PIB cresceu, mas qualidade de
vida não é garantida
O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
anunciou ontem, dia 02, que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro
teve, em 2004, o maior crescimento nos últimos dez anos.
Em relação a 2003 houve um crescimento de 5,2% sendo
que, naquele ano, foi de apenas 0,5%. O PIB é a soma de
todas as riquezas produzidas pelo país em um ano. Seu cálculo
é feito sob a ótica da produção, da
demanda, da renda e dos impostos. Cada setor da economia (serviços,
agropecuária e indústria), tem um peso específico
no valor total. Apesar das comemorações com o resultado,
a relação entre crescimento do PIB e melhoria da
qualidade de vida das pessoas não é uma equação
simples.
Para
o geógrafo da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hélio
de Araújo Evangelista, o rebatimento desse crescimento
estatístico, em termos de melhoria de qualidade de vida,
é muito mais lento. "A economia cada vez mais se concentra
em setores ou em certas empresas. Relativamente seu ganho em rentabilidade
é muito alto em relação ao seu custo na forma
de salário que é exatamente o item no qual se daria
a melhoria de vida das pessoas", ressalta.
Proporcionalmente,
um avanço estatístico não tem relação
direta com um beneficio social, ou seja, os setores crescem sem
gerar tantos empregos. Segundo análise do economista Márcio
Pochmann, do Centro de Estudos de Economia Sindical e do Trabalho,
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Brasil precisa
crescer entre 5 e 5,5% nos próximos cinco anos para gerar
emprego suficiente aos 2 milhões de novos trabalhadores
que chegam anualmente ao mercado de trabalho e ainda absorver
os desempregados.
Apesar
do crescimento do PIB brasileiro ter sido atribuído ao
aumento do consumo interno, a renda média do trabalhador
está diminuindo: o rendimento médio real do trabalhador
caiu 0,8% nas seis regiões metropolitanas, onde é
feita a pesquisa, conforme divulgado pelo IBGE em 2004. Apesar
do crescimento do PIB não trazer benefícios sociais
diretamente, Evangelista ressalta que a estagnação
seria bem pior. "De certo modo, o alavancamento da chamada
economia formal traz repercussões que acaba afetando a
própria economia informal. De um lado a economia se torna
muito mais enrijecida, os setores cada vez mais configurados,
os oligopólios cada vez mais criam fronteiras para a inserção
de empresas menores. Por outro lado, o fato de haver crescimento
traz uma repercussão na chamada economia que agrega muito
o valor trabalho".
Classificação dos países de acordo
com o PIB
1º |
E.U.A |
9º |
Canadá |
2º |
Japão |
10º |
México |
3º |
Alemanha |
11º |
Austrália |
4º |
Reino Unido |
12º |
Brasil |
5º |
França |
13º |
Índia |
6º |
Itália |
14º |
Coréia |
7º |
China |
15º |
Holanda |
8 |
Espanha |
16º |
Rússia |
Entre os emergentes, o pior desempenho
Considerando os últimos dez anos o PIB do Brasil te vê
um crescimento médio de 2,4%, uma posição
lanterninha entre os emergentes. A China cresceu uma média
de 8,61% ao ano, a índia cresceu 6% e a Rússia 2,95%.
Com uma analise apenas de 2004 esses paises cresceram mais do
que o Brasil - China 9,5%, Índia 6,5% e Rússia 7,1%.
A
dívida pública brasileira e seu endividamento externo
são apontados no relatório sobre o Brasil, Rússia,
Índia e China (BRICs) como obstáculos para crescer
como os outros emergentes. O documento foi publicado em outubro
de 2003 pelo Banco de Investimentos Goldman Sachs. Além
disso, a baixa taxa de investimento externo que no Brasil é
de 20% e na China de 40% do PIB e a pequena abertura ao comércio
internacional, também são apontados como empecilhos
ao crescimento econômico. Nesse sentido, apesar do crescimento
do PIB, as dívidas brasileiras permanecem.
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Legenda:
1 - Alemanha; 2 - Reino Unido; 3 - Japão; 4 - EUA;
5 - Brasil; 6 - Argentina; 7 - China; 8 - Índia;
9 - Rússia.
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