OAB 
              defende maior rigor na avaliação 
              de cursos de direito
            O 
              índice recorde de reprovação nos exames da 
              Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), divulgados no início 
              do mês, demonstram as péssimas condições 
              das Faculdades de Direito espalhadas por todo país. A opinião 
              é compartilhada pelos professores de direito da Universidade 
              de São Paulo (USP), Otávio Pinto e Silva, de Direito 
              do Trabalho, e Ivette Senise Ferreira, Conselheira da OAB e uma 
              das responsáveis pelo exame em São Paulo. Os dados 
              apresentados no início do mês - 73% dos inscritos em 
              todo país foram reprovados - reacenderam os debates sobre 
              a qualidade do ensino jurídico e levou a Ordem a reivindicar 
              o direito de veto em relação à abertura de 
              novos cursos no país. Embora esta atribuição 
              tenha sido negada pelo Ministério da Educação 
              (MEC), ela culminou na criação de um grupo de trabalho, 
              com a participação da OAB, que irá acompanhar 
              a aprovação de novos cursos. 
            As 
              críticas da OAB às novas Faculdades de Direito aumentaram 
              durante o governo FHC, quando o MEC chegou a diminuir as regras 
              para a abertura de cursos. Na ocasião, foram eliminados o 
              currículo mínimo e a obrigatoriedade de biblioteca, 
              além de ter sido admitida a possibilidade de cursos com a 
              duração de apenas três anos. As medidas foram 
              revertidas no início do governo Lula, porém as críticas 
              em relação à existência de Faculdades 
              ruins continuaram, levando o ministro da educação, 
              Tarso Genro, a suspender, em fevereiro, a abertura de novos cursos 
              por 180 dias. Nesse período, o Ministério fixou novos 
              parâmetros para a autorização dos mesmos, como 
              o índice de desenvolvimento da região onde a Faculdade 
              está instalada e o número de profissionais em relação 
              à população. A suspensão terminou no 
              início deste mês, quando foi autorizada a criação 
              de quatro novos cursos, já obedecendo aos novos critérios, 
              em Santa Maria (RS), Taboão da Serra (SP), Eunápolis 
              (BA) e Formosa (GO).
            No 
              entanto, a polêmica estendeu-se com a divulgação 
              dos índices recordes de reprovação. Em alguns 
              casos, como no estado de São Paulo, a reprovação 
              atingiu 86,8 %. Em Santa Catarina, houve o registro do pior desempenho: 
              87,13% dos candidatos não passaram no exame. Os melhores 
              resultados ocorreram na Bahia e no Distrito Federal, com 50,36% 
              e 45,23% de aprovação, respectivamente. 
            Os 
              percentuais apresentados levaram a OAB a reivindicar, junto ao MEC, 
              o poder de veto para abertura de novos cursos e até mesmo 
              autonomia para fechar alguns já existentes. Segundo Ivette 
              Senise Ferreira, a proposta foi motivada pela pouca eficiência 
              do MEC em fiscalizar a existência de condições 
              mínimas para o andamento dos cursos: "Muitas vezes as 
              Faculdades apresentam ao MEC, na abertura do curso, um corpo docente 
              qualificado e uma ótima estrutura. Porém, constata-se, 
              ao longo do ano letivo, que outros professores ministram as aulas 
              e que as instalações são emprestadas". 
              Para Ferreira, a proposta da OAB poderia sanar esse problema, já 
              que a instituição está presente em todos os 
              estados, na capital e no interior, e tem condições 
              de fazer uma fiscalização contínua do cumprimento 
              dos critérios técnicos fixados pelo MEC para avaliar 
              os cursos.
            Para 
              Otávio Pinto e Silva, da USP, uma marca dos exames da Ordem 
              é o rigor exigido, o que também contribui para os 
              altos índices de reprovação, mas que ele considera 
              necessário, tendo em vista a repercussão social da 
              futura atuação profissional dos candidatos. "Se 
              a OAB pudesse vetar os novos cursos, certamente também haveria 
              maior rigor na aprovação dos mesmos", afirma. 
              
            O 
              Ministro da Educação, apesar de negar publicamente 
              o direito a veto à instituição, anunciou a 
              criação de um grupo de trabalho para discutir os rumos 
              do ensino jurídico no país, composto por representantes 
              do MEC, da OAB e do Conselho Nacional de Educação 
              (CNE). Apesar de não atender totalmente aos anseios da OAB, 
              Ferreira vê com bons olhos a criação do grupo 
              de trabalho. "Esperamos assim ter mais voz junto ao MEC e defender 
              as necessidades mais prementes para a nossa área", afirma.
            A 
              professora também considera que, por enquanto, o exame da 
              Ordem ainda é um dos principais meios para sinalizar a qualidade 
              das faculdades, mesmo sem ser este seu objetivo principal. A classificação 
              das faculdades que mais aprovaram nos três exames da OAB-SP 
              realizados no ano passado deve ser divulgada nas próximas 
              semanas. "Essa classificação é feita há 
              vários anos, porém nunca se viu uma necessidade tão 
              grande de divulgar esses dados, devido ao grande número de 
              reprovados e de Faculdades ruins", conclui Ferreira.
            A 
              aprovação no exame da OAB é pré-requisito 
              para o bacharel exercer a advocacia. Segundo os especialistas, podem 
              existir diferenças significativas nas provas aplicadas em 
              cada estado, o que visa atender às particularidades regionais 
              da prática do Direito, mas contribui para existir estados 
              com exames menos rigorosos.