Projeto ajuda adequar caqui às
boas práticas agrícolas
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Silvestre Silva
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Uma fruta que vem adquirindo destaque nos últimos anos na economia paulista é o caqui. O cultivo dessa fruta de origem chinesa tem crescido sensivelmente no estado de São Paulo nos últimos anos, sendo apontada como uma fruta com potencial para crescer na pauta de exportação brasileira. Os paulistas são responsáveis por 58% da produção que já movimenta em torno de 50 milhões de reais por ano, atendendo basicamente ao mercado interno. Um diagnóstico realizado pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) aponta que é preciso adequar a produção da fruta aos protocolos internacionais para ampliar a exportação.
"A produção de caqui cresceu muito nos últimos anos e tem potencial para crescer ainda mais. A exportação ainda é pequena e tem sido feita, principalmente, para a União Européia e Canadá, mas notamos que cresce o interesse dos importadores com relação ao caqui brasileiro", afirmou Eliane Benato, pesquisadora do Ital. Ela coordena uma pesquisa sobre boas práticas agrícolas na pós-colheita do caqui financiada pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que está com a primeira etapa concluída.
As boas práticas agrícolas (ou Good Agricultural Practice - GAP, em inglês) enfatizam a segurança do alimento, qualidade, preservação do meio ambiente e preservação dos direitos dos trabalhadores. O mercado europeu, por exemplo, que é o maior consumidor de frutas frescas brasileiras, vem se tornando cada vez mais exigente em termos de certificações que atestem a sanidade e qualidade das frutas, como o certificado EurepGap.
No Brasil, a fruticultura é um setor estratégico para o agronegócio. O país é o terceiro pólo mundial de fruticultura, com uma produção anual de cerca de 38 milhões de toneladas. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 2003, as vendas externas de frutas frescas alcançaram US$ 335,3 milhões e o setor apresentou um superávit de US$ 267 milhões.
Para melhorar, ainda mais estes números, no entanto, é preciso adequar a produção às exigências do mercado internacional. O sistema de Produção Integrada de Frutas (PIF), por exemplo, foi criado pelo Mapa em setembro de 2001 e vem contribuindo para melhorar a qualidade das frutas brasileiras. A PIF fornece ao agricultor um selo de certificação que atesta um determinado padrão de produção, qualidade e rastreabilidade. A redução do uso de agrotóxicos é uma das metas do PIF e já permitiu, segundo dados do Ministério, uma redução de 63% no uso de agrotóxicos nos pomares de manga, 50% no mamão, 32% na uva e 30% nos pomares na maçã.
No caso do caqui, os resultados da primeira fase do projeto desenvolvido pelo Ital buscam justamente auxiliar a adequação da produção da fruta aos protocolos do PIF e EurepGap. Mas, o diagnóstico traçado nessa primeira etapa mostra que há muito trabalho a ser feito. Os resultados dos questionários feitos nessa fase mostraram que, na maioria dos casos, o caqui não é submetido a tratamentos fitossanitários pós-colheita, não se faz análise periódica da água, não há controle quanto à presença de animais domésticos nos locais de produção, a manipulação e armazenamento de produtos químicos é feita de forma inadequada, os equipamentos, utensílios, caixas de colheita e câmaras de armazenamento não são higienizados periodicamente, há insuficiência de recursos higiênicos sanitários para os trabalhadores, não há treinamento em práticas de higiene pessoal e segurança alimentar para os trabalhadores dos diferentes elos da cadeia produtiva e que, as embalagens e transporte nem sempre são adequados.
Ainda segundo a pesquisa, apesar de não haver registros de ocorrência de surtos por contaminação microbiológica devido ao consumo de caqui, as condições observadas mostram que é de "suma importância a aplicação das boas práticas agrícolas na cadeia produtiva do caqui visando a garantia de qualidade e alimento seguro para o consumidor".
Na segunda fase do projeto, onde devem participar também Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Escola Superior de Agricultura "Luiz Queiroz" (Esalq), pretende-se fazer a transferência de resultados e capacitação por meio de publicações, reuniões e eventos, além da elaboração de um plano de boas práticas agrícolas para a pós-colheita do caqui. "Queremos, com esse projeto, ajudar o setor evoluir em termos de qualidade e conseqüentemente de competitividade", concluiu Benato.