Estudo revela a civilização mais antiga da América,
localizada no Peru
A academia arqueológica internacional anda em alvoroço
desde a publicação de um artigo
na última edição de 2004 da revista científica
inglesa Nature. Os autores do artigo, pesquisadores da
Universidade de Illinois (EUA), descobriram a civilização
mais antiga e avançada da América na região
do Norte Chico, a 200 km ao norte de Lima, capital do Peru. Baseada
primordialmente na agricultura, essa população possuía
construções complexas e pelo menos 20 centros residenciais
com rica arquitetura. A descoberta contrapõe a teoria de
que a civilização na América começou
na região costeira, com economia baseada na pesca.
A
área onde foram feitas as descobertas está dispersa
nos vales dos quatro rios da região: Fortaleza, Pativilca,
Huaura e Supe. A área tem 20 sítios arqueológicos,
dos quais 13 foram datados pelos pesquisadores entre 2002 e 2003
- sete no vale de Fortaleza e seis no vale de Pativilca. Desses,
11 foram ocupados durante o período Arcaico Tardio, entre
3 mil (ascensão da sociedade) e 1.800 anos (declínio)
antes de Cristo (a.C.). Apenas 10 das 95 datações
feitas são de 3.500 anos a.C. ou mais, pertencendo ao período
Médio Arcaico. A mais antiga de todas é de 9.210
anos a.C.
Os
sítios encontrados variam entre 10 e 100 hectares cada
e possuem arquitetura complexa. Existem pelo menos 20 centros
residenciais com prédios de até 26 metros de altura,
praças circulares de 20 a 40 metros de diâmetro entre
as construções e pirâmides de até 100m3.
Os pesquisadores também identificaram nas construções
uma rica arquitetura residencial, com assoalhos de pedra nas casas,
poços de água, além de avançados sistemas
de irrigação para a agricultura.
A
civilização de Norte Chico não deixou registros
rupestres, nem esculturas ou peças de arte. De acordo com
os pesquisadores, a ausência desses itens pode ter preservado
os locais de saqueadores, apesar da atividade turística
presente na região. Mesmo com a ausência de arte,
algumas figuras antropomórficas encontradas nas construções
podem revelar a presença de religiosidade entre os habitantes
do local, de acordo com os pesquisadores.
Mesmo
longe de saqueadores, a preservação dos sitos do
Norte Chico ficou comprometida devido às atividades econômicas
da região: os sítios de Carretería, de Pampa
San Jose e Vinto Alto, que ficam no vale do rio Pativilca, possuem
atualmente fazendas com atividades agrícolas. Nesses sítios
foram feitas datações que variam de 2.583 a 1.850
anos a.C. Os pesquisadores acreditam que os sítios de Carretería
e de Pampa San Jose tenham sido ocupados na mesma época.
A distância entre eles é de um quilômetro.
Já no vale do rio Fortaleza, 80% da área do sítio
Shaura está comprometida devido a uma atividade mineradora
para construção de uma estrada. O sítio possui
dois montes, uma praça circular (visível inclusive
em fotografias aéreas) e uma trincheira cravada em um dos
montes, que rendeu apenas duas datações:2.040 e
1.337 anos a.C.
As
pesquisas arqueológicas na região do Norte Chico,
no Peru, ganharam destaque na década de 1980, quando as
primeiras datações sugeriram que a área teria
sido ocupada no período Arcaico Tardio. As escavações
prosseguiram na década seguinte, no vale do rio Supe e
na cidade de Caral, quando a presença de atividades agrícola
neste período começou a ser identificada pelos pesquisadores.
Contando com as datações feitas por arqueólogos
de Illinois, a região já possui 127 datações
feitas por radiocarbono.
O
ano passado foi rico para a arqueologia peruana. Em setembro,
arqueólogos japoneses encontraram um cemitério da
cultura pré-colombiana peruana Huari, há cerca de
500 quilômetros ao norte de Lima. Os pesquisadores calcularam
que o local, que abriga 90 corpos, date de 400 anos antes de Cristo.
No mês seguinte, em outubro, cinco pirâmides foram
descobertas na cidade de Caral, na região do vale do rio
Supe. As pirâmides são compostas por uma série
de plataformas centrais e laterais sobrepostas e suas construções
podem ser comparadas às pirâmides do Egito.