Setor
de alimentos é pressionado a reduzir marketing de hipercalóricos
O
elevado consumo de alimentos hipercalóricos é apontado
como um dos pricipais responsáveis pelo aumento preocupante
no número de pessoas obesas ou que apresentam sobrepeso.
Diante desse quadro, a publicidade feita por empresas de alimentos,
predominante voltada para os produtos ricos em calorias, vem sofrendo
pressão em vários países para que mude seu
direcionamento de modo a não incentivar o consumo, principalmente
infantil. No Brasil, desde de 2003 está em andamento o
projeto de lei do senador Tião Viana (PT) que propõe
a regulamentação desses anúncios e prevê
um maior destaque para as qualidades e características
nutritivas nas embalagens e publicidade de alimentos.
A
obesidade é considerada hoje um grave problema de saúde
pública, chegando a ser tratada como epidemia, graças
a sua alta incidência. No Brasil, mais de 40% da população
adulta brasileira está acima do peso recomendado, segundo
a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003 realizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dentro desse total, cerca de 11% ou 10,5 milhões de pessoas
são consideradas obesas.
O alarde sobre o problema da obesidade foi tema
da oficina “A influência da publicidade na alimentação
da população: que caminhos seguir dentro da estratégia
global”, durante o Fórum Social Mundial desde ano.
Organizada pelo Conselho Federal de Nutricionistas, o debate acabou
gerando um documento com algumas iniciativas para reduzir a obesidade
como: a ação imediata do governo brasileiro na regulamentação
da publicidade de alimentos; controle da comercialização
de alimentos em cantinas escolares, como já ocorre nos
estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro e nas escolas municipais
de Ribeirão Preto (SP); e introdução do tema
segurança alimentar e nutricional nos currículos
do ensino fundamental e médio.
Discussão
global
Mas, não é apenas no Brasil que essa questão
está em pauta. Na Europa, o comissário europeu para
Saúde e Assuntos do Consumidor, Markos Kyprianou afirmou,
em janeiro deste ano, que irá regulamentar a publicidade
de alimentos caso a indústria não mude seu comportamento.
Já nos EUA, algumas grandes empresas multinacionais tentam
mostrar que podem se auto-regulamentar e fizeram algumas mudanças
em suas estratégias de marketing. A empresa Kraft,
por exemplo, retirou do ar alguns anúncios como de biscoitos
de alto valor calórico e diminuiu o número de propagandas
de hamburgers e fritas da rede McDonald's, passando a divulgar
opções menos calóricas com direito até
a saladinhas.
“Algumas
grandes empresas estão procurando se antecipar mudando
sua estratégia de marketing para evitar campanhas
e regulamentações governamentais como as que foram
feitas para o tabaco. Mas eu não sou muito otimista no
que diz respeito a auto-regulmentação das empresas
de alimentos. Os interesses são muito grandes e variados”
analisa o psicólogo e pesquisador da Universidade de São
Paulo (USP), Sebastião de Sousa Almeida. O pesquisador
orientou a pesquisa Quantidade e qualidade de produtos alimentícios
na televisão brasileira, concluida em 2002, que analisou
anúncios veiculados nas três maiores emissoras de
TV aberta do Brasil. Segundo os dados obtidos, os alimentos representam
mais de 27% das propagandas veiculados pela televisão,
sendo que desse total quase 58% anunciam alimentos mais calóricos
como gorduras, óleos, açucares e doces. O segundo
grupo que mais apareceu nas propagandas, com 21,2%, foram os pães,
cereais, arroz e massas, enquanto as frutas e vegetais (folhas)
– considerados menos calóricos - simplemente não
apareceram. “Ainda não temos dados sobre essa suposta
mudança na estratégia de publicidade das empresas
produtoras de alimentos, mas, pelo que tenho observado, não
acredito que tenham ocorrido mudanças relevantes no panorama
que observamos há alguns anos atrás”, conclui
Almeida.
A relação entre propaganda de alimentos,
consumo e obesidade infantil também foi estudada em outro
trabalho orientado pelo psicólogo da USP no final do ano
passado, que demonstrou haver uma relação positiva
entre o que a criança assiste nos comerciais televisivos
e suas solicitações para os responsáveis
pelas compras de alimentos e também entre o atendimento
destas solicitações e o desenvolvimento da obesidade.
“Através do cruzamento dos dados obtidos na pesquisa
observamos que as crianças cujos pedidos eram mais comumentes
atendidos também eram aquelas que apresentavam problemas
de sobrepeso", explica Almeida.
Para
ele, no entanto, não basta que haja uma regulamentação
da publicidade para resolver o problema da obesidade. A doença,
segundo o pesquisador, envolve motivações complexas
e uma mudança de comportamento que dificilmente acontecerá
com um tratamento focado apenas no paciente e sua família.
Para combater a obesidade é necessário que se trate
a questão de forma interdisciplinar, levando em conta o
ambiente e práticas sociais onde o obeso está inserido.
“Existe todo um contexto de mudanças tecnológicas
e culturais que favorecem o sedentarimos e a ingestão de
comidas rápidas e hipercalóricas. Por isso, são
necessárias ações que envolvam médicos,
nutricionistas, psicólogos, professores, engenheiros, arquitetos,
e diversos outros profissionais para que haja uma mudança
efetiva no ambiente que favorece a obesidade”, enfatiza.
necessárias ações que envolvam médicos,
nutricionistas, psicólogos, professores, engenheiros, arquitetos,
e diversos outros profissionais para que haja uma mudança
efetiva no ambiente que favorece a obesidade”, enfatiza.