Integração de universidades latinas
pode auxiliar desenvolvimento de C&T

A necessidade de uma real integração e intercâmbio das universidades da América Latina, no sentido de fortalecer a produção científica e a promoção de conhecimento regional, foi evidenciada durante o 1º Seminário Internacional Ciência e Tecnologia na América Latina - A Universidade como Promotora do Desenvolvimento Sustentável, realizado na última sexta, dia 30 de julho, na Unicamp. O debate reuniu, em quatro mesas redondas, representantes do Brasil, México, Argentina, Chile, Uruguai, Espanha e França. Para o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, a integração das universidades é frágil porque ainda não há uma programação sistemática nem uma agenda política para isso. "Proponho uma agenda de ação conjunta, nossa troca pode ser muito maior", disse Candotti.

O crescimento da pobreza na Argentina, onde 7 milhões de pessoas da classe média se tornou pobre nas últimas décadas, foi apresentado por Carlos Cassanello, da Agência de Ciência (Secyt), da Argentina, que acredita que o desafio dos países latinos é permitir a absorção social do conhecimento científico e tecnológico. Até a década de 60, o raciocínio na Argentina era que a tecnologia deveria ser comprada de fora. Essa mentalidade mudou a partir da abertura da economia, quando o país começou a definir seus setores estratégicos de produção científica. Mas a formação de novos doutores voltados para isso ainda é muito pequena, com uma média de 400 doutores por ano. O Brasil formou em 2003 cerca de 8 mil doutores e a projeção para 2005 é de 10 mil.

No Chile, o baixo investimento do governo em C&T, que é de 0,7% do PIB nacional, reflete o baixo número de doutores. "Existem poucos institutos de pesquisa e faltam doutores no país, apesar da boa formação de mestres", disse Ariel Orellana, da Universidad de Chile. De acordo com ele, as universidades chilenas têm muito mais convênios com a Europa e os Estados Unidos que com as universidades latinas.
"Os países latinos não devem ser domesticados pelos países ricos, que querem nos impor um sistema educacional que interessa aos países desenvolvidos. A educação não deve ser vista como produto, como eles pretendem", afirmou Marco Antonio Dias, assessor especial do reitor da Universidade das Nações Unidas, França. Na sua opinião, essa política visa a manutenção do domínio atual, que se dá por intermédio das determinações do Banco Mundial, pela privatização do ensino superior e a redução de investimentos nas universidades. Para Renato Dagnino, do Instituto de Geociências da Unicamp, é preciso dessacrilizar a ciência e politizá-la. "Precisamos revisar os modelos atuais para conceber alternativas".

O seminário foi uma realização paralela à XII Conferência Anual do International Association of Universities (IAU), organizada pelas universidades paulistas e sediada na Universidade de São Paulo (USP) de 25 a 29 de julho. Os co-organizadores foram Unicamp, USP, Unesp, UFSCar, Unifesp e AUGM.

 

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Atualizado em 04/08/04
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