BNDES aponta desvantagem do Brasil em
setores que mais utilizam tecnologia
A
revista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) publicou, na sua última edição,
um artigo
que aponta desvantagem competitiva do Brasil em setores de uso
médio e alto de tecnologia, com exceção para
automóveis e aviões. O artigo analisou, por meio
de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 1996 a 2002, diferentes setores da economia e calculou
em quais setores o Brasil apresenta vantagens comparativas especificamente
no comércio exterior, a partir do desempenho comercial
de cada um deles. Para o pesquisador João Furtado, da Unesp
de Araraquara, o resultado da pesquisa deve ser analisado com
cautela, já que a indústria brasileira apresenta
possibilidades de crescimento e expansão, inclusive em
setores que demandam tecnologia.
Considerando
também os setores de baixo uso de tecnologia, a pesquisa
do BNDES identificou cinco setores da indústria em situação
de "vantagem comparativa", ou seja, com grande potencial
de exportações: alimentos e bebidas, automóveis,
aviões e transportes, metalurgia e couro e calçados.
O setor agropecuário também aparece em vantagem
em relação à indústria como um todo.
Entre os que apresentam desvantagens, estão os de máquinas
e equipamentos, material eletrônico e de comunicação
e material elétrico. Um fator agravante é que estes
três setores apresentaram maior dinamismo no comércio
internacional desde 1997, ou seja, podem ser considerados comercialmente
estratégicos. Além disso, pesa o fato de que empresas
de alta tecnologia são consideradas difusoras de inovação
tecnológica e de uma conseqüente modernização
do sistema produtivo. A avaliação foi feita a partir
de um índice de vantagens comparativas reveladas (VCR),
que leva em consideração o PIB, o saldo comercial
de cada um dos setores e sua inserção no montante
comercial do país.
Segundo
Furtado, que recentemente coordenou o projeto Diretório
da Pesquisa Privada (DPP), responsável pelo mapeamento
dos investimentos em inovação tecnológica
de empresas e de ONGs, a obtenção destes índices
não deve ser vista com muita preocupação.
Para ele, o fato do Brasil não ser um país de tecnologia
avançada, o que está ligado à crise econômica
da década de 80, deve ser minimizado: "Não
somos um país de tecnologia avançada, mas quantos
são os países que detêm tecnologia avançada?",
questiona. Para o pesquisador, a economia brasileira tem uma série
de cadeias produtivas integradas desde a base dos recursos naturais,
com uma sucessão de etapas industriais articuladas entre
si e com enorme densidade em termos de agregação
de valor e de trabalho qualificado, como o setor de couros e calçados,
por exemplo.
O
pesquisador afirma que alguns sinais positivos em relação
à competitividade da indústria brasileira já
podem ser visualizados, especialmente se levada em consideração
a heterogeneidade de alguns setores, como o de metalmecânica.
"Os carros e aviões são os exemplos mais visíveis
de uma indústria metalmecânica excepcionalmente complexa,
diversificada, integrada e competitiva", afirma. Para Furtado,
os setores de carros e aviões parecem isolados, mas beneficiam-se
das competências de inúmeros pontos de um vasto sistema
industrial existente hoje no Brasil. Para o economista, isto permite
pensarmos novas perspectivas para a indústria brasileira.
"Se a indústria tiver cinco anos de estabilidade e
macroeconomia saudável, incluindo uma política adequada
de câmbio e juros, ela mostrará um vigor sistêmico
que hoje parece pontual", conclui.
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