Futuro
das publicações científicas
preocupa pesquisadores
A expansão das revistas científicas eletrônicas
de acesso livre e das bibliotecas virtuais está aquecendo
as discussões na comunidade científica em todo o mundo.
Um relatório do Comitê de Ciência e Tecnologia
do parlamento inglês, divulgado no final de julho, defende
o modelo de publicações online com acesso gratuito,
em que os autores pagam pela publicação de seus artigos.
Mas os editores temem que o novo esquema prejudique o mercado editorial
acadêmico. Os pesquisadores, por sua vez, rejeitam a idéia
de pagar para publicar seus estudos.
O
assunto vem gerando polêmica na medida em que cresce o número
de revistas online gratuitas, muitas das quais são revisadas
e administradas por acadêmicos, e não pelas grandes
editoras. De acordo com Crispin Davis, chefe executivo da Reed Elsevier,
a maior editora especializada em periódicos científicos
do mundo, essas publicações ainda não conquistaram
muito espaço, detendo apenas uma fatia de 1% do mercado,
nos últimos de cinco anos. No entanto, ele acredita que pedir
aos pesquisadores que paguem para que seus trabalhos sejam publicados
e oferecer o conteúdo gratuitamente na internet é
uma ameaça ao atual sistema editorial científico.
"As editoras acadêmicas tradicionais salvaguardam o processo
editorial e asseguram que qualquer pesquisador possa submeter seus
trabalhos gratuitamente, inclusive autores de áreas sem financiamento
ou de países em desenvolvimento", defende Davis.
Para
a biblioteconomista Odila Duru, supervisora da unidade de textos
completos da Biblioteca Eletrônica Scientific Eletronic
Library Online (Scielo), a preocupação do mercado
editorial com o livre acesso é infundada. "Muitos periódicos,
depois que se incorporaram ao Scielo, aumentaram o número
de assinaturas e começaram a receber artigos de outros países.
O fato de se tornarem eletrônicos e de livre acesso deu-lhes
maior visibilidade", comenta. Criado em 1997 a partir de uma
parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Centro Latino-Americano
e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde
(Bireme), o Scielo disponibiliza 127 periódicos do Brasil,
42 do Chile, 17 da Espanha, 14 de Cuba, uma da Suíça,
uma da Colômbia, uma do México e uma dos EUA.
Para
publicar um artigo em uma das revistas de livre acesso da BioMed
Central, por exemplo, o pesquisador precisa desembolsar de US$
525 a US$ 1500. os dois periódicos da Public Library of Science
cobram US$ 1500.
Mas
semelhanças entre os dois tipos de periódicos não
param por aí. A Thomson-ISI (Instituto para a Informação
Científica, em inglês), que mantém o principal
banco de dados de periódicos científicos internacionais,
analisou o Fator de Impacto (IF) dos artigos de 148, das 191 publicações
de livre acesso disponíveis e que haviam sido publicados
entre 1999 e 2002. A análise
revelou que não existem diferenças significativas
entre o IF de revistas de livre acesso e as tradicionais, mostrando
que a qualidade das informações divulgadas gratuitamente
não é comprometida.
"Essas
revistas [de livre acesso] aderem a altos padrões de publicação,
são revisadas por pares, assim como outras publicações
da mesma área, e são citadas em um nível que
indica que elas competem favoravelmente com publicações
semelhantes. A principal diferença entre essas revistas e
outros periódicos indexados pela ISI é que todo o
seu conteúdo está disponível sem custo para
o usuário", diz o relatório
produzido a partir do estudo.
O
conselho editorial da Thomson avalia cerca de duas mil revistas
por ano, mas apenas 10% são aceitas. "Considerando-se
que as revistas de acesso livre são recentes e começam
agora a se difundir, sua quantidade é bastante razoável",
explica James Testa, diretor de desenvolvimento editorial da Thomson-ISI
e um dos autores da pesquisa.
Os
defensores do novo sistema acreditam que a universidade pode economizar
recursos preciosos com o armazenamento de informações
virtuais, pois os periódicos online exigem menos espaço,
gastos e trabalho com a conservação dos documentos.
Já os críticos acreditam que as bibliotecas virtuais
geram o desconforto da falta de um material palpável e imutável,
permanentemente à disposição.
Davis,
da Reed Elsevier, lembra que através de um laptop o cientista
consegue acessar uma enorme quantidade de artigos científicos
em uma hora, o que normalmente levaria uma semana.
Acesso
à informação
As discussões em relação às publicações
eletrônicas não se restringem aos custos. Em
artigo
publicado no Jornal da Ciência, em 21 de junho, Luís
Abramo, João Barata e Carla Goldman, do Instituto de
Física da USP, chamaram atenção para
a instabilidade das tecnologias virtuais, cujos formatos eletrônicos
podem ser suspensos ou modificados pelas editoras. Eles criticaram
o fato do Sistema Integrado de Bibliotecas de sua universidade
ter eliminado duplicações de assinaturas de
periódicos impressos disponíveis em versões
eletrônicas, o que, segundo eles, prejudica o acesso
a publicações anteriores, caso a instituição
não tenha mais condições de arcar com
os custos da assinatura. Os defensores do novo sistema, no
entanto, acreditam que a universidade pode economizar recursos
preciosos com o armazenamento de informações
virtuais, pois os periódicos online exigem menos
espaço, gastos e trabalho com a conservação
dos documentos. Davis, da Reed Elsevier, lembra que através
de um laptop o cientista consegue acessar uma enorme
quantidade de artigos científicos em uma hora, o que
normalmente levaria uma semana.
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