Pesquisa mostra que parto normal 
							após cesárea é 
              possível 
             
              Uma vez cesárea, sempre cesárea. O mito bastante difundido 
              de que mulher que se submete a uma cesariana não pode mais 
              optar pelo parto normal tem sido cada vez mais desmentido por pesquisadores. 
              Recentemente, um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da 
              Universidade Estadual Paulista (Unesp) demonstrou que, ao contrário 
              dessa idéia, o parto normal evita complicações 
              respiratórias nos bebês. 
            Em 
              uma ampla amostragem de prova de trabalho de parto, espontânea 
              ou induzida, envolvendo 438 gestantes submetidas a uma cesariana 
              anterior e seus 450 recém-nascidos atendidos no Hospital 
              de Clínicas da Faculdade, 59,2% dos casos não registraram 
              morbimortalidade materna e perinatal. Já, entre as mulheres 
              que foram submetidas a cesariana, sem a tentativa de parto vaginal, 
              essas ocorrências duplicaram em relação ao parto 
              normal. A suspeita era de que após uma cesariana, a mulher 
              que fizesse o parto normal poderia, junto com o filho, correr risco 
              de morte devido ao rompimento do útero. O estudo mostrou 
              também que o parto normal evitou complicações 
              respiratórias neonatais. 
            Para 
              o Ministério da Saúde, pesquisas como esta, que ajudam 
              a difundir a idéia de que o parto normal é o melhor 
              para o bebê e para a mãe, são bem-vindas, já 
              que a cesária apresenta, em relação ao outro 
              tipo de parto, de sete a 20 vezes mais chances de infecções 
              e complicações para a mãe e aumenta em até 
              oito vezes o risco de se ter uma hemorragia. O Brasil até 
              o fim da década de 1990 era considerado o campeão 
              mundial de cesariana. Esse mito, segundo a obstetra Iracema de Mattos 
              Paranhos Calderon, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo da 
              Unesp, pode ter colaborado para o crescimento do número de 
              cesarianas no Brasil. Em 2002, a taxa nacional era de 38%, segundo 
              informações da Área Técnica da Saúde 
              da Mulher do Ministério da Saúde. Um número 
              considerado bem acima do índice ideal de 15% recomendado 
              pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
            Essa 
              porcentagem só começou a cair quando o Ministério 
              da Saúde adotou uma série de medidas para melhorar 
              a qualidade da assistência ao parto no Sistema Único 
              de Saúde e incentivar médicos e gestantes a verem 
              o parto normal como primeira opção para os nascimentos. 
              Entre as iniciativas, estão, por exemplo, o aumento de 160% 
              no valor do total do parto vaginal, o reembolso dos analgésicos 
              utilizados nesse procedimento e a regulação do pagamento 
              de cesáreas com uma definição de percentual 
              máximo de partos desse tipo por hospital a serem remunerados 
              pelo SUS, com níveis decrescentes a cada semestre. Caso a 
              maternidade supere esse número terá de arcar com as 
              despesas. 
            As 
              medidas parecem ter surtido efeitos positivos. Em 2003, a taxa de 
              cesáreas realizadas pelo SUS caiu para próximo de 
              25%. Mesmo assim, o país ainda tem um longo caminho a percorrer. 
              Só para efeito de comparação, no Reino Unido 
              a porcentagem de cesáreas realizadas está na casa 
              dos 10%, no Japão em 8%. 
            O 
              grande número de cesáreas que passaram a ser realizadas 
              no país parece ter explicação. A facilidade 
              de programação do parto e a diminuição 
              da tensão e da dor para a mulher ganhou a atenção 
              dos médicos e das gestantes. Segundo as informações 
              da Área Técnica da Saúde da Mulher, a dificuldade 
              do médico em acompanhar a gestação e estar 
              disponível para realizar o parto foi um dos principais agravantes 
              que ajudaram a aumentar o número de cesáreas praticadas. 
              Além disso, nos hospitais de alto risco, onde geralmente 
              se processa o ensino de grande parte das faculdades de Medicina, 
              a proporção de partos cesáreos tende a ser 
              maior pela própria característica da população, 
              haja visto a demanda de partos. Com isso, segundo o Ministério 
              da Saúde, muitas vezes os médicos recém-formados 
              saem da faculdade e da residência com pouca prática 
              de atenção ao parto normal. 
            Vantagens 
              do parto normal 
              As vantagens do parto normal são várias, tanto para 
              o bebê quanto para a mãe. Uma delas é o fato 
              da mãe estar mais disposta à convivência inicial 
              com o bebê, sem as dores do corte da barriga feito na cesárea, 
              o que permite uma movimentação muito mais fácil 
              e precoce. Do ponto de vista físico, no parto normal não 
              há cicatriz aparente, a possibilidade de dores abdominais 
              por aderências é menor, assim como a chance de hemorragias 
              e infecções. 
            Segundo 
              um artigo publicado pela Equipe Editorial Bibliomed, intitulado 
              Parto normal 
              após cesariana, em gestantes com antecedente de cesariana, 
              o risco de ruptura uterina é maior no parto normal do que 
              no outro método, mas a cesariana possui mais chances de infecção 
              e hemorragia com necessidade de hemotransfusão. O artigo 
              cita também que pacientes submetidas a parto normal ficam 
              duas vezes menos no hospital do que aquelas que se submetem a cesariana.