Projetos 
              de lei prevêem cotas maiores do que as universidades paulistas 
              oferecem
            
              A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) acaba de se 
              tornar a primeira universidade pública paulista a oferecer 
              cotas de vagas para negros e índios. Para o vestibular 2005, 
              cuja inscrição vai de 20 de setembro a 8 de outubro, 
              a Unifesp aumentou em 10% o número de vagas em cada um dos 
              cinco cursos que oferece, para reservá-las a negros e índios 
              que tenham estudado na rede pública de ensino. No Projeto 
              de Lei 3.627, apresentado pelo ministro da educação, 
              Tarso Genro, no entanto, as cotas são bem maiores: 50% das 
              vagas das universidades federais seriam destinadas a alunos do ensino 
              médio público, 
              e dessas, uma proporção mínima seria destinada 
              a pretos, pardos e indígenas, dependendo do percentual da 
              população em cada estado.
              
            No 
              âmbito estadual, o Projeto 
              de Lei 530, apresentado pelo líder do PT na Assembléia 
              Legislativa do Estado de São Paulo, Cândido Vagareza, 
              e assinado por 29 deputados estaduais de diversos partidos, também 
              propõe a reserva de 50% das vagas para estudantes oriundos 
              da rede pública de ensino, nas universidades públicas 
              estaduais (USP, Unicamp e Unesp), que até o momento não 
              aderiram ao sistema de cotas. O PL paulista não leva em conta 
              o censo populacional do IBGE, como o projeto federal, e destina 
              30% das vagas reservadas (ou seja, 15% do total) para estudantes 
              que se autodeclararem afrodescendentes, 
              reservando ainda 15% das vagas restantes (5,25% do total) para afrodescendetes 
              ou indígenas de famílias com renda per capita 
              de até dois salários mínimos.
            O 
              impacto da medida da Unifesp em relação à demanda 
              no ensino superior no estado é pequeno. De acordo com o Instituto 
              Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em 2002, as 
              universidades federais representavam apenas 0,3% das vagas oferecidas 
              no estado de São Paulo. Já nas universidades estaduais, 
              que ofereceram juntas naquele ano mais de 21 mil vagas, o sistema 
              de cotas é contestado. "A autonomia acadêmica 
              foi e vinha sendo respeitada até recentemente, sendo a forma 
              de recrutar seus alunos um dos aspectos relevantes desta autonomia", 
              afirma Renato Pedrosa, coordenador de pesquisa da Comissão 
              Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Unicamp. "A recente 
              decisão do governo federal, assim como a de alguns legislativos 
              estaduais, de determinar cotas para certos grupos nas universidades 
              públicas, fere frontalmente esse princípio", 
              declara.
            A 
              Unicamp adotou para o vestibular deste ano uma medida de inclusão 
              diferente das cotas, inspirada em ações afirmativas 
              como as da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Os estudantes 
              que tiverem cursado todo o ensino médio na rede pública 
              poderão ganhar 30 pontos a mais na nota final do vestibular, 
              e dentre esses estudantes, os que se declararem negros, pardos ou 
              indígenas terão ainda 10 pontos adicionais. A participação 
              nesse sistema de pontuação, contudo, não é 
              automática para todos os inscritos no vestibular que sejam 
              oriundos da rede pública de ensino: a adesão é 
              opcional. Além disso, os pontos adicionais só contam 
              para aqueles que forem aprovados para a segunda fase, e representam 
              de 3% a 4% do total de mil pontos do vestibular.
            Público 
              x privado
              A concorrência por uma vaga nas conceituadas universidades 
              públicas do estado de São Paulo chega a ser quase 
              vinte vezes maior do que em universidades particulares, segundo 
              o último censo do ensino superior realizado pelo Inep. Esse 
              mesmo censo aponta que 92,2% das vagas oferecidas em 2002 no ensino 
              superior, em São Paulo, estavam na rede privada, que inclui 
              as universidades comunitárias, como as PUCs, e as particulares, 
              como a Unip. Em todo o estado, as comunitárias apresentaram, 
              nesse censo, uma ociosidade de 29% de suas vagas, e as particulares 
              tiveram nada menos do que 49% de vagas não preenchidas.
              
            
              
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                   Fonte: 
                    Inep - Censo do Ensino Superior (2002) 
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            Dados 
              como esses levaram o governo federal a propor, através de 
              outro Projeto de Lei (PL 3.582), o Programa Universidade para Todos 
              (Prouni), cuja proposta é destinar 10% das vagas das universidades 
              particulares e comunitárias para a concessão de bolsas 
              integrais a estudantes que tenham cursado o ensino médio 
              na rede pública e sejam de famílias com renda de até 
              um salário mínimo per capita. O projeto original 
              determinava que as comunitárias - obrigadas por lei a destinar 
              20% de sua receita bruta em beneficências - reservassem 20% 
              de vagas para o Prouni, mas o relator do projeto na Câmara 
              reduziu esse percentual para 10%, alegando que as instituições 
              mantenedoras atuam em outras áreas de assistência social, 
              nas quais poderiam ser aplicados os 10% restantes. O PL 3.582 pode 
              ser votado no plenário da Câmara ainda neste mês 
              (leia reportagem sobre o assunto na edição da ComCiência 
              dedicada à "Reforma Universitária", que 
              estará no ar a partir do dia 10).
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