Ciência ainda contribui pouco com
produção de orgânicos
Apesar
da produção de alimentos orgânicos aumentar
no país, e o mercado consumidor ganhar cada vez mais adeptos,
a ciência ainda contribui pouco para que a agricultura orgânica
amplie sua produção e se consolide como uma prática
sustentável em termos econômicos e ambientais. Especialistas
acreditam que isso acontece devido à estreita relação
entre pesquisa agrícola e interesses de mercado, ao reduzido
investimento em pesquisas e produção na área
e a descrença generalizada no potencial da agricultura
orgânica. "Enquanto o espaço de pesquisa em
agricultura orgânica for reduzido, em comparação
com a convencional, dificilmente se obterá melhores resultados
no campo e preços mais baixos no mercado", conclui
Ademar Romeiro, do Instituto de Economia da Unicamp e chefe-geral
da Embrapa Monitoramento por Satélite, em São Paulo.
A
agricultura orgânica envolve o resgate de técnicas
antigas, tais como a rotação de culturas e
o consórcio, que respeitam dois princípios
básicos: a manutenção da biodiversidade
e a promoção da reciclagem adequada de nutrientes.
Já foram encontradas culturas camponesas que sobreviveram
até 3000 anos em um mesmo lugar, o que indica que
essas técnicas possuem uma sabedoria acumulada empiricamente
que, na opinião de Romeiro, não deveria ser
desperdiçada.
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A
agricultura orgânica no país tem crescido em média
20% ao ano, tanto em volume de produção, quanto
em número de produtores, informou o Instituto
Biodinâmico. O Brasil já produz uma ampla gama
de produtos orgânicos, desde hortaliças a grãos
como a soja, milho e café, e frutas exóticas, como
mamão, banana, manga e inúmeras nativas da Amazônia.
Além disso, aumentam também os produtos de origem
animal como carne bovina, queijos, ovos e leite, disponíveis
no mercado.
Embora
esse quadro seja animador, apenas 3% do território brasileiro
está voltado para a produção de orgânicos,
muito pouco quando comparado com a Áustria, que tem cerca
de 20% de seu pequeno território ocupado com agricultura
orgânica. Todo esse crescimento tem estimulado a comunidade
científica a desenvolver pesquisas na área, mas
"ainda existem poucos projetos em relação à
demanda" reclama a engenheira agrônoma Maria Urbana
Correa Nunes da Embrapa Tabuleiros Costeiros em Sergipe.
Para
o economista Ademar Romeiro, o principal motivo que leva a agricultura
orgânica a ter uma inexpressiva participação
nas agendas de pesquisa está relacionado "à
história das pesquisas agrícolas que sempre estiveram
fortemente atreladas ao mercado. No início, vinculadas
apenas aos interesses dos produtores e, mais tarde, somando-se
aos das indústrias de insumos agrícolas, como fertilizantes
e agrotóxicos".
Outro
aspecto, levantado por Maria Nunes, é a resistência
que a agricultura orgânica encontra dentro da própria
comunidade científica e entre os produtores, devido, em
grande parte, a falta de conhecimentos e de experiência
com essas práticas. "Todos aprenderam a agricultura
química; houve uma ampla propaganda de suas técnicas
e resultados. Já em relação aos orgânicos,
o que se percebe é uma grande falta de informações
que leva, por exemplo, a afirmação freqüente
de que esse tipo de agricultura é somente para pequenas
escalas", desabafa a pesquisadora. No Instituto Biodinâmico,
por exemplo, existem grandes fazendas cadastradas, com cerca de
11 mil hectares, produzindo soja orgânica já certificada.
Para
os especialistas, um maior investimento em pesquisas e projetos
na área, como aconteceu com a agricultura convencional,
possibilitará resultados ainda melhores. A engenheira agrônoma
avalia que, em dois anos de projeto no estado de Sergipe, já
é possível perceber um aumento na produção
e no mercado consumidor, bem como uma maior procura dos pesquisadores
por parte dos agricultores; tanto para obtenção
de informações quanto para desenvolvimento de projetos
conjuntos. "Percebemos uma maior sensibilidade para essas
tecnologias, embora ela apareça depois de acontecimentos
indesejados. A maioria dos agricultores que faz parte das nossas
associações tem histórias tristes em suas
famílias de intoxicação por agrotóxicos",
lamenta.
Atualmente,
Maria Nunes e outros pesquisadores atuam em 14 comunidades, com
cerca de 10 a 20 famílias cada uma, sendo que três
delas são assentamentos rurais, desenvolvendo um projeto
de manejo adequado da fertilidade do solo para hortaliças
orgânicas e outro que busca gerar renda alternativa em pequenas
áreas, associando hortaliças e plantas aromáticas;
estas últimas já têm comercialização
garantida para uma fazenda que produz chá orgânico
na região. A aproximação entre acadêmicos
e agricultores acontece principalmente nas atividades (palestras,
encontros e oficinas) na escola agrícola de Estância,
onde só estudam produtores e seus filhos.
Custos
elevados
Para
que o agricultor aumente o valor agregado de seus produtos e tenha
credibilidade no mercado, ele necessita de uma certificação
que, geralmente, resulta em aumento dos custos da produção
em torno de 2%. Esse custo, e as exigências das certificadoras,
algumas vezes chegam a inviabilizar as iniciativas de pequenos
agricultores e pequenas agroindústrias.
A
pesquisadora da Embrapa conta que os custos com a certificação
estão freqüentemente na pauta de discussões
pois, no caso dos produtores sergipanos, são ainda maiores
porque a certificação deve ser adquirida fora do
estado. Na opinião de Maria Nunes, uma saída viável
que estimularia os produtores, seria a criação de
um subsídio estadual para uma certificação
a custos reduzidos, ou até sem custos, para os produtos
orgânicos.
Certificação
Existem dois tipos de certificação: um feito
por entidades certificadoras, como o Instituto Biodinâmico,
o único genuinamente brasileiro que dá certificação
para exportação, e o Minas Orgânico.
Essas entidades realizam periodicamente auditorias e enviam
fiscais até as propriedades em períodos e
condições que variam de acordo com as normas
de cada entidade. Existe também a certificação
participativa, como a praticada pela rede Ecovida, em Santa
Catarina e a Coolméia no Rio Grande do Sul. Neste
caso, um grupo de agricultores se reúne e cada um
fiscaliza o outro.
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Saiba
mais:
-
Edição sobre Agricultura
Orgânica da revista ComCiência
-
Pesquisador
aposta no modelo agroecológico
-
Diretrizes
para produção, processamento, rotulagem e comercialização
dos alimentos orgânicos