Encontro 
              definirá espécies em extinção que 
              poderão ser vendidas
            Um 
              inusitado encontro entre a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento 
              Sustentável (RIO-92 ou Jonesburgo-2002) e as reuniões 
              da Organização Mundial do Comércio (OMC). Talvez 
              essa seja a descrição mais apropriada da reunião 
              que está acontecendo desde o dia dois deste mês (e 
              que segue até o próximo dia 14) em Bangcoc, na Tailândia. 
              A 13ª edição da Convenção para 
              o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas 
              (em inglês, Cites) reúne autoridades, ambientalistas 
              e executivos para, durante os próximos dias, definir quais 
              animais e plantas poderão ser comercializados internacionalmente 
              e sob que regras. 
              
              O comércio ilegal de espécies ameaçadas de 
              extinção movimenta aproximadamente US$ 5 bilhões 
              por ano, um negócio quase tão lucrativo quanto o tráfico 
              de drogas ou armas. A Cites torna-se, então, um ambiente 
              propício para que a corrupção, a exploração 
              e os golpes baixos prosperem. Cabe a ela definir em qual das categorias 
              as espécies irão se encaixar: das espécies 
              em extinção com comércio permitido apenas excepcionalmente 
              (anexo 1); de espécies não necessariamente em extinção 
              mas de comércio controlado (anexo 2); e das espécies 
              protegidas em pelo menos um país (anexo 3). Atualmente, 34 
              mil estão em algum dos itens dessa lista. O encontro deste 
              ano decidirá sobre o destino de mais cem.
              
              As acusações de corrupção e golpes baixos 
              partem de ambos os lados, da aliança entre a indústria 
              e os países pró-comércio e das entidades ambientalistas. 
              As ONGs são questionadas por financiarem a viagem de representantes, 
              mesmo que sem direito a voto, dos países pobres. "Não 
              temos dinheiro como eles", diz Eugene Lapointe, advogado do 
              World Conservation Trust, um dos grupos lobistas pró-comercio.
              Já os ambientalistas denunciam a compra de votos dos países 
              pobres. "Houve uma votação secreta, no último 
              encontro, em que se podia ver cerca de vinte japoneses sentados 
              sorrateiramente ao lado dos delegados de certos países. Isso 
              para garantir que eles votassem corretamente", acusa Peter 
              Pueschel, do Fundo Internacional para Proteção dos 
              Animais (em inglês, IFAW), em declaração ao 
              diário inglês The Guardian. Pelos votos, certos 
              países ofereceriam ajuda financeira, como fez o Japão 
              em uma das votações da Comissão Baleeira Internacional.
              
              A argumentação entre os dois grupos gira em torno 
              da eficácia do comércio sustentável para a 
              garantia de sobrevivência das espécies. Os ambientalistas 
              (o grupo preservacionista) acreditam que o comércio, mesmo 
              controlado, é uma porta aberta para a manutenção 
              das práticas de caça e captura. Além disso, 
              os lucros obtidos não seriam suficiente para aliviar a pobreza. 
              Do outro lado da disputa, os grupos pró-comércio - 
              chamados de conservacionistas - afirmam que o mercado ajuda as populações 
              locais, que passam a cuidar melhor das espécies que vendem.
              
              Objeto de desejo japonês
              Uma das propostas mais polêmicas em discussão na conferência 
              deste ano refere-se ao comércio de produtos derivados de 
              baleias. A delegação japonesa está trabalhando 
              ostensivamente nesse sentido e propôs que alguns estoques 
              de baleias mink passem do anexo 1, das espécies mais ameaçadas, 
              para o anexo 2, daquelas que têm o comércio regulado. 
              Os japoneses afirmam que a população de mink já 
              passa de um milhão ao redor do mundo, o que justificaria 
              a retirada da espécie da lista das mais ameaçadas.
              
              Além disso, a delegação argumenta que o Japão 
              é o único mercado interessado na caça dessa 
              espécie e que, portanto, não haveria um aumento no 
              comércio mundial. "Para nós é mais uma 
              questão de princípios", declarou o representante 
              japonês Joji Morishita à Agência Reuters.
              
              Mas os ambientalistas acreditam que uma mudança do status 
              dessa espécie de baleia no Cites pode influenciar uma decisão 
              da Comissão Baleeira Internacional, que atualmente proíbe 
              a caça do animal. Além disso, questionam o argumento 
              japonês de que não haveria comércio internacional, 
              apontando países como a Rússia como possíveis 
              interessados na venda ao Japão.
              
              Os japoneses transformaram o consumo da carne de baleia em hábito 
              após a Segunda Guerra Mundial, já que o animal é 
              rico em proteínas. Hoje, a baleia é considerada um 
              prato refinado no país. Os ambientalistas criticam principalmente 
              a crueldade como o animal é caçado, com o uso de arpões, 
              em um processo bastante cruel e doloroso.
              
              Tráfico virtual
              Outra preocupação da Cities tem sido o tráfico 
              internacional de animais e plantas, levados de países subdesenvolvidos 
              para excêntricos compradores nos países ricos. Comércio 
              que, com a internet, ganha ainda mais fôlego - através 
              da web, tornou-se bastante fácil o contato entre fornecedores 
              e compradores. Bangcoc, sede do evento, é um dos principais 
              centros desse novo comércio virtual.
              
              Certos sites, a pretexto de oferecerem um fórum virtual para 
              a compra de produtos agrícolas, acabam se tornando uma grande 
              feira de espécies ameaçadas. No endereço http://www.vorras.net/agriculture/?read=7288, 
              por exemplo, é possível encontrar um lote de 200 papagaios 
              cinza africanos vendidos a US$ 125 cada um, além de outras 
              aves africanas.