Cooperação
entre Brasil e Itália busca unir conservação
e desenvolvimento
A
crescente preocupação com a biopirataria tem incentivado
alguns projetos de cooperação internacional voltados
à conservação e uso sustentável da diversidade
biológica. Esse é o caso do "Programa Biodiversidade
Brasil-Itália", que contará no Brasil com a participação
da Embrapa e do Ibama e, na Itália, do Istituto Agronomico
per l'Oltremare (IAO),
órgão de cooperação técnico-científica
nas áreas de agricultura e meio ambiente do Ministério
das Relações Exteriores italiano.
O
programa que,
de acordo com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia,
é o maior projeto de cooperação realizado até
hoje entre os dois países, prevê a aplicação
de ferramentas da biologia molecular para rastrear produtos ou fazer
a identificação genética de caracteres complexos
(como sabor ou substâncias ativas) em cultivos de importância
agroalimentar. Porém, a pesquisa genética e biotecnológica
vai ser somente uma ferramenta no âmbito do projeto, cujo
enfoque principal não é a pesquisa pura, nem a conservação
por si mesma, mas a geração de oportunidades de desenvolvimento
nas quais as comunidades locais sejam sujeitos ativos e beneficiários.
O
projeto, que nasceu no ano passado e entra na fase operativa a partir
desse semestre, terá duração de três
anos e se articula em quatro áreas principais de atuação,
situadas na Amazônia, no cerrado e no semi-árido: as
comunidades de Araripe (Ceará) e Cazumbá (Acre), os
povos indígenas Krahô (Tocantins) e o projeto Montes
Claros que, por sua vez, envolve comunidades da região Norte
de Minas Gerais, de Cidade Ocidental (Goiás), do Ceará
e Sergipe. O objetivo é viabilizar, por meio da participação
efetiva das comunidades tradicionais e de pequenos produtores, soluções
para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade
na natureza (in situ) e nas áreas de atividade agrícola
(on farm), para aliviar a pobreza e melhorar a segurança
alimentar das populações-alvo.
"Nossa
idéia inicial", explica Roberto Bocci, agrônomo
do IAO e um dos responsáveis do programa na Itália,
"era estudar a biodiversidade agrícola. Porém,
a importância do extrativismo em muitas comunidades rurais
e tradicionais no Brasil, tanto para alimentação ou
fitoterapia quanto para geração de renda, nos levou
a considerar também a biodiversidade silvestre".
De
julho a dezembro, estão previstas ações de
sensibilização pública e capacitação
técnica de pesquisadores brasileiros e italianos. Em setembro,
de acordo com Bocci, é previsto um encontro na Itália,
enquanto em Brasília, de acordo com Marcello Broggio (responsável
do IAO pela parte brasileira), está sendo planejado, provavelmente
para outubro, um evento de divulgação do programa.
No
entanto, os pesquisadores já projetaram a estrutura participativa
do programa junto às comunidades locais, e definiram os detalhes
éticos e legais. "Discutimos um código de conduta
para o projeto", diz Bocci, "para esclarecer aspectos
delicados, ligados à propriedade intelectual, acesso a recursos
genéticos e repartição dos benefícios".
A pesquisa de campo e a coleta de material serão desenvolvidas
no Brasil, sem transportar amostras fora do país. Na Itália
estão previstos encontros de formação conjunta
para pesquisadores brasileiros e italianos.