Pesquisadores 
              precisam dialogar mais com
              gestores de áreas de conservação
            As 
              áreas de preservação ambiental são, 
              geralmente, criadas a partir de critérios fortemente baseados 
              no conhecimento científico, como biodiversidade, espécies 
              endêmicas (que só ocorrem na região) e tipo 
              de ecossistema. Depois de criadas, essas áreas são 
              gerenciadas para que sejam definidos os locais aptos para receber 
              turistas e aqueles destinados à preservação 
              permanente, por exemplo. É nesse momento que, de acordo com 
              Paula Drummond de Castro, pesquisadora do Instituto de Geociências 
              (IG) da Unicamp, surge uma distância muito grande entre pesquisadores 
              e gestores por falta de diálogo.
            Para 
              Castro, é preciso fazer uma elaboração melhor 
              dos planos de gestão dessas áreas por parte das instituições 
              responsáveis e um comprometimento maior dos pesquisadores 
              com o retorno de suas pesquisas às equipes gestoras. Esta 
              discussão faz parte de sua dissertação de mestrado, 
              intitulada Ciência e Gestão em Unidades de Conservação: 
              o caso do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), 
              Vale do Ribeira, SP, defendida no final de junho no IG, na Unicamp.
            O 
              distanciamento entre a pesquisa e a gestão das Unidades de 
              Conservação (UCs) acontece por diversos fatores. Por 
              um lado, há a compreensão, por parte das instituições 
              responsáveis pelas UCs, de que "pesquisa ideal" 
              é aquela que é amplamente divulgada mas não 
              necessariamente ligada às necessidades da UC. "Com isso, 
              os gestores se apresentam como figuras inertes neste processo de 
              interação entre pesquisa e gestão ficando à 
              mercê exclusivamente da disponibilidade do pesquisador em 
              divulgar sua 'pesquisa ideal'", explica Castro. Por outro lado, 
              poucas UCs têm um plano de gestão (ou de manejo, como 
              é normalmente chamado) elaborado. No estado de São 
              Paulo, apenas 20% das 109 UCs existentes têm seus planos de 
              manejo publicados ou em publicação. 
            Para 
              Kátia Pisciotta, assessora técnica do Instituto Florestal 
              (IF), órgão responsável pela manutenção 
              das UCs, na área de gestão e planejamento da Divisão 
              de Reservas e Parques, a complexidade das situações 
              e instituições envolvidas na gestão de uma 
              UC faz com que a elaboração e execução 
              dos planos de manejo se tornem muito difíceis. "A conservação 
              dessas áreas precisaria ser uma política de estado 
              efetiva. Alguns problemas acabam dificultando a gestão dessas 
              áreas como, por exemplo, a situação fundiária 
              irregular", ressalta Pisciotta.
            No 
              Petar, localizado no sul do estado de São Paulo e conhecido, 
              principalmente, pelo grande número de cavernas que possui, 
              a situação não difere muito do panorama nacional 
              e estadual. O Parque, criado em 1958 a partir de uma grande movimentação, 
              principalmente da comunidade científica, para a preservação 
              de suas cavernas, não possui um plano de manejo elaborado 
              e tem graves problemas fundiários. Em seu trabalho, Castro 
              analisou 118 projetos de pesquisa realizados ou em andamento no 
              Petar desde 1992, cadastrados na sede do Parque. Apesar do grande 
              aumento do número de pesquisas nesse período, cerca 
              de 85% delas são realizadas por pesquisadores que não 
              estão ligados ao Instituto Florestal, mas à universidade. 
              "Isso significa para o IF uma economia de recursos financeiros 
              e humanos, mas por outro lado, é também uma submissão 
              à agenda de pesquisas das universidades, que não necessariamente 
              coincide com as necessidades de gestão do Parque", diz 
              Castro.
            Mesmo 
              incentivada, o uso da Ciência para a gestão do Parque 
              é bem limitada. "Falta uma comunicação 
              física, já que as pesquisas não estão 
              disponíveis para os gestores", explica Castro. Para 
              Pisciotta, a participação da comunidade científica 
              se dá principalmente para as caracterizações 
              econômica, física e social da área, mas dificilmente 
              as pesquisas auxiliam nas questões ligadas à gestão. 
              Para ela, a organização de um Conselho Consultivo 
              para a UC incluindo pesquisadores pode ser um caminho para melhorar 
              esse diálogo. "Os pesquisadores podem, por meio desses 
              Conselhos, ficar mais próximos à realidade da UC e 
              pensar de que forma o conhecimento que estão gerando pode 
              auxiliar na gestão da área", conclui.