Lítio
pode ser alternativa no tratamento
da doença de Alzheimer
O lítio, substância usada há décadas
para tratar distúrbios do humor, pode se tornar uma alternativa
eficaz na doença de Alzheimer. Um estudo feito por pesquisadores
do Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria
da Universidade de São Paulo (USP) revelou que indivíduos
que usam regularmente o medicamento para controlar o transtorno
bipolar são menos propensos a desenvolver a enfermidade.
Os resultados da investigação foram apresentados no
final de julho, durante a 9a Conferência Internacional sobre
a Doença de Alzheimer e Distúrbios Relacionados, na
Filadélfia, EUA.
A
psiquiatra Paula Nunes, que conduziu o trabalho sob a orienteção
dos psquiatras Wagner Gattaz e Orestes Forlenza,
investigou 84 portadores do transtorno bipolar. O distúrbio,
popularmente conhecido como maníaco-depressivo, é
crônico e caracteriza-se por oscilações de humor.
Na maior parte dos casos, os pacientes tratam-se com drogas estabilizadoras
de humor, entre as quais estão o lítio, o ácido
valpróico, a lamotrigina, a carbamazepina e a oxcarbazepina.
No grupo escolhido por Nunes, 51 tomavam lítio - uma das
medicações mais antigas - em média há
seis anos e 33 tratavam-se com os outros medicamentos ou sequer
usavam remédio. Todos tinham pelo menos 60 anos.
Para
a surpresa da pesquisadora, apenas 5,8% dos pacientes no grupo que
ingeriu lítio desenvolveram doença Alzheimer, enquanto
que no segundo grupo, 37,5% dos indivíduos foram afetados
pela enfermidade. "Esses resultados sugerem que, pelo menos
nesta população, o uso do lítio por longo tempo
pode ser benéfico", comenta a pesquisadora.
Bloqueio
de enzima
"Vários trabalhos nos últimos oito anos apontam
para outras ações do lítio, além da
estabilização do humor. Uma delas é a inibição
da enzima glicogênio-sintase-quinase 3 (GSK-3, em inglês)",
explica a pesquisadora. Acredita-se que aGSK-3 possa propiciar o
surgimento da doença de Alzheimer, já que a enzima
participa de processos metabólicos que culminam com a produção
das proteínas tau e beta-amilóide. Ambas estão
relacionadas à formação de placas e emaranhados
neurofibrilares no cérebro dos portadores da enfermidade,
o que parece ser a causa da perda de cognição e memória
típica do Alzheimer.
Outros
estudos já haviam demonstrado que o lítio é
capaz de bloquear a formação da tau e da beta-amilóide
em ratos e neurônios em cultura. A pesquisa de Nunes, entretanto,
é a primeira a avaliar a relação entre lítio
e doença de Alzheimer em humanos. O trabalho recebeu destaque
no site da Nature,
que publicou uma notícia sobre a investigação.
Atualmente,
existem medicações que ajudam a atenuar os sintomas
da doença, mas nenhuma é capaz de impedir sua progressão.
Caso o lítio mostre-se eficaz no combate ao Mal de Azheimer,
poderá abrir caminho para tratamento preventivos. Outra vantagem
do medicamento é o baixo custo. Cinco cápsulas de
vitamina E, por exemplo, que em altas doses pode proteger os neurônios,
custam em média R$ 120 por mês. Já o tratamento
com lítio giraria em torno de R$ 20 por mês.
Nunes
pretende agora investigar mais a fundo a ação do lítio
no Alzheimer. A intenção é obter recursos para
desenvolver um estudo de maior amplitude.
O
que é o Mal de Alzheimer
A doença de Alzheimer é a forma de demência
mais comum em idosos. Afeta funções cognitivas
como memória, aprendizado, linguagem, atenção,
habilidade visual e noção espacial. Os sintomas
incluem quadros depressivos e psicóticos (alucinações
e delírios), apatia, agressividade, agitação
psicomotora, condutas repetitivas e perturbações
no ciclo do sono. O aumento da expectativa de vida numa população
pode elevar a prevalência da enfermidade, uma vez que
ela é mais comum na terceira idade. A partir dos 60
anos, a doença é duas vezes mais freqüente
a cada cinco anos. O risco de um adulto adquiri-la dos 60
aos 64 anos, por exemplo, é de 0,7%; dos 90 aos 95,
ele aumenta para 40%. Em média, o portador sobrevive
de 8 a 12 anos com a doença. Nos casos mais graves,
porém, ele pode morrer em menos de dois anos.
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