidente
da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São
Paulo, o Brasil poderá ganhar um posto de liderança
entre os países em desenvolvimento em relação
à questão, além de abrir as portas a novas
denúncias de subsídios por parte das nações
ricas. "Quanto mais o país conseguir passar esta imagem
no cenário internacional, maiores serão as chances
de conseguir solidificar um grupo sob sua liderança e,
assim, forçar a criação de uma agenda internacional
mais próxima aos seus interesses", diz.
Para
Cintra, a vitória não qualifica o Brasil diante
das negociações internacionais em andamento, mas
mostra aos parceiros que o país está disposto a
questionar na OMC caso algum ponto do acordo não seja seguido.
Além disso, a vitória poderá garantir novos
posicionamentos por parte de países em desenvolvimento
em relação aos acordos da OMC. "Cada decisão
tomada na OMC significa um novo passo rumo ao padrão que
norteará o comportamento dos países", relata
Cintra. "Vitórias de países em desenvolvimento
estimulam os demais a ingressarem com contestações,
aumentando sua capacidade de pressão e, portanto, influenciando
nos destinos do padrão do comércio internacional",
complementa.
De acordo com Cintra, a discussão dos subsídios
agrícolas, nesse caso, fortaleceu o poder da maioria, contrariando
a vontade dos EUA, que preferiam discutir a questão apenas
com a OMC. "Assim, tanto os países desenvolvidos quanto
os em desenvolvimento começam a trazer para um fórum
de interesse comum a discussão. A partir deste momento,
a força deve ser direcionada para a capacidade que cada
uma das partes terá em sustentar suas estratégias",
conclui Cintra.
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