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Quem baixa filmes e músicas quer oferecer
e colaborar, revela estudo


Eles não têm olho de vidro, perna-de-pau e nem andam com um papagaio no ombro. Mesmo assim, a indústria da música e do cinema insiste em chamá-los de piratas e em afirmar que são os grandes vilões da internet. Mas um estudo publicado neste mês pela revista eletrônica First Monday mostra justamente o contrário. A motivação dos usuários de programas de compartilhamento de arquivos como o Kazaa e o SoulSeek, que permitem baixar e oferecer arquivos de música e vídeo com outras pessoas, não estaria só em pegar arquivos de graça, mas também em compartilhar seu acervo. A conclusão é dos pesquisadores Kevin McGee e de Jorgen Skageby, da Universidade de Linkoping, na Suécia, no artigo Gifting Technologies.

Os pesquisadores freqüentaram e analisaram, por seis meses, listas de discussão de usuários dos sistemas P2P - sigla para ponto-a-ponto, a tecnologia que permite a troca direta de arquivos na internet - e entrevistaram mais de 100 desses usuários. O objetivo era entender o fenômeno da troca de arquivos na rede a partir de trabalhos anteriores que falam da troca ou do ato de dar presentes como um fenômeno social. O que os autores descobriram é que não é possível reduzir a ocorrência da dádiva na internet - que acontece nos programas de P2P - nem a um "roubo", em que as vítimas são os detentores dos direitos autorais, nem meramente a uma troca interessada, em que os sujeitos só compartilham porque estão interessados também em baixar arquivos.

O estudo mostra que não basta a indústria criar mecanismos tecnológicos para que as pessoas usufruam legalmente de bens culturais na Internet; será preciso também levar em conta o desejo que elas têm de ajudar e oferecer arquivos a outros. Nos últimos dois anos, a indústria do entretenimento tem promovido uma verdadeira cruzada contra os usuários dos programas de P2P. As ações vão desde multas até a prisão e os métodos incluem a espionagem eletrônica de usuários.

Indústria age com truculência
A onda de processos movida pela indústria da música começou em setembro de 2003. Até agora, pelos cálculos da Fundação da Fronteira Eletrônica (EFF, em inglês), entidade que luta pela legalização do compartilhamento de arquivos), já são mais de 6 mil ações legais. No início deste mês, a indústria do cinema anunciou que deverá seguir os passos das gravadoras e também iniciará uma onda de processos. "Ações contra os usuários não significam o pagamento de direitos aos artistas. Nós precisamos de uma solução construtiva. São mais de 60 milhões de compartilhadores só nos EUA, um número maior de pessoas do que o que elegeu o atual presidente", diz a EFF.

Os efeitos dos processos movidos pela indústria puderam ser sentidos pelos pesquisadores suecos. Ao tipificar os diversos grupos de compartilhadores, eles encontraram a figura do que chamaram de "presenteadores amedrontados". Esse grupo ofereceria seus arquivos de uma forma mais selecionada, escolhendo aqueles que podem receber ou que arquivos serão compartilhados. "O mais surpreendente é que esse tipo de ação não seria motivada pelo medo de serem pessoalmente alvo de processo, mas pelo medo de que os mecanismos de compartilhamento sejam ameaçados", dizem os pesquisadores. Em alguns casos, os usuários deixaram de compartilhar arquivos sujeitos aos direitos autorais da indústria.

De acordo com o estudo, as características dos diversos grupos de compartilhadores mostram que vários teriam motivações ideológicas, acreditando não só que a "informação tem que ser livre", mas em um certo "espírito do compartilhamento". Os pesquisadores afirmam também que muitos dos que aparentemente oferecem seus arquivos apenas para poderem conseguir músicas ou filmes de outros (a chamada pseudo-dádiva), na verdade são bastante benevolentes com aqueles que não compartilham nada. Ou seja, depois de bloquearem aqueles usuários que claramente não oferecem nada em troca, os chamados de "sangue-sugas", os compartilhadores voltam a oferecer seus arquivos para a comunidade.

Foram encontrados, inclusive, alguns usuários que ajudam outros que estavam com dificuldades. Por exemplo, o caso de compartilhadores que deixam seus computadores ligados por horas para que pessoas com conexão muito lenta também consigam baixar arquivos. "Quando você compartilha algo com alguém você o faz não porque espera algo em de volta", declarou um dos entrevistados. Para os pesquisadores, há nos mecanismos de oferecimento de arquivos algo que vai além do que tem sido notado até hoje e que mistura altruísmo e ideologia. Mesmo que a indústria crie mecanismos poderosos e acessíveis para que bens digitais sejam adquiridos, essas iniciativas falharão se o espírito do compartilhamento não for levado em conta.

Atualizado em 18/11/04
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