Programa 
              auxilia pequenas e médias 
              empresas a exportar 
            Após 
              a "onda globalizante" que tomou conta de grande parte 
              dos países em desenvolvimento na década de 90, hoje 
              parece haver um posicionamento mais realista em relação 
              à globalização econômica e aos benefícios 
              e desvantagens que acompanham esse processo. Mais do que isso, os 
              países em desenvolvimento estão descobrindo que a 
              retomada da "velha agenda" de desenvolvimento do potencial 
              industrial nacional e mercado interno é quase sempre mais 
              vantajosa que a tão falada adesão à agenda 
              internacional. "Hoje podemos fazer um balanço do que 
              foi dito, feito e quais os reais resultados da liberalização 
              de mercados e da aposta em 'nossa vocação agrícola'", 
              argumentou Fernando Sarti, do Instituto de Economia da Unicamp. 
              
            Como 
              alerta Sarti, essa mudança é gradual e sujeita a entraves 
              que envolvem tanto política interna, como externa. O discurso 
              sobre o crescimento e benefícios de ser um grande exportador 
              de produtos agrícolas ainda é forte no governo e na 
              mídia. No entanto, dois casos concretos sinalizam uma mudança 
              na postura referente ao comércio intenacional nos países 
              em desenvolvimento. O primeiro em âmbito global, foram as 
              discussões que aconteceram no mês passado em São 
              Paulo, na Conferência das Nações Unidas sobre 
              Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, em inglês) (leia 
              mais sobre assunto). O segundo, em âmbito interno, acontece 
              por meio de iniciativas do governo federal, como o Programa 
              de Apoio Tecnológico a Exportação (Progex). 
              
            O 
              Progex oferece subsídios através da Financiadora de 
              Estudos e Projetos (Finep) para que institutos de pesquisa trabalhem 
              junto a empresas que queriam exportar promovendo adequação 
              tecnológica e/ou desenvolvimento de produtos. No Brasil, 
              além do predomínio da exportação de 
              produtos de baixo valor agregado e de baixa intensidade tecnológica, 
              as grandes empresas controlam aproximadamente 80% das exportações. 
              Uma das formas de agregar valor às exportações 
              e desenvolver o mercado interno é fortalecer as pequenas 
              e médias empresas nacionais e criar condições 
              para que elas possam exportar.
            "As 
              vantagens do Progex são grandes para a empresa e para o país. 
              Quando entra no programa, a empresa promove um upgrade, aumentando 
              sua competitividade e lucro; conseqüentemente, aumenta o número 
              de empregos e gera renda, além de contribuir para melhorar 
              o desempenho da nossa balança comercial com a exportação 
              de produtos de maior valor agregado", enfatiza Rosângela 
              Leite, coordenadora do Grupo de Apoio a Exportação 
              (Gaex), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital).
            No 
              entanto, os especialistas na área econômica alertam 
              que uma mudança na pauta das exportações depende 
              de medidas mais integradas. "São necessárias 
              medidas que visem uma atuação mais efetiva em toda 
              a cadeia de valor adicionado, mas o programa é válido 
              para promover as exportações mais sofisticadas de 
              pequenas e médias empresa", analisou Mário Presser, 
              coordenador do Curso de Extensão em Diplomacia Econômica 
              da Unicamp.
            Desafio 
              de agregar tecnologia e valor aos produtos
              É 
              importante entender porque as pessoas insistem na idéia de 
              que se deve produzir mercadorias com maior valor agregado. "É 
              uma questão aritmética: quando você olha para 
              o comércio internacional, dois terços do mercado é 
              formado por produtos de médio e de alta intensidade tecnológica. 
              É, antes de tudo, uma questão de tamanho e dinamismo 
              de mercado", explica o economista. 
            Quando 
              analisamos a pauta de exportação de um país 
              é necessário estabelecer a diferença entre 
              produtos de alto valor agregado e de alta intensidade tecnológica. 
              "Há uma associação entre esses dois termos 
              mais eles não são sinônimos", lembra Sarti. 
              Os produtos de maior valor agregado geram mais renda para o país, 
              causando um processo de internalização de riqueza 
              através do lucro, impostos, emprego e salários para 
              os trabalhadores. "Um exemplo dessa diferença é 
              o que ocorre no México, onde na pauta de exportação, 
              mais de 70% são produtos de média e alta intensidade 
              tecnológica, mas que importam praticamente a mesma quantidade. 
              Na verdade, eles apenas montam e re-exportam produtos tecnológicos", 
              argumenta o economista. 
            Para 
              empresas de pequeno e médio porte, competir no mercado internacional 
              de produtos industrializados não é simples. Existem 
              dificuldades relacionadas à quantidade de produtos necessária 
              para viabilizar a exportação, à capacidade 
              de atender à demanda do mercado externo, barreiras de legislação, 
              entre outras. "O Brasil está acostumado a exportar para 
              países como Japão e Estados Unidos, que chamamos de 
              mercados tradicionais, mas para os mercados não tradicionais 
              ainda temos bastante dificuldade para adequação dos 
              produtos", afirmou a coordenadora do Gaex. 
            O 
              aumento da participação de pequenas e médias 
              empresas nas exportações é visto de forma positiva 
              também por Sarti, mas o economista também salienta 
              que não se deve supervalorizar a capacidade dessas empresas 
              em modificar nossa pauta de exportações. "As 
              pequenas e médias empresas, sem dúvida, precisam de 
              programas como o Progex para exportar. Mas, essas empresas não 
              irão equacionar o problema das exportações. 
              Isso ainda vai ficar a cargo de empresas maiores, que estarão 
              interessadas em desenvolver produtos aqui, principalmente se nosso 
              mercado interno for atraente", conclui.