Injeção 
              de anticoncepcional é vendida 
              com erro na forma de aplicação
              
            				
            				
             
              Desde a semana passada, a Pfizer está recolhendo dois lotes 
              do anti-concepcional Depo-Provera, num um total de 58 mil unidades 
              do medicamento - 16 mil delas já nas farmácias. Injetável, 
              o produto deve ser aplicado, a cada três meses, no músculo 
              de mulheres que desejam evitar a gravidez. A bula e a caixa informam 
              corretamente como o medicamento deve ser usado. Mas, no corpo da 
              seringa, está indicada a aplicação intravenosa.
            De 
              acordo com a Pfizer, o uso intravenoso do Depo-Provera, um hormônio 
              feminino, nunca foi testado. Não estão previstos efeitos 
              adversos, mas a eficácia do produto cai de três meses 
              para alguns poucos dias. Esperançoso, o diretor-médico 
              da Pfizer, João Fittipaldi, acredita que ''pouquíssimas 
              mulheres venham a tomar o contraceptivo na veia'' já que 
              - pelo menos pela lei - o produto requer prescrição 
              e só deve ser aplicado por um médico ou um farmacêutico. 
              Consultada, a assessoria de imprensa da Pfizer afirmou que estudará 
              caso a caso a reparação, se alguma das "pouquíssimas 
              mulheres" ficar grávida. Até a terça-feira, 
              dois casos suspeitos de aplicação incorreta já 
              haviam sido notificados à empresa.
              
              Efeitos adversos
              Desenvolvido pela Pharmacia, empresa adquirida pela Pfizer no início 
              do ano passado, o Depo-Provera é alvo de polêmica desde 
              meados da década de 1990. Em 1992 foi aprovado pela agência 
              reguladora dos Estados Unidos (a FDA), mas já era usado em 
              outros países. No Brasil, por exemplo, segundo a própria 
              Pfizer, o medicamento é usado desde 1964. Nos Estados Unidos, 
              os testes clínicos começaram em 1963. O pedido de 
              aprovação, feito na década de 1970, só 
              foi concedido 20 anos depois. Entre os efeitos colaterais previstos 
              estão dores estomacais, fadiga, alterações 
              de peso e dores de cabeça. Entretanto, entre os efeitos adversos, 
              que podem atingir de 1 a 5 por cento das pacientes estão: 
              diminuição da libido, edemas, insônia, náuseas, 
              perda de cabelos, sangramento, entre outros. Em 1995, a FDA classificou 
              o Depo-Provera como a quarta droga com o maior número de 
              reações adversas declaradas. Nos anos seguintes, a 
              lista não foi mais elaborada.
            O 
              Depo-Provera tem outras aplicações não convencionais, 
              como nos processos de mudança de sexo. E, desde 1996, ele 
              é usado na Califórnia como um "castrador químico". 
              Detentos condenados por crimes sexuais contra crianças podem, 
              após cumprir algum tempo de prisão, obtém sua 
              liberdade condicional se concordarem em se submeter a aplicações 
              da droga que visam eliminar o desejo sexual. Mesmo defensores desse 
              tipo de política passaram a se mostrar céticos depois 
              que alguns condenados voltaram a cometer estupro mesmo sendo submetidos 
              ao tratamento.
            A 
              União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) classifica 
              esse tipo de lei como "bárbara, inconstitucional e ineficiente". 
              O psiquiatra da Universidade Johns Hopskins ouvido pela ACLU, Fred 
              Berlin, afirma que esse tipo de medida pode ser até mesmo 
              estimuladora de novos atos, por provocar ainda mais raiva e crueldade 
              nos condenados.