Produção científica mundial reserva lugar
para poucos
No mundo científico não é novidade que os países
mais desenvolvidos liderem a produção de ciência
e tecnologia mundial. Dos 193 países do mundo, apenas 8 respondem
por quase 85% dos artigos científicos mais citados pela academia
- uma das formas de medir a qualidade e a quantidade da ciência.
Mas em artigo
publicado no último dia 15, na revista científica
Nature (vol.430), mostrou que as nações emergentes,
como China e Índia, têm investido na formação
de cientistas, em infra-estrutura e investimentos em C&T, o
que reflete em um desenvolvimento rápido e efetivo de suas
bases científicas. Os ciclos de pobreza e dependência,
no entanto, só serão quebrados, de acordo com o artigo,
quando as nações que detém altas capacidades
científicas auxiliarem aquelas com baixo potencial.
David
King, chefe do Escritório de Ciência e Tecnologia (OST)
britânico, analisou 31 países, incluindo o Brasil,
que respondem por cerca de 98% dos artigos mais citados do mundo
- em uma mostra de 1% dos mais citados - nos últimos dez
anos e que estão disponíveis no Thompson ISI, um banco
de dados que inclui mais de 8 mil periódicos científicos
em 36 línguas.
Na
análise, o Brasil, único representante da América
Latina considerado neste estudo, aparece em 24º lugar no ranking
dos artigos mais citados, atrás de China (20º), Coréia
do Sul (21º) e Índia (23º), mas na frente de Taiwan,
Irlanda, Grécia, Singapura, Portugal, África do Sul,
Irã e Luxemburgo. Dos 27.874 artigos publicados entre 1993
e 1997, o país saltou para 43.971 entre 1997 e 2001, um aumento
de cerca de 58%. Países em desenvolvimento, como África
do Sul, China, Índia, Coréia do Sul e Irã,
também registraram aumentos.
Os
Estados Unidos, que sempre foram o gigante em volume de publicações
e citações entre pares, começam a ser ultrapassados
pelos países da União Européia (aqui representados
pelos 15 primeiros países membro), em número de artigos
científicos, igualando-se em pesquisas na área de
física, engenharias e matemática, embora haja ainda
uma defasagem em relação às ciências
naturais. Mesmo assim, os EUA ainda lideram os ranks de top-cientistas,
com 66%, fato que poderia estar ligado, segundo King, à oferta
dos mais altos salários pagos pelas universidades e instituições
científicas norte-americanas. "As nações
européias precisarão melhorar os salários e
as condições para competir pelos talentos criativos
de excelência", sugere o autor do artigo.
O
grupo formado por EUA, União Européia, Reino Unido,
Alemanha, Japão, França, Canadá e Itália
produz 84.5% das publicações mais citadas entre 1993
e 2001, enquanto o grupo ao qual o Brasil pertence, junto com outras
14 nações, produz apenas 2.5%.
O
artigo também enfatiza a importância de se buscar parcerias
entre as universidades e o setor privado para financiar a pesquisa
e o desenvolvimento. Os cientistas do Reino Unido, por exemplo,
após terem sofrido cortes nos investimentos públicos
para a ciência entre 1980 e 1995, recorreram à indústria
e a União Européia, o que permite hoje maiores investimentos
públicos no financiamento e na reestruturação
de infra-estrutura para a pesquisa local.
Leandro
Innocentini Lopes de Farias, cientista da informação
da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), lembra que
o Brasil está mais atento para esforços que convergem
para uma melhor tradução do conhecimento produzido
nas universidades para produtos e inovações, citando
os Fundos Setoriais, a nova lei de inovação e um esforço
das universidades em facilitar os depósitos de patentes.
Ele lembra dos esforços da Fapesp em financiar programas
específicos voltados para a inovação dentro
de empresas. O Programa Inovação Tecnológica
em Pequenas Empresas (Pipe), por exemplo, iniciado em 1997, já
investiu cerca de R$55 milhões em 330 projetos. Segundo a
Fundação, os recursos do Pipe permitiram a criação
e consolidação de 287 empresas em 63 municípios
do Estado de São Paulo. "Nos últimos anos, o
Brasil despertou para esta realidade [de transformar o conhecimento
em produtos] e está procurando agir nesta direção",
afirmou o pesquisador.