Empresa incubada na Unicamp disputa
mercado de identificação digital
No dia 3 de agosto, o presidente Lula e o ministro da Justiça
Márcio Thomaz Bastos inauguraram um sistema de última
geração para compartilhamento de dados criminais entre
as unidades da Polícia Federal e as secretarias de segurança
de todo o país. O Sistema Automatizado de Identificação
por Impressões Digitais (Afis, na sigla em inglês),
importado da França a partir de um acordo firmado ainda no
governo FHC, é um dos produtos que também estão
sendo desenvolvidos por uma pequena empresa brasileira que pretende
competir nesse mercado de identificação digital: a
Griaule Reconhecimento de
Impressões Digitais, abrigada na Incubadora de Empresas de
Base Tecnológica da Unicamp (Incamp). Em todo o mundo, apenas
12 empresas dominam a tecnologia Afis.
A empresa de Campinas (SP) desenvolve tecnologia de reconhecimento de digitais para dois mercados distintos. O Afis, sistema para armazenamento de dados em grande escala, é um produto de uso governamental e voltado para emissão de documentos como identidades e passaportes. As versões simplificadas de reconhecimento de digitais, batizadas de Rex2 e Rex3, são voltadas para empresas privadas que controlam o acesso a locais restritos ou a entrada e saída de funcionários do trabalho.
Sistema Afis da Griale. Foto: Divulgação
A Griaule já forneceu sistemas para duas unidades de Departamento de Trânsito (Detran), quatro presídios e diversas unidades do Poupa Tempo, ligado ao governo do estado de São Paulo, que reúne vários órgãos e empresas prestadoras de serviços de natureza pública e é responsável, entre outras coisas, pela emissão de documentos como carteiras de trabalho e identidade. "Esse sistema já está sendo pesquisado há 12 anos", conta Jairo Ramos, da Griaule. Um piloto do sistema Afis da empresa vem sendo testado na emissão de carteiras de identidade em Tocantins desde 1999. "Até o momento, foram registradas 1 milhão de digitais de 100 mil pessoas", diz Ramos.
Com
um sistema computacional adequado, é possível interligar
dados de vários estados e chegar a um banco de dados com
até 100 milhões de pessoas cadastradas. De acordo
com os pesquisadores da empresa, não há limitação
quanto ao software, e o investimento em hardware para ampliação
de um sistema não chega a causar impacto significativo no
seu custo total. No Brasil, além da Griaule, que tem capital
exclusivamente brasileiro, apenas subsidiárias de multinacionais
como a Nec e a Motorola fabricam o sistema.
PF
O sistema Afis que a Polícia Federal adquiriu da Société française d'exportation de matériels systèmes et services relevant des ministères de l'intérieur (Sofremi) também passará por uma fase experimental de teste piloto. A primeira das 27 unidades da Polícia Federal que irá se conectar ao núcleo central de armazenamento de dados do Instituto Nacional de Identificação (INI), em Brasília, será a de São Paulo. Cerca de 40% das fichas em papel com impressões digitais de criminosos arquivadas do INI já foram digitalizadas pela Polícia Federal. Após a fase piloto, todos os outros estados serão conectados ao sistema de identificação de Brasília, podendo alimentar e acessar o banco de dados do sistema.
De acordo com a assessoria de comunicação da Polícia Federal, a aquisição do sistema francês, aprovada pelo Congresso Nacional e prevista no Orçamento da União, foi efetuada em outubro de 2003, e faz parte do Projeto Pró-Amazônia - para ações da PF na região - e do Programa de Modernização do Segmento Técnico-Científico da Polícia Federal (Promotec), financiados com recursos de um acordo firmado com a Alemanha e a França, assinado ainda na gestão de FHC. "Nós não conhecemos o sistema dessa empresa de Campinas", admite um assessor de Geraldo Bertolo, diretor técnico-científico da Polícia Federal, "mas não poderíamos adquirir o equipamento deles porque já tínhamos a solução", emenda. Segundo o Ministério da Justiça, poucos estados possuem atualmente tecnologia de identificação de impressões digitais, e os sistemas que existem não conversam entre si, o que será superado com o Afis recém-inaugurado.
Miniatura
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Sistema
Rex3.
Foto: Divulgação
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Além
desse sistema que armazena dados de impressões digitais em
grande escala, a empresa brasileira também tem uma grande
procura pela versão simplificada (também chamada de
"mini"), que faz controle de acesso por reconhecimento
de digitais, semelhante aos sistemas que já aparecem na ficção
científica há algum tempo. "A principal aplicação
desse sistema é a substituição do relógio
de ponto", diz Jairo Ramos, da Griaule.
Essa
tecnologia desenvolvida pela Griaule se tornou o primeiro projeto
concebido por empresas incubadas na Unicamp a ser produzido em escala
industrial, no final de 2002. No ano passado, a empresa vendeu 100
unidades de controle de acesso e já começa a fazer
prospecção de mercado e a fortalecer parcerias para
exportar para países como Venezuela, Espanha e Canadá.
Segundo Ramos, também há interesse de países
da América Central e do Oriente Médio pelos sistemas
da Griaule.