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Mercúrio indica poluição urbana
e industrial na costa brasileira


Embora as emissões de mercúrio tenham sido largamente reduzidas a partir da década de 1970, existem ainda vestígios de sua presença no solo, poeira e ar. Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) acreditam que a medida da distribuição deste elemento possa ser um ótimo indicador de níveis de poluição presentes na costa brasileira, região que concentra grande densidade populacional e de indústrias do país. A vantagem é que no Brasil, este metal não é encontrado em concentrações elevadas naturalmente no sedimento (exceto na região de Ouro Preto) e, quando surge, é fruto da atividade humana.

Falta de saneamento contribui para descarte de mercúrio no ambiente.
Créditos: Labomar, UFCE

"Embora os processos industriais tenham substituído o mercúrio como matéria-prima de vários modos de produção, o metal permanece sendo emitido principalmente por fontes difusas e como constituinte traço de efluentes urbanos e domésticos", explicam os autores da pesquisa, Rozane Marins, Francisco José de Paula Filho, Saulo Robério Rodrigues Maia e Wanessa Sousa Marques, da UFC, e Luiz Drude de Lacerda, da UFF. Como fontes difusas pode-se entender o uso ainda feito desta matéria prima em componentes de lâmpadas, aparelhos de pressão, termômetros, restaurações odontológicas (amálgama), na combustão de carvão e derivados de petróleo, ou quando o meio ambiente encarrega-se de redistribuí-lo, pelo solo e drenagens. Há cerca de trinta anos, as indústrias faziam mais de 600 usos diferentes do mercúrio, e a indústria eletroquímica para produção de cloro-soda era a fonte mais importante de emissão.

O estudo, coordenado pela química carioca Marins, reuniu dados de mercúrio presente em sedimentos já disponíveis na literatura, principalmente dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará e Pernambuco. A partir da análise das informações, a equipe de pesquisadores propôs o Índice de Geoacumulação Regional de Mercúrio (Igeoregional) para avaliar diferentes níveis de contaminação de ambientes costeiros localizados nas porções sul e leste do Brasil, que corresponde à faixa do Rio Grande do Sul até o Delta do Parnaíba (PI). Neste índice, fica de fora a porção Norte (praticamente litoral do estado do Acre) - como é dividida a costa brasileira, segundo o conceito de Grandes Ecossistemas Marinhos (ou LME, em inglês), que defini as regiões segundo similaridades de tipo e formação da costa, água e composição e produtividade biológica.

Diferenciado em 7 classes, o Igeoregional começa indicando as áreas naturais, sem ocorrência do metal, segue para baixos índices e, em sentido crescente, revela um agravamento da contaminação costeira por efluentes urbanos e industrias. Dentre as áreas mais contaminadas do litoral brasileiro está a Foz do Rio Botafogo (PE), com classe 7, e o rio São João de Meriti (RJ), classe 6, por terem recebido efluentes de indústria cloro-soda por vários anos; além da Lagoa de Patos (RS), Baía de Guanabara (RJ) e Baía de Todos os Santos (BA), todas com classe 5, contaminadas por fontes industriais, efluentes urbanos e chorume de lixões.

Lixo doméstico está entre os principais problemas de emissão de mercúrio
Créditos:Labomar, UFCE

Os pesquisadores alertam que os lixões e o esgoto doméstico e urbano, principalmente, são as atividades humanas que mais necessitam de controle e adequação ao desenvolvimento sustentável da região costeira. "O grau de contaminação chama a necessidade de monitoramento e também saneamento de áreas como a de manguezais", afirma a coordenadora do estudo. Marins, que estuda a presença de mercúrio no meio ambiente desde a década de 1990, acredita que o Igeoregional, por ser simples de ser obtido, poderá ser usado em trabalhos futuros e ser útil na hora de traçar prioridades públicas de preservação ambiental e investimentos em saneamento básico.

O estudo foi publicado na última edição da revista científica Química Nova.

Outro indicador ambiental

O teor de oxigênio dissolvido na água costuma ser utilizado para indicar a qualidade do meio ambiente em regiões temperadas. Esse índice, no entanto, é considerado ruim para regiões tropicais, em função das diferentes temperaturas das águas costeiras, insolação e grande disponibilidade de matéria orgânica para a água, que pode levar à queda dos níveis de oxigênio, sem ser caracterizado como degradação ambiental.
Atualizado em 28/09/04
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