Setor de máquinas e equipamentos comemora 2004, mas vê 2005 com ressalva
O setor de máquinas e equipamentos teve desempenho recorde em 2004. Segundo dados da Associação Brasileira de Máquinas (Abimaq), foram gerados 24.248 novos postos de trabalho e o faturamento chegou a R$45,6 bilhões, 30% acima do ano anterior. Outro destaque foram as exportações, que cresceram 38,5% e possibilitaram um equilíbrio na balança comercial do setor, o que não ocorria desde 1993. Este desempenho representa uma média geral de um dos mais heterogêneos da economia e, embora comemorem os resultados obtidos, os empresários estão apreensivos em relação ao ano de 2005. Segundo o engenheiro mecânico Lourenço Righetti, vice-presidente da Câmara Setorial de Válvulas Industriais da Abimaq, a continuidade deste ritmo de crescimento está condicionada ao preço do aço no mercado internacional, ao valor do Real frente ao Dólar e à taxa de juros estabelecida pelo Governo Federal.
Um dos fatores a serem considerados é o preço do Dólar, atualmente muito baixo (por volta dos R$2,60). "O Dólar neste valor preocupa o setor como um todo porque teremos que enfrentar a concorrência de produtos importados", afirma. Também deve haver uma diminuição das exportações, porém mais restrita. "O número de exportadores de máquinas e equipamentos ainda é relativamente pequeno, pois a concorrência com produtos de tecnologia mais avançada ainda é muito violenta", completa. De acordo com diversos analistas, no entanto, a perspectiva de alta de juros nos EUA, em 2005, apresentada pelo Banco Central norte-americano, deve conter a fuga de investidores da moeda e aumentar seu valor.
No Brasil, juros altos
O valor do Dólar está diretamente associado a outra variável relevante para o setor, que é a taxa de juros fixada pelo Governo Brasileiro. O efeito da alta da taxa de juros é considerado brutal para os bens de capital como um todo. "O nosso faturamento é inversamente proporcional à alta da taxa de juros", afirma o engenheiro. Considerado um termômetro da produtividade no país, os bens de capital crescem quando aumenta o consumo e a produção.
Já o preço do aço, que dobrou em 2004, está diretamente associado ao mercado da China. "Os chineses não compram produtos com valor agregado, mas sim matérias-primas como o aço, o que eleva o valor do produto". Tudo indica que o governo chinês deverá tomar algumas medidas para reduzir o crescimento econômico, o que poderá repercutir na demanda (e no preço) do aço no país. Mesmo assim, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), prevê um aumento de 5% no preço do aço.
Outro fator que deve ser considerado ao analisar o bom desempenho de 2004 é a realidade do conjunto do setor como um todo. Lourenço Righetti cita que várias empresas que estão ligadas ao agronegócio chegaram a crescer 100%, enquanto o setor de válvulas industriais, que ele representa, cresceu cerca de 20 a 30%. Apesar da perspectiva de manutenção do crescimento em 2005, o engenheiro lembra que estamos em um momento de transição e de recuperação da economia. "As empresas brasileiras estão recuperando índices de produtividade de 10 anos atrás e utilizando a capacidade ociosa. Daqui em diante, terão que investir em infra-estrutura, o que mostrará se entraremos em um crescimento sustentado ou não", conclui.
De acordo com o pesquisador do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) da Unicamp, Sérgio Queiroz, o governo também poderia auxiliar o ramo de bens de capital por meio de mecanismos específicos de financiamento. "Como estamos falando de um setor fornecedor da indústria, a compra de equipamentos sempre vem acompanhada de um pacote de financiamento", diz. Nesse sentido, ele sugere que o governo ofereça linhas de crédito para viabilizar um maior número de negócios na área.