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Emissão de gás carbônico na atmosfera
afeta também vida marinha

A preocupação com o nível de acidez dos oceanos levou a Royal Society a iniciar um estudo sobre as conseqüências desse desequilíbrio para o meio ambiente marinho. Até agora não se sabe exatamente quais são as dimensões dessas conseqüências, mas especialistas acreditam que os maiores prejudicados sejam os corais e moluscos (animais com concha), em função da dissolução de carbonato de cálcio (substância que compõem seu corpo) na água. O estudo está sendo organizado por John Raven e deve ser publicado no começo de 2005.

A queda no nível de pH dos oceanos é um reflexo do aumento de gás carbônico na atmosfera, que contribui para o efeito estufa. Os oceanos podem absorver o carbono através da reação do gás carbônico (CO2) com a água, que forma o ácido carbônico (H2CO3). Quando esse novo ácido se dissocia, íons de hidrogênio são liberados, diminuindo o pH da água, ou seja, tornando-a mais ácida. "Assim, o CO2 pode reagir com a água de chuva ou entrar diretamente no oceano, pela difusão através da interface atmosfera-água" explica Kátia Naomi Kuroshima, do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar) da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

Medidas contínuas da concentração de carbono na atmosfera foram iniciadas em 1958, nos observatórios de Mauna Loa (no Havaí) e no Pólo Sul. "Os resultados dessas medidas indicam um aumento da concentração, a uma velocidade média de 1,5 ppm (partes por milhão) por ano", diz Rosane G. Ito, do Instituto Oceanográfico da USP. Esse aumento é provocado pela queima de combustíveis fósseis, indústria de cimento e o desmatamento de florestas. Por ano, 7,1 bilhões de toneladas de carbono são emitidas para a atmosfera, devido às atividades antropogênicas. "Cerca da metade desse valor permanece na atmosfera e o restante é removido pela combinação de processos naturais, dentre os quais se encontra, principalmente, o oceano e a biosfera terrestre" afirma Ito. O oceano absorve cerca de dois bilhões de toneladas de carbono por ano e a biosfera terrestre, cerca de 1,8 bilhões de toneladas.

"Uma conseqüência da diminuição do pH dos oceanos, está diretamente relacionada à preservação dos recifes de corais, formado basicamente por carbonato de cálcio (CaCO3). Outros organismos que podem sofrer com este aumento são os organismos que apresentam as conchas calcáreas. O carbonato de cálcio tende a se dissolver com o aumento da concentração de CO2 na água do mar", explica Kuroshima.

Atualmente, existem vários modelos matemáticos utilizados para entender como estes reservatórios absorvem o CO2 atmosférico de origem antropogênicas. De acordo com Ito, a dificuldade dessa modelagem deve-se à complexidade de expressar as variáveis em termos de parâmetros. "Estas dificuldades, porém, só serão superadas através de intensas medições de gás carbônico, para que exista uma integração entre os modelos matemáticos e as medições em campo, contribuindo para um entendimento mais preciso das futuras mudanças climáticas", conclui a pesquisadora.

Para a pesquisadora da USP, estudos relacionados à acidez ainda são muito recentes, mas deverão ser realizados também no Brasil. "No entanto, são necessários investimentos para a pesquisa, como obtenção de equipamentos, uso de embarcações, etc., que exigem financiamento por parte das agências, o que não têm sido fácil se conseguir", lamenta Ito.

Atualizado em 03/09/04
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