Brasil inicia estudo sobre Propulsão Espacial
Pesquisadores do Instituto de Estudos Avançados do Centro Técnico Aeroespacial (IEAv-CTA), em São José dos Campos, iniciaram recentemente uma nova pesquisa sobre a utilização de energia nuclear para propulsão espacial- impulso necessário para mover um objeto no espaço. O objetivo do trabalho é desenvolver uma tecnologia estratégica para garantir às futuras gerações de brasileiros a possibilidade de explorar o espaço. Segundo Lamartine Guimarães, pesquisador responsável pelo estudo, não há no Brasil nenhuma pesquisa específica sobre o assunto, pois nenhum centro de pesquisas universitário reúne as condições e/ou os interesses necessários para se aprofundar neste tema, que exige um conhecimento muito específico.
Guimarães justifica a importância deste estudo em função da exploração do Cinturão de Asteróides (um grande anel localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter que concentra dezenas de milhares de asteróides, corpos rochosos muito pequenos para serem considerados planetas). Segundo o pesquisador, o Cinturão de Asteróides está para a exploração espacial assim como a Antártida está para a exploração da superfície da Terra: "quem tiver acesso a ele ou possuir a tecnologia necessária para isso garantirá seu espaço na faixa do Cinturão de Asteróides, que é muito rico em materiais utilizados hoje em dia para produção de chapas e vigas de aço, semicondutores e etc, o que permitirá construir módulos de estações e naves espaciais utilizando matérias primas provenientes do próprio espaço, reduzindo assim o custo da exploração espacial".
Os Estados Unidos vêm se empenhando há muito tempo na busca de novas tecnologias para tornar as viagens espaciais mais rápidas e com menor custo. A NASA (agência espacial norte-americana) aguarda a aprovação do Congresso norte-americano para a implementação do Projeto Prometheus (http://spacescience.nasa.gov/missions/prometheus.htm), uma iniciativa que prevê a utilização de formas inovadoras de obtenção de eletricidade e impulso a partir de energia nuclear. A meta é construir uma nave capaz de superar as vastas distâncias que separam a Terra dos planetas mais afastados do Sol.
Segundo Guimarães, hoje são necessários 5 anos para se chegar a Júpiter, pois não existe ainda um propulsor espacial capaz de levar uma nave espacial a outros planetas. Guardando as devidas ordens de grandeza, a propulsão espacial de hoje é análoga à propulsão a vela utilizada na época dos grandes descobrimentos. "Naquela época (500 anos atrás) ia-se para onde o vento levava. Hoje, no espaço vai-se para onde a lei gravidade permite", afirma o pesquisador.
O advento do motor a vapor mudou o paradigma da propulsão à vela. Segundo Guimarães, a propulsão nuclear no espaço é o equivalente de hoje ao motor a vapor desenvolvido por James Watt. A propulsão nuclear é capaz, teoricamente, de proporcionar velocidades muito maiores que os foguetes convencionais, além de usar menos combustível, reduzindo o tempo de viagem a Júpiter para aproximadamente um ano e meio, além de permitir o retorno de amostras e otimizar os processos de levantamentos e medidas.
Por enquanto, a pesquisa brasileira conta com um pequeno time de pesquisadores e poucos recursos. Neste estágio inicial, está sendo feita a catalogação dos modelos existentes de propulsores espaciais para que seja avaliado o estado da arte (grau de desenvolvimento técnico-científico) na área. A idéia é, futuramente, construir modelos computacionais. "Dependendo dos recursos físicos e financeiros disponíveis, poderemos elaborar, posteriormente, experimentos demonstrativos", afirma Guimarães. Desta forma, o Brasil demonstra interesse no espaço profundo (qualquer lugar além da órbita da Lua) e poderá garantir sua participação frente às riquezas ainda inexploradas no espaço.