Composto para recuperar solo contaminado reduz impacto ambiental
            
              Um novo composto para recuperação de solos degradados 
              por metais pesados, especialmente o chumbo, promete ser uma alternativa 
              mais viável economicamente, frente às outras técnicas 
              já existentes, além de minimizar o impacto ambiental. 
              Desenvolvido recentemente pelo grupo de pesquisa Vidros e Cerâmicas 
              do Departamento de Física e Química da Faculdade de 
              Engenharia da Unesp de Ilha Solteira, o Agente Recuperador de Solos 
              (ARS), nome dado ao material, sob condições especiais 
              e em contato com o metal pesado ativo promove uma reação 
              que o imobiliza em uma estrutura cristalina estável e mantém 
              o metal inerte no solo. A tecnologia do ARS está baseada 
              na imobilização do metal pesado em minerais fostatados 
              como a piromorfita, um dos minerais mais estáveis quimicamente, 
              apresentando baixa solubilidade em diferentes meios. O processo 
              de recuperação em estudo neutraliza os efeitos nocivos 
              do metal pesado, devolvendo à natureza o que lhe foi tirado 
              por processos químicos e industriais. 
            
               
                 
                   
                    Agente 
                      Recuperador de Solos 
                       
                      O 
                      ARS foi desenvolvido a partir da imobilização 
                      do chumbo ativo encontrado no solo na estrutura de um mineral 
                      estável. Tal processo tem início com a degradação 
                      em meio aquoso de uma matriz de vidro fosfato (Na2O-P2O5), 
                      que reage quimicamente com o chumbo disponível no 
                      solo, transformando-se no mineral denominado Hidroxipiromorfita, 
                      Pb5 (PO4)3(OH). A reação do vidro com o chumbo 
                      dá origem a uma estrutura cristalina geoquimicamente 
                      estável que aprisiona o chumbo em grânulos 
                      de um mineral inerte. 
                   
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            Os 
              testes para verificar a eficácia do novo composto são 
              realizados nas dependências da Acumuladores Ajax Ltda, indústria 
              de baterias com sede em Bauru (SP). A pesquisa, segundo o físico 
              Eudes Borges de Araújo, que trabalha em conjunto com o físico 
              Keizo Yukimitu e o químico Laércio Caetano, é 
              parte de um convênio firmado entre a empresa e a Unesp, visando 
              a recuperação de sítio contaminado no setor 
              metalúrgico da indústria. Em 2002, a Acumuladores 
              Ajax foi responsável pela contaminação de cerca 
              de 40 mil metros quadrados de solo por manejo inadequado de chumbo. 
              A contaminação ocorreu devido ao funcionamento da 
              unidade de reciclagem de baterias nas dependências da empresa.
            
               
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                   Denúncia 
                    por contaminação 
                     
                    A Indústria Acumuladores Ajax Ltda, uma das maiores 
                    fábricas de baterias automotivas do Brasil, é 
                    acusada de ter contaminado com chumbo o solo de sua unidade 
                    de reciclagem de baterias usadas, que funciona desde os anos 
                    60 em Bauru (SP). Uma ação civil pública 
                    foi movida contra a Ajax por uma organização 
                    não-governamental local, o Instituto Ambiental Vidágua, 
                    que denunciava o problema desde 1994. Segundo Rodrigo Agostinho, 
                    um dos autores da denúncia contra a empresa, a área 
                    mais atingida é um raio de mil metros ao redor da empresa 
                    que inclui o Jardim Botânico Municipal, três chácaras 
                    rurais e os bairros Tangarás, Manchester, Parque Bauru, 
                    Bauru 22 e Vila Tecnológica. 
                     
                   
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            Os 
              estudos de laboratório realizados em amostras de solos contaminados 
              por chumbo e submetidas à ação do ARS mostraram-se 
              bastante promissores. "Esta constatação é 
              baseada no fato de que, nestas amostras, foram identificados cristais 
              de piromorfita, resultado da ação do ARS sobre o chumbo 
              disponível no solo contaminado", explica Araújo. 
              A expectativa dos pesquisadores é que sejam reproduzidos 
              em larga escala os resultados obtidos no laboratório. 
            O 
              processo visando à recuperação de locais contaminados 
              por chumbo está, atualmente, em fase de patenteamento. Segundo 
              Araújo, a vantagem da utilização do ARS é 
              que, por ser de baixo custo, é mais fácil viabilizar 
              o seu uso em larga escala. Até hoje, as tentativas de recuperação 
              desses solos contaminados mostraram-se inviáveis, prática 
              e financeiramente. Os diferentes processos empregados na solução 
              de problemas relativos à recuperação de sítios 
              contaminados por chumbo incluíam, por exemplo, a remoção 
              e o tratamento do solo contaminado ou a utilização 
              de barreiras químicas de contenção e isolamento 
              da área. Além de não resolverem satisfatoriamente 
              o problema, essas técnicas, causam grandes impactos ao meio 
              ambiente.
            Como 
              o projeto do ARS ainda está em fase de andamento, o efeito 
              deste material sobre o organismo humano ainda deve ser estudado 
              em detalhes. Mas Araújo destaca que estudos preliminares 
              revelaram que o mineral resultante da ação do ARS 
              possui grande estabilidade em ambientes agressivos, em particular 
              se exposto a meios ácidos - uma tentativa inicial de simular 
              o ambiente ao qual o mineral estaria sujeito se ingerido acidentalmente. 
              Ele alerta, porém, que é preciso alguns cuidados no 
              manuseio e aplicação desse composto, já que 
              pode ocorrer alguma irritação na pele. 
            No 
              Brasil, tem-se o conhecimento de inúmeras áreas contaminadas 
              por chumbo. Além de Bauru, tem-se também o caso do 
              Vale do Ribeira, onde já foi comprovada a contaminação 
              do solo por este metal pesado, conforme resultados do Projeto Paisagens 
              Geoquímicas e Ambientais do Vale do Ribeira - desenvolvida 
              em uma parceria do Instituto de Geociências e da Faculdade 
              de Medicina da Unicamp, do Instituto Adolf Lutz, da Universidade 
              Estadual de Londrina e do Serviço Geológico do Brasil. 
              Segundo Araújo, no caso do Vale do Ribeira, seria necessário 
              fazer um estudo de viabilidade para saber se o ARS poderia ser aplicado. 
              "Porém, no âmbito mais geral, não há 
              impedimento quanto ao uso desta tecnologia na recuperação 
              deste sítio", explica. 
            
              A Indústria Acumuladores Ajax Ltda, uma das maiores fábricas 
              de baterias automotivas do Brasil, é acusada de ter contaminado 
              com chumbo o solo de sua unidade de reciclagem de baterias usadas, 
              que funciona desde os anos 60 em Bauru (SP). Uma ação 
              civil pública foi movida contra a Ajax por uma organização 
              não-governamental local, o Instituto Ambiental Vidágua, 
              que denunciava o problema desde 1994. Segundo Rodrigo Agostinho, 
              um dos autores da denúncia contra a empresa, a área 
              mais atingida é um raio de mil metros ao redor da empresa 
              que inclui o Jardim Botânico Municipal, três chácaras 
              rurais e os bairros Tangarás, Manchester, Parque Bauru, Bauru 
              22 e Vila Tecnológica.
              
              A empresa, de acordo com Agostinho, recebeu 27 autuações 
              antes de ser interditada pela Cetesb, órgão ambiental 
              do Estado de São Paulo. "A interdição 
              da Cetesb foi derrubada no Tribunal de Justiça, mas a interdição 
              judicial foi mantida. As autuações somam mais de R$ 
              300 mil". A empresa está interditada e seus bens continuam 
              bloqueados para garantir o pagamento das indenizações. 
              "As crianças estão sendo tratadas, mas os adultos 
              sequer tiveram o sangue coletado para exames", informa Agostinho. 
              O processo está na fase de perícia do dano. As multas, 
              segundo ele, ainda não foram pagas e a empresa está 
              recorrendo na justiça.
            A 
              ONG estima que mais de 20 mil pessoas tenham sido contaminadas durante 
              todo esse período de atuação da empresa. Trezentas 
              crianças foram seriamente afetadas. Exames efetuados pela 
              Secretaria Municipal de Saúde e pela Secretaria Estadual 
              de Saúde apontaram que algumas crianças apresentaram 
              concentrações de chumbo no sangue superiores aos 10 
              microgramas por decilitro estabelecidos como limite tolerável 
              pela Organização Mundial da Saúde.