Estudo
sobre alternativa à proposta de
reforma tributária é premiado
Em
1996, o governo federal criou o Prêmio Tesouro Nacional
para estimular pesquisas acadêmicas na área de finanças
públicas voltadas para o aperfeiçoamento da máquina
administrativa. Um dos premiados na edição 2004
foi o trabalho "Reforma tributária no Brasil - uma
análise dinâmica dos efeitos macroeconômicos
e dos impactos sobre a distribuição de renda e bem-estar",
do auditor fiscal da Receita Federal Nelson Leitão Paes,
que recebeu R$ 5 mil. Esse trabalho, que é parte de sua
pesquisa de doutorado no Instituto de Economia da Universidade
de Brasília (UnB), apresenta uma proposta de reforma que
não apenas desonera a produção como alivia
a carga tributária dos consumidores de baixa renda.
O
estudo de Paes analisa os impactos de curto e longo prazo de duas
reformas tributárias alternativas: a primeira, baseada
na Emenda Constitucional 42/2003 proposta pelo governo federal
e ainda em tramitação no Congresso Nacional; e a
segunda, que ele chamou de "proposta técnica",
que condensa idéias de especialistas na área fiscal.
Ambas as propostas acabam com a cumulatividade do PIS e da Cofins,
que deixam de incidir sobre o faturamento das empresas e passam
a incidir sobre o valor agregado do produto. Com isso, deixa de
existir o "efeito cascata" desses impostos que atualmente
incidem desde a indústria de base, como a metalúrgica,
por exemplo, passando pela indústria de peças, até
a produtora final, como a de eletrodomésticos.
Uma
das diferenças, porém, é que a proposta técnica
acaba com as exceções previstas na reforma do governo:
veículos, medicamentos, cigarros e combustíveis,
pela Emenda Constitucional, permanecem no sistema cumulativo;
e telecomunicações, rádio, televisão,
livros, jornais e revistas, por força política,
acabaram excluídos dessa tributação. Outra
diferença é que a proposta do governo prevê
a transferência de metade da contribuição
patronal para o INSS, que atualmente incide sobre a folha de pagamento,
para o valor agregado do produto. Já a proposta técnica
prevê a substituição dessa contribuição
patronal pela Contribuição Social sobre Valor Adicionado,
que englobaria PIS e Cofins. Essa proposta também unifica
ICMS e ISS em um único Imposto sobre Valor Adicionado.
As
duas propostas de reforma tributária analisadas por Paes
reduzem a tributação sobre a renda e aumentam a
tributação sobre o consumo, o que, de acordo com
ele, traz ganhos para a economia do país no longo prazo.
A grande diferença, no que diz respeito aos efeitos das
reformas sobre a distribuição de renda e o bem-estar
das famílias, é que a proposta técnica adota
uma tributação progressiva sobre o consumo adequada
ao poder de compra da população. Segundo o auditor
fiscal, com o auxílio da Pesquisa de Orçamentos
Familiares do IBGE, é possível obter um bom nível
de detalhamento das cestas de consumo de cada grupo de família,
de acordo com a sua faixa salarial.
"A
partir deste detalhamento, é possível determinar
as alíquotas dos impostos sobre o consumo para cada elemento
da cesta, gerando alíquotas diferenciadas para cada agente",
explica o pesquisador da UnB. "Ao tornar o imposto sobre
o consumo mais progressivo, deslocando a tributação
de bens mais básicos, como alimentação, para
bens mais sofisticados e serviços, estamos aliviando o
peso fiscal sobre os mais pobres", completa. Um dos efeitos
dessa mudança no sistema tributário seria, por exemplo,
a isenção de tributos sobre os produtos da cesta
básica. A aplicação desse estudo depende
da retomada de discussões sobre a reforma tributária
no Congresso Nacional.
Leia o trabalho
completo premiado na edição 2004 do Tesouro
Nacional