Baixa
umidade relativa do ar prejudica
aparelho respiratório
O
mês de setembro foi marcado por baixos índices de Umidade
Relativa do Ar (URA) - menos de 30% em algumas regiões do
país - o que motivou a Secretaria Nacional de Defesa Civil
(Sedec), do Ministério da Integração Nacional,
a alertar órgãos de defesa civil de vários
estados do Sudeste, Centro-Oeste e Norte para orientar medidas preventivas
para minimizar os efeitos das baixas taxas de URA na população.
De acordo com o pneumologista Clóvis Botelho, pesquisador
da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a baixa umidade pode
prejudicar as vias respiratórias. O aparelho respiratório
trabalha bem, sem maiores gastos de energia, com a URA até
60%. Abaixo disto, exige-se maior trabalho do aparelho respiratório
em todos os indivíduos. Os estados do Mato Grosso e Goiás
chegaram a apresentar índices de URA iguais a 10%.
A
sensibilidade às variações de umidade aumentam
em pessoas portadoras de algum tipo de doença brônquica,
tais como asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC). "Para quem não tem problemas no pulmão,
só há motivo para se preocupar quando a URA estiver
abaixo de 30%. Porém, para os portadores de quaisquer tipos
de doença respiratória, deve-se ficar alerta para
valores abaixo de 60%", afirma Botelho. O pesquisador ressalta
que a imprensa tem divulgado apenas os limites de atenção
entre 20 a 30% da URA, o que, para pessoas que têm problemas
no pulmão, não têm nenhuma validade científica.
"O doente tem que ser considerado de forma diferenciada. Apenas
considerando os asmáticos são cerca de 10% da população",
alerta.
O
baixo índice de umidade relativa do ar é um fenômeno
típico de primavera. Segundo Fábio Gonçalves,
pesquisador do Departamento
de Ciências Atmosféricas do Instituto Astronômico
e Geofísico da Universidade do São Paulo (USP), a
ausência de chuvas de verão, que trazem umidade da
Amazônia, faz com que as massas de ar seco sejam aquecidas
pelo Sol, gerando muito calor e baixa umidade relativa. "A
região central do Brasil é sempre a mais afetada,
incluindo o interior de São Paulo. O sudeste e o centro-oeste
são caracterizados por invernos secos e início de
primavera com períodos tipicamente quentes e secos",
explica.
Para
o diretor do Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet), Antonio Divino Moura, este
ano foi muito mais seco que o normal e não pode ser tomado
como média para casos futuros. "As baixas umidades ocorrem
todos os anos, normalmente de maio a setembro, com a dominância
da alta pressão atmosférica sobre toda a região
dos cerrados", explica Moura. Neste ano, a ação
dessa alta pressão foi mais prolongada, o que tornou mais
forte os efeitos da baixa umidade, com impactos na saúde
pública e ocorrência de queimadas devido à sequidão
das pastagens. "Nas áreas marginais das estradas, os
incêndios são muitas vezes provocados por ação
do homem ao atirar pontas de cigarros acesos no capim seco",
acrescenta.
A
baixa URA está associada a outras variáveis climáticas,
como o aumento da temperatura e a menor velocidade dos ventos, o
que aumenta a concentração dos poluentes primários
e secundários no ar inspirado, como gás carbônico,
dióxido de enxofre, hidrocarbonetos, entre outros. Por isso,
o cuidado com a saúde deve ser aumentado.
Segundo
Botelho, o ar alveolar necessita de umidade de 97% e temperatura
entre 36,5 e 37º C, para efetuar as trocas gasosas (hematoses),
com menor gasto energético possível. "Quando
isto não ocorre, como no caso da baixa URA, o aparelho respiratório
realiza um esforço maior para que o ar chegue nos alvéolos
em condições ideais, gerando maior desgaste",
explica.
No
caso das doenças específicas do aparelho respiratório,
o indivíduo acometido reage anormalmente a uma gama variada
de estímulos irritativos e/ou inflamatórios. As mucosas
respiratórias ficariam mais sensíveis às agressões
sofridas pelo processo respiratório, que agiriam como inúmeros
"gatilhos" em toda a via aérea. Este processo acaba
facilitando o desencadeamento de crises asmáticas. "Como
conseqüência, há uma maior demanda nos serviços
de saúde", ressalta Botelho.
O
pneumologista lembra que estas alterações são
mais comuns nas crianças, pela imaturidade do seu sistema
de defesa tanto local (da via aérea) quanto sistêmica,
nos idosos e nos adultos fumantes, pela deficiência nas suas
defesas naturais.
Em
condições com baixa umidade relativa do ar, deve-se
evitar a prática de exercícios fora de ambientes climatizados,
além de umidificar os ambientes, principalmente aqueles em
que se fica a maior parte do tempo, como local de trabalho e dormitório.
Para os portadores de asma ou DPOC, devem ser acrescidos os cuidados
específicos, como hidratação por meio de instilação
direta nas narinas de solução fisiológica e
fazer inalação (aerossol) com soro fisiológico.
Recomenda-se ainda que se busque orientação médica
para possíveis ajustes nas doses dos medicamentos utilizados.
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