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Conferência sobre Tecnologia Social discute desenvolvimento de tecnologias para inclusão


Projetos que envolvem reciclagem de lixo, construção de cisternas em regiões secas, estação compacta de baixo custo para tratamento de esgoto doméstico, agricultura familiar, entre outros, muitas vezes utilizam-se de tecnologias que possuem concepção, desenvolvimento e finalidade diferente das tecnologias convencionais. São adotados modelos de desenvolvimento tecnológico alternativos, baseados na solução de problemas locais, com a participação da comunidade envolvida. Essas tecnologias, que buscam a inclusão social e melhoria na qualidade de vida, são denominadas tecnologias sociais (TS) e foram abordadas na Primeira Conferência Internacional e Mostra de Tecnologias Sociais, que aconteceu semana passada, em São Paulo, junto à terceira edição do BrasilTec- Salão de Inovação Tecnológica.

Na Conferência, foram expostos vários projetos de TS que já acontecem com apoio da Fundação Banco do Brasil através do Banco de Tecnologias Sociais. Apesar do conceito de TS ser relativamente novo, soluções tecnológicas chamadas sociais já são utilizadas em várias regiões do Brasil. "Mas, por serem extremamente simples, nem sempre o status de tecnologia é facilmente conferido", afirma o especialista em políticas públicas e Chefe de Gabinete da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República, Antônio Lassance.

As diversas soluções tecnológicas apresentadas na Mostra de TS mostraram que problemas sociais concretos, que afetam muitas comunidades e regiões brasileiras, podem ser resolvidos com ajuda de tecnologias simples, de baixo custo e com envolvimento da comunidade. "Para que as TSs promovam a inclusão social é primordial o envolvimento da população, a construção conjunta do conhecimento", analisou Paul Singer, coordenador da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes).

O principal problema dos projetos de TS já existentes, segundo a maioria dos participantes da Conferência, é a falta de articulação entre essas iniciativas que acontecem nas mais diversas regiões do país. Seria necessária uma integração para formular soluções conjuntas que possam ser reaplicadas para resolver os problemas nacionais. "A tecnologia social precisa se transformar em política pública e merece uma visão estratégica. Se houver uma demanda social por tecnologias e propostas de soluções o governo deve apoiar", afirmou Luiz Gushiken, Ministro Chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República.

Rede de Tecnologia Social
A Conferência discutiu a importância da ampliação da utilização e desenvolvimento de novas Tecnologias Sociais, dificuldades para esse desenvolvimento, assim como iniciativas para que ele seja possível. Uma das principais iniciativas, já em andamento, é a criação da Rede de Tecnologia Social (RTS) que pretende divulgar projetos de TS e articular agentes interessados em desenvolver novos projetos. Até março de 2005 a RTS deve possuir um site com sistema integrado de informação de livre acesso, sistema integrado de financiamento e divulgação de projetos de TS de maneira geral. Na ocasião também foi divulgado o livro Tecnologia Social: Uma estratégia para o desenvolvimento, que apresenta textos de 16 articulistas sobre TS com objetivos, propostas e marco conceitual para a RTS.

Para Jacques de Oliveira Pena, Presidente da Fundação Banco do Brasil, que desde 2001 promove o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, a RTS deve ampliar a articulação entre os atores e parceiros - como ONGs, universidades, empresas e comunidade - e aumentar o alcance dos projetos de TS. "Esse país rico tem uma dívida social enorme. As pessoas que não estão incluídas têm pressa para encontrar soluções, é esse sentimento de urgência que não podemos esquecer ao buscar articular e viabilizar as TS", salientou Pena.

Na outra ponta, participantes de entidades civis de estados que tradicionalmente sofrem com a "divida social brasileira", ainda olham a TS com certa desconfiança. "A gente gostaria que essas tecnologias realmente chegassem até o povo do nosso estado, mas não temos confiança para chegar falar sobre RTS em nossa comunidade. Sempre vemos projetos que começam e depois são largados pela metade ou desviados", questionou Walter Pereira Santos, secretário geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) do Amapá, após ouvir o segundo dia da Conferência.

Atualizado em 24/11/04
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