Ocupação
de ambientes silvestres aumenta casos de raiva em morcegos
Pela
primeira vez no Brasil a raiva, que era antes transmitida maioritariamente
por cães, passou a ter como principal infectado o morcego.
"Com a invasão dos ambientes silvestres, os seres humanos
ofereceram alimento (insetos, frutos, flores, sangue) e abrigo (o
forro de nossas próprias casas, túneis, bueiros) aos
morcegos, em tal abundância que lhes permitiu reproduzir em
grandes quantidades", explica a pesquisadora Phyllis Romijn,
da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro
(Pesagro). Com uma população numerosa, aumentam as
chances de transmissão da doença para outros mamíferos,
incluindo o homem.
Qualquer
morcego (quiróptero), tanto os que se alimentam de frutas
(frugívoros), de insetos (insetívoros) ou de sangue
(hematófagos), pode estar infectado com o vírus rábico.
Os hematófagos, no entanto, são os principais transmissores
de raiva para herbívoros como o boi e o cavalo. Em alguns
estados brasileiros já existe legislação que
obriga os proprietários a vacinarem seus animais contra a
raiva junto com a vacina de febre aftosa. Por outro lado, cães
e gatos, que também caçam o morcego, podem ser contagiados
através do contato com qualquer tipo de morcego que estiver
infectado.
A
preocupação maior das autoridades de saúde
são os gatos, que têm um instinto caçador mais
forte do que os cães, o que aumenta as chances do contato
com os morcegos. "Geralmente os donos de gatos não levam
seus animais para vacinar. As campanhas, historicamente, chamaram
a atenção para o problema da raiva nos cães.
É preciso mudar este enfoque. Estimulamos os municípios
a criar horários ou dias especiais para os gatos durante
as campanhas", afirma Neide Takaoka, médica e diretora
geral do Instituto Pasteur, responsável pela coordenação
estadual do Programa de Controle da Raiva. No gráfico abaixo
é possível observar que, apesar da queda no número
de casos positivos de raiva, houve um aumento de casos na população
de gatos.
Em
São Paulo, dados do Instituto Pasteur informam que o último
caso de óbito humano por causa da raiva foi registrado em
2001. A pessoa morreu poucos dias depois do aparecimento dos primeiros
sintomas da doença após ser atacada por sua gata,
na cidade de Dracena, região de Presidente Prudente (SP).
A família contou que a gata tinha capturado um morcego alguns
dias antes e não estava vacinada, ao contrário dos
cachorros da casa.
A
forma mais comum de transmissão é através de
contato com a saliva de animal raivoso, seja por mordeduras ou lambeduras.
A doença tem uma evolução muito rápida,
com sobre-vida média de quatro a cinco dias, e deve ser tratada
logo que surgem os primeiros sintomas (dores de cabeça, febre,
anorexia, náusea e dor de garganta). Em seguida pode ocorrer
ansiedade, inquietude, alucinações e convulsões,
sinais do comprometimento do sistema nervoso central. Na fase final,
instala-se um quadro de paralisia progressiva, coma e morte. O homem
também pode transmitir para outras pessoas já que
o vírus está presente na saliva e em outras partes
do corpo.
A
raiva na cidade
A vacinação contra a raiva de cães e gatos
é a atividade que mais contribui para que a doença
seja controlada nessas espécies, tendo como conseqüência
a eliminação do risco de transmissão para seres
humanos. Algumas cidades do estado de São Paulo, incluindo
a capital e a cidade de Campinas, por exemplo, já possuem
postos fixos de vacinação gratuita para atender os
donos de cães de gatos nos períodos entre as campanhas.
O controle de morcegos é mais difícil. "Orientamos
as pessoas a informarem a secretaria de agricultura sobre qualquer
comportamento diferente em morcegos, por exemplo, voando durante
o dia. Como a raiva provoca distúrbios de comportamento,
isto pode ser um sinal de que existem animais infectados na área.
As pessoas devem ficar atentas", afirma Takaoka.
O
custo do programa de controle e erradicação é
elevado. Segundo Ricardo Conde Rodrigues, médico veterinário
e coordenador do Centro de Controle de Zoonoses de Campinas, uma
dose de vacina custa cerca de R$ 3. No estado de São Paulo
a atual campanha prevê vacinar cerca de cinco milhões
de animais. O custo é dividido entre os governos federal
(Ministério da Saúde), estadual e os municípios,
cabendo aos últimos efetivar a campanha. O controle das populações
do morcego hematófago fica a cargo da Secretaria da Agricultura
no estado de São Paulo.
Raiva
em mamíferos
A raiva é uma doença infecciosa aguda que
acomete mamíferos. Nas áreas urbanas o cão
e gato são os principais transmissores, enquanto
nas zona rural aparecem os morcegos, macacos e mamíferos
domésticos como o boi, porco, cabra e ovelha. A doença
é fatal em todos os casos e por isso representa um
sério problema de saúde. Ocorre em quase todos
os países do mundo, sendo poucos os que conseguiram
a erradicação, como, por exemplo, o Japão.
No Brasil a doença está controlada, mas ainda
ocorrem casos tanto nas cidades como no meio rural. Através
de uma análise chamada de tipificação
antigênica é possível identificar a
origem da população do vírus que provocou
a raiva. Até a década passada a variante de
vírus rábico que mais aparecia era a de cachorro,
atualmente é a de morcego.
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