Antiinflamatórios causam polêmica
e dividem pesquisadores
O
último número da revista científica britânica
The Lancet traz um artigo afirmando que o princípio
ativo Rofecoxib, presente na formulação de antiinflamatórios
como o Vioxx (proibido no Brasil desde setembro de 2004), aumenta
o risco de doenças do coração se comparado
a outro princípio ativo, o Celecoxib. De acordo com o artigo,
o Naproxeno, outro princípio presente em antiinflamatórios,
não protege contra doenças do coração,
como afirmava um outro estudo conduzido pela Faculdade de Medicina
de Harvard (EUA), em 2002.
O
artigo,
de autoria de David J. Graham, em parceria com pesquisadores da
Universidade de Vanderbilty (EUA), traz a pesquisa que, segundo
matéria do jornal The Economist, incitou seu testemunho
sobre os riscos do medicamento Vioxx, em novembro de 2004. Graham
é médico e um dos diretores associados da divisão
de ciência e medicina da FDA (agência americana de controle
de remédios e de medicamentos), também envolvida na
polêmica.
A
pesquisa utilizou dados de pacientes com idade entre 18 e 84 anos,
tratados com antiinflamatórios, entre janeiro de 1999 e dezembro
de 2001. Os dados utilizados são da empresa de planos de
saúde Kaiser Permanente, da Califórnia (EUA). Além
das conclusões comparativas entre Rofecoxib e Celocoxib,
e sobre o Naproxeno, o The Economist afirma que a equipe
de pesquisa de Graham contraria um recente estudo lançado
pela empresa farmacêutica Merck, que sugeria que os problemas
causados pelo Vioxx começavam a aparecer após um ano
e meio de tratamento com o remédio. Graham argumenta que
já existe um risco elevado desses problemas a partir de quatro
meses de uso.
Após
o caso do Vioxx, uma série de pesquisas sobre seus componentes,
em especial aqueles que inibem a enzima ciclo -oxigenase 2 (Cox-2)
tem sido publicadas e muitas vezes contradizem-se. A mesma matéria
da The Economist descreve um pequeno estudo de Fadia Shaya,
professora e diretora associada do Centro sobre Drogas e Políticas
Públicas, da Universidade de Maryland (EUA), publicado na
revista Archives of Internal Medicine, afirmando que
não há aumento de riscos de doenças do coração
entre as pessoas que utilizam medicamentos que contenham inibidores
de Cox-2. (Veja Box)
Polêmica
Os medicamentos da empresa Pfizer, Bextra (principio ativo Valdecoxib)
e Celebra (princípio Celecoxib), que tem inibidores da enzima
Cox-2, também estão criando polêmica. A revista
Circulation, da Associação Americana do Coração,
publicou um editorial que sugere que tais medicamentos estão
relacionados ao aumento da incidência de ataque cardíaco
e derrame. A empresa Pfizer negou, declarando que não há
estudos que comprovem isso. Mas a ONG norte-americana Public
Citizen baseou-se em estudos para encaminhar no dia 24 de
janeiro uma petição para a FDA pedindo a retirada
desses medicamentos do mercado.
No
Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) determinou através da resolução nº
1.576, em setembro de 2004, a suspensão cautelar, de todos
os medicamentos que contenham em sua composição o
princípio ativo Rofecoxib, em todas as suas apresentações.
Já
com relação aos outros medicamentos que contêm
em sua composição inibidores da enzima Cox-2, a Anvisa
diante da atual polêmica, recomendou para todas as empresas,
que desenvolvem tais inibidores, um relatório internacional
de segurança dos medicamentos, que falem da vida desses produtos
nos países em que são utilizados, ou seja, abordando
como ele se desenvolveu tecnicamente no organismo humano.
Além
disso, a Anvisa também vem acompanhando relatórios
e posicionamentos de agências de outros países e as
análises da bibliografia publicada no meio científico
para saber mais sobre essas substâncias e revisar o processo
de registro dos medicamentos que possuem o inibidor Cox-2. Até
o momento, a Anvisa não está recomendando a precaução
na prescrição desses medicamentos.
Entenda
a ação dos antiinflamatórios
As enzimas Cox 1 e Cox 2 estão relacionadas com o
processo inflamatório. A Cox 1 exerce funções
fisiológicas no organismo, como manutenção
de tecidos lesados, agregação plaquetária
e proteção da parede do estômago contra
acidez excessiva, existindo uma concentração
basal dessa enzima nas células. Quando ocorre uma
lesão, o organismo libera ácido araquidônico
e a Cox 1 transforma esse ácido em prostaglandinas,
substâncias sensibilizadoras do local lesado. Surge,
então, a Cox 2 respondendo a essa agressão
através de dor, edema e inchaço local. A Cox
2 também apresenta funções fisiológicas,
como proteção dos rins e na reprodução
humana. Bloquear totalmente a atividade das duas enzimas
pode trazer sérias conseqüências ao organismo,
como efeitos nefrotóxicos, problemas intestinais
e úlceras, tanto que muitos antiinflamatórios
devem ser ingeridos após as refeições.
(Informação integralmente retirada do site
da USP).
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