Cingapura
oferece dinheiro a
transnacionais farmacêuticas
O governo de Cingapura deve fechar, nos próximos dias, um
acordo com a empresa farmacêutica britânica GlaxoSmithKline
para construção de um laboratório que ocupará
30 cientistas. O número é pequeno, se comparado ao
que a empresa mantém em sua matriz - quase 6 mil empregos
- mas o investimento teve que ser grande: foram oferecidos às
empresas quase US$ 1,8 bilhão, na forma de capital de risco
e contrapartidas. Cada dólar investido pela transnacional
é acompanhado por 50 centavos do governo, em verba para pesquisa.
Além disso, Cingapura está oferecendo mais mil bolsas
de estudos para estudantes de doutorado no exterior e no próprio
país. Em 2005, o governo de Cingapura terá completado
o pacote de agrados oferecido à indústria farmacêutica,
que objetiva atrair a pesquisa tecnológica em medicamentos.
As iscas para atrair os investidores foram financiamentos polpudos
e direitos corroídos, para humanos e animais.
A
Glaxo é o segundo grande grupo a tirar proveito das facilidades
- o primeiro foi a suíça Novartis. A maior
parte das empresas que resolveu se estabelecer nesse pequeno país
asiático, no entanto, é formada por pequenos empreendimentos
de biotecnologia, atraídos principalmente pelo capital de
risco disponibilizado.
A
"ética de trabalho" dos asiáticos, seus
frágeis direitos trabalhistas e a baixa remuneração
a ser paga pelos patrões também atraem. Em declaração
ao jornal inglês The Guardian, o executivo-chefe de
uma dessas pequenas empresas de biotecnologia, a Paradigm Therapeutics,
revelou: "Aqui temos uma força de trabalho altamente
motivada, toda sendo treinada para a área biotecnológica.
Eles basicamente vivem para trabalhar." De acordo com ele,
os custos com pessoal em Cingapura são 25% menores que na
Inglaterra. "Na Europa, temos direitos humanos, aqui temos
máquinas", afirmou um outro executivo ao mesmo jornal.
O
esforço de Cingapura para conquistar a indústria de
medicamentos começou na década de 1970, quando os
impostos cobrados destas empresas foram reduzidos a zero - vantagem
oferecida até hoje. A produção, na época,
era voltada principalmente para o consumidor japonês. Hoje,
as empresas estão de olho no crescente mercado da China.
No
campo da experimentação, há ainda outro atrativo:
o país tem regras muito mais flexíveis para o uso
de cobaias do que os países europeus. No final de julho,
o executivo-chefe da Glaxo, Jean-Pierre Garnier, deu declarações
aos jornais em que qualificava os anti-viviseccionistas (que combatem
a crueldade contra os animais de laboratório) como covardes
desprezíveis. Segundo ele, os ataques contra laboratórios
e cientistas promovidos por esses grupos estariam custando US$ 1,8
bilhão ao ano às empresa, em gastos com segurança.
"Livre"
uso de animais
A indústria farmacêutica é a que mais usa animais
de laboratório no mundo. De acordo com a União Britânica
contra a Vivisecção (BUAV), morre uma cobaia por segundo
(entre ratos, cães, gatos, coelhos e outros) nos EUA, duas
no Japão e 12 no Reino Unido. As leis de Cingapura são
classificadas pelos ativistas locais como parciais e excessivamente
dependentes da auto-regulação da indústria.
O
objetivo geral do governo de Cingapura é ambicioso: dobrar
o valor de sua produção industrial num prazo de 15
anos. Nesse esforço, terá que contar com o crescimento
chinês e com a expansão da indústria da biotecnologia-
que produz mercadorias de alto valor agregado. Nem que, para isso,
tenha que oferecer o paraíso para a indústria farmacêutica
e o inferno para os direitos humanos e dos animais.