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Mulheres cientistas se destacam
em prêmio mundial


Nos últimos anos, o Brasil tem marcado presença nas premiações da L´Oreal e Unesco de incentivo a mulheres na ciência. No dia três de março, a física carioca Belita Koiller foi até Paris receber seu prêmio de US$100 mil pela suas contribuições teóricas à física com sua pesquisa sobre elétrons presentes em materiais desordenados. "O prêmio demonstra a liderança do país na América Latina", acredita a premiada. Criado em 1998, a L´Oreal e Unesco já reconheceram a pesquisa de outras duas brasileiras, em anos anteriores.

"Foi realmente emocionante ver que o Brasil apesar de todas as dificuldades pode produzir pesquisadoras como a Profa. Belita Koiller e jovens pesquisadoras como a Michelle de Oliveira", afirma Márcia Barbosa, física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que foi uma das juradas da premiação. Oliveira foi uma entre 14 jovens cientistas que foram contempladas com uma bolsa de estudos no valor de US$ 20 mil para continuar desenvolvendo sua pesquisa sobre câncer de fígado em uma instituição de pesquisa no exterior de sua escolha. A L´Oreal e Unesco pretendem melhorar a posição da mulher na ciência através do reconhecimento do trabalho de pesquisadoras nos cinco continentes.

Antes da física Koiller, conquistaram o prêmio, a bioquímica Lucia Mendonça Previato (2004), da UFRJ, por suas contribuições no entendimento do mecanismo do parasita-hospedeiro da Doença de Chagas, e a geneticista Mayana Zatz (2001), da USP, por seu trabalho sobre distrofia muscular.

Eleita duas vezes para o conselho da Sociedade Brasileira de Física (SBF), a física premiada concorre para o cargo também neste ano, contribuindo para uma participação mais ativa na comunidade de físicos, cuja área de trabalho é a que apresenta as maiores diferenças de gênero na ciência. Estimativas dão conta que a física conta apenas com 10% de cientistas mulheres em sua composição, quadro que se repete no resto do mundo.

No Brasil, a SBF possui uma Comissão de Gênero que leva a temática para discussões nos encontros científicos. Entre as principais lideranças estão Márcia Barbosa e Elisa Baggio-Saitovitch, que organizaram no final do ano passado a primeira Conferência de Mulheres Latino-Americanas nas Ciências Exatas e da Vida. Na ocasião, as cerca de cem participantes assinaram um documento, direcionado aos dirigentes e membros de sociedades científicas, universidades e governos, mostrando os principais obstáculos e soluções para tornar a participação das mulheres mais igualitária no meio científico.

De 23 a 25 de maio, o Rio de Janeiro abrigará a Segunda Conferência Mundial IUPAP de Mulheres Físicas, também organizada pelas físicas Barbosa e Saitovitch, com o objetivo de "entender a severa baixa-representatividade da mulher na física ao redor do mundo e tentar desenvolver estratégias para aumentar a sua participação" nesta disciplina.

Retrato da mulher
Desde 1901, o prêmio de maior status no meio científico, o Nobel, premiou apenas 12 mulheres (4%) dentre os mais de 300 premiados nas áreas de física (2), química (3) e medicina (7), reproduzindo a dificuldade das cientistas se destacarem profissionalmente. A proporção de todas as premiadas, entre os 770 prêmios já distribuídos, não muda (4,4%), mesmo quando a participação delas cresce nas categorias Paz (12) e Literatura (10).

Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres ainda ganham, em média, 30% a menos que os homens no Brasil, mesmo estudando dois anos a mais. Mas é possível visualizar uma mudança a médio prazo nesse quadro. O Ministério da Educação e pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres divulgou pesquisa que revela que o número de professoras com título de mestre ou doutor no país cresceu, de 1996 a 2003, bem acima do cenário masculino. O aumento de professoras com doutorado foi de 104% versus 69,2% de professores, e no caso do mestrado este crescimento foi de 119,4% ante 106,1%. As mulheres também são maioria no total de matrículas do ensino superior, 56,3%, de acordo com dados divulgados em 2004 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Esse número chega a 62,4% do total que conclue o ensino universitário. Estando mais qualificadas e apoiadas com políticas de ação afirmativa, as cientistas esperam que a chamada estrutura em pirâmide - a diminuição da participação feminina conforme aumentam a hierarquia das carreiras -, desapareça.


Leia mais sobre mulheres na ciência:

- Reportagem da ComCiência

- Encontro pioneiro de mulheres cientistas leva documento base para autoridades

- Medidas deverão impulsionar participação de mulheres na ciência

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Atualizado em 08/03/05
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