Pesquisadores discutem atualidade do desenvolvimentismo de Getúlio
Vargas
Há 50 anos, em agosto de 1954, morria Getúlio Vargas,
uma das figuras mais marcantes da história política
brasileira. Ainda
hoje, a política nacional desenvolvimentista criada por Vargas
é alvo de análises e discussões, com opiniões
que divergem entre aqueles que consideram o modelo varguista de
desenvolvimento um exemplo a ser seguido, e outros que acreditam
que a herança política de Getúlio atrapalha
a inserção do Brasil no capitalismo global. Apesar
das opiniões conflitantes, há uma concordância:
Vargas lançou as bases para o Estado Nacional moderno e grande
parte das estruturas criadas por ele ainda constituem os fundamentos
do Estado brasileiro. Pelo menos, é essa a opinião
dos pesquisadores que se reuniram no Simpósio Vargas 50
anos depois: história e atualidade, que aconteceu no
início de setembro, no Instituto de Economia da Unicamp.
"O
nacional desenvolvimentismo de Vargas buscou a construção
do Estado Nacional e uma mudança na estrutura de produção
por meio da industrialização", sintetiza Maria
da Conceição Tavares professora da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ela, Vargas promoveu a montagem do
Estado Nacional e uma mudança na inserção internacional
do Brasil na economia mundial. "Por isso, dizemos que ele promoveu
a modernização do Estado brasileiro", complementa.
Para
promover essa modernização do Estado brasileiro, Vargas,
durante o período em que esteve no poder entre 1930 e 1954,
criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), a Previdência, empresas como a Petrobrás e
Vale do Rio Doce, as leis trabalhistas e as bases da estrutura sindical
e do funcionalismo público. "Várias das estruturas
criadas por Getúlio ainda são parte da estrutura do
Estado hoje, por isso, não há sentido em se falar
em acabar com a herança Vargas, como não há
sentido em se falar em acabar com o Estado Nacional", complementa
Tavares.
De
acordo com Wilson Cano, professor da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), uma das características que mais impressionava
em Getúlio Vargas era sua visão de totalidade do Brasil,
que refletia na sua política desenvolvimentista onde havia
a preocupação em levar o desenvolvimento a várias
regiões do país. Segundo Cano, o discurso da estabilidade
econômica para Getúlio estava subordinado a um plano
maior para desenvolver o país. "O que vemos hoje é
um coro pela estabilidade a qualquer preço, isso é
o que a atual equipe econômica está repetindo. Mas,
sabemos que não existe possibilidade de desenvolvimento sustentável
para paises em desenvolvimento dentro do modelo neoliberal. Isso
é a verdade, o resto é conversa", enfatiza Cano.
Segundo
Francisco Luis Corsi, professor da Universidade Estadual Paulista
(Unesp), existe uma necessidade de rearticular o Estado com meta
para o desenvolvimento nacional. "Hoje, o eixo para o desenvolvimento
nacional seria outro. Não seria mais a industrialização,
mas os problemas sociais e desenvolvimento com sustentabilidade
ambiental", opina Corsi. Para ele, o contexto atual de internacionalização
do capitalismo apresenta menos oportunidade para estabelecimento
de um plano de desenvolvimento nacional nos moldes varguistas. Na
década de 30, a grande depressão desarticulou a economia
mundial e enfraqueceu as potencias da época, o que teria
aberto brechas para países em desenvolvimento como o Brasil.
"Hoje é realmente difícil fazer as mudanças
necessárias sem que haja uma ruptura com o atual modelo econômico",
pondera Corsi.
A
mudança, mesmo que sutil, na forma de pensar o desenvolvimento
nacional também foi citada durante o simpósio. "Há
10 anos, pouco se falou sobre a morte de Vargas, que completava
a quarta década. Estávamos no auge do neoliberalismo.
Hoje podemos dizer que alguma coisa mudou para que a discussão
de um projeto nacional voltasse a tona", analisa Tavares.
Durante
a década de 90, com disseminação do neoliberalismo
em escala mundial, começa a tomar força o discurso
que prega medidas como a flexibilização das leis trabalhistas,
fim da intervenção do Estado na economia, privatização
de empresas estatais, entre outras. Foi nesse período que
a chamada "herança de Vargas" sofreu abalos mais
fortes. Passado esse período, as comparações
entre o governo de Getúlio Vargas e o de Luís Inácio
Lula da Silva foram estabelecidas em vários níveis
e mostraram alguns pontos aproximação e outros de
afastamento entre esses dois governos.
Segundo
Pedro Paulo Zaluth Bastos, professor da Unicamp, além de
um projeto de desenvolvimento nacional consistente, falta ao governo
atual determinação para agir estrategicamente no mercado
em favor desse projeto. "Perto das ambições do
projeto de desenvolvimento nacional de Vargas, os projetos que existem
hoje são medíocres", conclui.
O
Simpósio Vargas 50 anos depois: história e atualidade
terá sua última sessão no dia 15 de setembro
e as inscrições
podem ser feitas gratuitamente no site do Instituto de Economia.
Créditos
da foto: Agência de Notícias da Assembléia Legislativa
de São Paulo.