Livro conta história das transposições
viárias da Serra do Mar
O
desmatamento nas florestas brasileiras é um assunto de
tirar o sono de sociedade e governo. Seja por um desenvolvimento
tecnológico limitado, pelos altos custos na implantação
de sistemas que minimizem esses impactos ou pelo descaso com as
causas ambientais, cotidianamente a imprensa nacional e internacional
denuncia áreas que estão sofrendo vários
tipos de degradação por atividades como construção
de rodovias, agricultura, pecuária e exploração
ilegal de madeiras. É justamente essa a discussão
apresentada no livro A grande barreira da Serra do Mar - da
trilha dos Tupiniquins à rodovia dos Imigrantes, do
geólogo da Universidade de São Paulo (USP), Álvaro
Rodrigues dos Santos, Geólogo da Universidade de São
Paulo (USP). De acordo com ele, o objetivo da obra é expor
a evolução dos conhecimentos geológico-geotécnicos
nas diversas fases de transposição viárias
entre a Baixada Santista e o Planalto.
Um
exemplo é a área da Mata Atlântica que, no
início da chegada dos colonizadores, cobria cerca de 12%
do território nacional, o que correspondia a 1 milhão
e 290 mil quilômetros quadrados. Com as sucessivas intervenções
do homem, como as transposições viárias,
mais de 92% do original foi extinto. Após séculos
de degradação, atualmente todo o domínio
da Serra do Mar (que é uma parte da Mata Atlântica),
está sobre proteção ambiental. A evolução
tecnológica e da consciência ambiental devem contribuir
para que esse quadro de devastação reduza.
Para
Santos, as transposições viárias da Serra
do Mar resultaram em um enorme custo social, fato que poderia
ter sido reduzido. O autor faz uma análise das primeiras
vias de transporte no século XVI e as que existem atualmente,
destacando as fases tecnológicas a que foram submetida
cada uma delas. As primeiras trilhas foram traçadas pelos
índios Tupiniquins e, de acordo com Santos, visavam não
prejudicar o meio natural, por exemplo, sem grandes derrubadas
de árvores. As trilhas eram usadas para manter intercâmbio
com outros indígenas da região.
Fases |
Dias |
Bases
Tecnológicas |
Primitiva |
Trillha
dos Tupiniquins
Caminho do Padre José
|
Picada
Batida |
Ingênuo-voluntarista |
Novo
Caminho do Cubatão |
Picadão |
Racional-1 |
Calçada
do Lorena |
Estrada
Ziguezagueando o Espigão |
Heróico-voluntarista |
Estrada
da Maioridade
Caminho do Mar
Anchieta
E.F. Santos Jundiaí
E.F. Sorocabana
|
Cortes
de Meia Encosta |
Racional 2 |
Imigrantes
|
Túneis e Viadutos |
Fonte:
SANTOS, Álvaro Rodrigues dos,. A grande barreira
da Serra do Mar. Da trilha dos Tupiniquins à rodovia
dos Imigrantes. SP. O Nome da Rosa. 2004. p. .55
|
Com o crescimento da população e a mudança
na dinâmica do espaço, imprimiu-se uma nova relação
entre o homem e o meio natural. Sem a preocupação
de preservar o meio natural, a busca pelo progresso sempre foi
a diretriz básica para o desenvolvimento. Porém,
Santos garante que essa forma de pensar o espaço tem apresentado
mudanças: "Houve um avanço na consciência
ambiental da sociedade e desenvolveu-se uma cultura de preservação
e uma legislação ambiental mais efetiva. O desenvolvimento
tecnológico proporcionou que as intervenções
na Serra do Mar agredissem em menor grau o meio ambiente".
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O
autor cita o exemplo da construção da Rodovia dos
Imigrantes, que liga a capital ao litoral sul do Estado de São
Paulo. A rodovia teve a sua primeira pista inaugurada em 1976,
marcada por um "paradoxo conceitual" entre a filosofia
do projeto e os cuidados tecnológicos especiais que deveriam
minimizar os impactos. "Se naquela época estivessem
disponíveis os conhecimentos sobre a dinâmica externa
da Serra, e em vigor as normas legais que hoje regulam a questão
ambiental, seguramente a obra não seria permitida ou seria
embargada", afirma. A evolução nesse tipo de
obra veio com a construção da segunda pista da Rodovia
dos Imigrantes, em 2002: os 3 túneis e nove viadutos construídos
reduziram em 40 vezes a área da Mata Atlântica afetada
pela obra, em relação aos trabalhos da primeira
pista.
Os
avanços são recentes e, de acordo com Santos, a
Serra do Mar está "razoavelmente livre das agressões
e ameaças de que sempre foi vítima desde o descobrimento
do Brasil". Para ele, o conhecimento técnico-científico
é fundamental para que as futuras intervenções
humanas na Serra como túneis estradas, viadutos, dutos,
etc., sejam feitas com o mínimo de agressão condições
geológicas e ecológicas naturais.