Ensino
religioso confessional deve
começar no segundo semestre
As aulas do ensino religioso confessional, dividido por credo, devem
começar no segundo semestre nas escolas da rede pública
do Rio de Janeiro, apesar da polêmica que a lei estadual colocada
em prática pela governadora Rosinha Garotinho tem provocado
em diversos segmentos da sociedade. Para os críticos, o próprio
ensino religioso estabelecido por lei federal já fere o princípio
constitucional da separação entre Estado e Igreja.
No
Rio de Janeiro, as aulas de religião serão abordadas
de acordo com as preferências manifestadas pelos responsáveis
ou pelos próprios alunos a partir de 16 anos. "O ensino
religioso, tanto antes quanto agora, se aplica conforme o conteúdo
emitido pelas autoridades religiosas competentes de cada credo.
Cabe ao professor adequar sua disciplina ao projeto pedagógico
da escola. A partir da religiosidade do aluno, o professor deverá
fornecer a formação de uma cidadania mais solidária
e tolerante com seus semelhantes", explica Ediléia Santos,
coordenadora de Educação Religiosa da Secretaria de
Estado de Educação do Rio de Janeiro.
Segundo
Santos, o processo de implantação do ensino religioso
está sendo realizado de forma ordenada e pacífica
nas escolas. Nas unidades escolares da rede em que o ensino religioso
já foi implantado, ela assegura que a aceitação
dos pais, alunos e professores foi boa. "Não registramos
nenhum tipo de transtorno", afirma.
Ela
diz que a implantação do ensino religioso nas escolas
do Rio não é uma questão de justificativas,
mas de cumprimento da lei. Para a coordenadora, "quem critica
essa medida deve, usando seus direitos de expressão e de
pressão legítima como formadores de opinião,
garantidos pela democracia, lutar para que os legisladores revoguem
ou alterem o artigo. E não condenar quem cumpre as leis".
Em
2000, o deputado Carlos Minc (PT-RJ) apresentou um projeto de lei
que alterava o caráter confessional do ensino religioso proposto
para o estado. "Pelo nosso projeto de lei, o ensino religioso
poderia ser ministrado por professores de quaisquer disciplinas,
desde que devidamente capacitados. Certamente, professores formados
em história, filosofia, sociologia poderiam dar noções
de religião sob o enfoque antropológico", acredita.
O plenário da Assembléia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro (Alerj) chegou a aprovar o projeto de lei, em outubro
de 2003, que foi, no entanto, vetado pela governadora.
O
concurso público para a contratação de professores
de religião confessional foi então realizado no início
do ano. O Estado ofereceu 500 vagas, sendo 342 para o credo católico,
132 para o evangélico e 26 para as demais religiões.
De acordo com Santos, o número de vagas foi determinado com
base em estudo promovido pela Secretaria de Estado de Educação
nas unidades escolares em 2001. A pesquisa apontou que, em média,
65% dos alunos da rede são católicos, 25% são
evangélicos (todas as denominações), 5% pertencem
a outros credos (kardesistas, batistas etc) e 5% dos estudantes
afirmaram não ter nenhum tipo religião.
Santos
não considera a divisão das turmas por credo excludente.
"Com base em informações amplas e democráticas,
os estudantes terão condições de tomar uma
decisão individual não só sobre a sua religião,
mas sobre sua visão de mundo, seu caminho profissional etc",
acredita.
Ela
conta que, em junho de 2003, a governadora recebeu Dom Euzébio
Scheid, arcebispo do Rio, e 17 bispos do estado. "Deles, recebeu
todo o apoio pela inclusão do ensino religioso da rede pública
estadual, numa demonstração de que ele é confessional
e plural, não parcial. Democrático, não impositivo,
até porque a matrícula é facultativa. E traduz
a vontade dos outros setores que não o governo, pois a lei
foi aprovada pela Assembléia Legislativa, instituição
representante da sociedade", argumenta.
Na
opinião do pedagogo Sérgio Junqueira, coordenador
do Fórum Permanente do Ensino Religioso e professor da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, dividir as crianças
dentro da sala de aula pelo critério de religião é
ensinar a não aceitação das diferenças.
"Acredito que seja possível conviver com as diferenças",
conclui.
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- Entrevista
completa com Carlos Minc