Notícias da Semana

Notícias Anteriores

Eventos
Novembro
Dezembro
2005

Divulgue
seu evento


 


Pesquisa analisa inclusão social promovida por educadoras do Jequitinhonha


Identificar processos de inclusão social e contribuir para a construção de um olhar que supere a "negatividade" na análise da pobreza das camadas populares camponesas são alguns dos objetivos do estudo realizado pela educadora Tânia Ambrizi Gebara, como pesquisa de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), defendida no dia 18 de novembro. O estudo procurou identificar e compreender os processos de inclusão social construídos por mulheres que atuam como educadoras infantis em associações comunitárias de comunidades rurais da região do Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais.

Gebera explica que superar a negatividade na análise da pobreza significa avançar na reflexão que entende a região do Vale do Jequitinhonha apenas como "bolsão de miséria". Assim, é possível reconhecer as potencialidades dos moradores da região, como sujeitos que constroem sua história, possuem uma cultura singular e vivem em uma sociedade contraditória. "É preciso romper com o referencial da falta na análise das questões relativas à pobreza das camadas populares. O equívoco do referencial da negatividade se encontra no fato de conceber as pessoas descredenciadas como sujeitos, constatando-se a realidade da privação", diz ela.

Segundo a pesquisadora, a pesquisa privilegiou uma abordagem etnográfica, utilizando observações, entrevistas e registros em formato de diário de campo, onde foram recolhidos dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo desenvolver uma idéia sobre a maneira como as educadoras interpretam sua condição de trabalhadoras das instituições de Educação Infantil e sua inserção naquele meio social. "Essa metodologia possibilitou a percepção de que embora exista um universo de conformismo, submissão e exclusão, as educadoras distanciam-se da imagem de inferioridade, buscam formas de resistência", afirma Gebara. Esse processo, segundo ela, se dá nas práticas comunitárias, por meio das quais as identidades das mulheres pesquisadas vão se constituindo.

A pesquisa confirmou a hipótese inicial de que nas relações de forma geral e, também nas relações de trabalho, com a família e com a comunidade, as educadoras estão buscando criar condições concretas de inclusão social, ou seja, elaborando um saber e um fazer articulados aos seus interesses. "Esse processo - diz a pesquisadora - se dá quando elas exercem o papel de líderes em suas comunidades e também na creche, espaço comunitário onde estas mulheres entram em cena e ganham visibilidade ao exercerem o papel de educadoras infantis".

A educação para esse grupo é, na visão da pesquisadora, uma experiência que acontece durante toda a vida e no processo de inserção nas atividades comunitárias. "As educadoras vão se percebendo, interiorizando e vislumbrando outras leituras delas mesmas, tecendo sua auto-imagem como educadoras e vivenciando distintas experiências de aprendizagens ao longo do processo de participação na comunidade", diz Gebara.

Moradora da comunidade de Cristal no tear, no município de Minas Novas (MG). Crédito: Levindo Diniz

Dentre os dados coletados, Gebara também ressalta que a fala confere às educadoras o sentimento de serem sujeitos. "Fica claro que a consciência dessa habilidade dá força e motivação a essas mulheres. O falar representa para elas a possibilidade de articulação, aproximação e afastamento em relação aos outros e ao mundo. Para as mulheres pesquisadas, a fala é fortemente manifestada pela música, pela poesia, pelos versos, que são como marcas, signos, elementos reconhecidos e reafirmados pelos setores que atuam próximos delas, que são a igreja e a associação comunitária", explica Gebara.

A religiosidade é, aliás, muito presente na vida das educadoras. De acordo com Gebara, há um sistema ético formulado pelo grupo pesquisado que se fundamenta na tradição religiosa, que aparece como uma fonte de compreensão da realidade, expressão de valores e de organização social. No grupo de mulheres pesquisado, a aproximação com o sagrado e o conhecimento religioso repercutem um sentimento de pertencimento e de reconhecimento também como lideranças religiosas.

A pesquisadora destaca ainda que os dados coletados da trajetória de vida das educadoras foram analisados de forma a superar classificações como as de exclusão/inclusão, conformismo/resistência ou campo/cidade. De acordo com Gebara, essa superação liga-se a uma visão mais ampla da complexidade da sociedade.

Atualizado em 22/11/04
http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2001
SBPC/Labjor

Brasil