Casa Branca deixa de custear viagem de cientistas para conferência 
              sobre aids
            
              O Cientistas dos Estados Unidos, o maior financiador da pesquisa 
              em remédios anti-aids no mundo, são a ausência 
              notada na Conferência Internacional sobre Aids, realizada 
              pela ONU em Bancoc, na Tailândia, que começou no dia 
              11 e vai até o dia 16. Na última reunião, que 
              é realizada a cada dois anos, a delegação norte-americana 
              foi de 236 pessoas, contra 50 presentes neste ano. A diferença, 
              longe de ser casual, reflete a política do governo Bush de 
              ênfase ao comportamento puritano para o combate à doença.
            Funcionários 
              do governo dizem que o motivo é a redução dos 
              recursos disponíveis - que caíram de US$ 3,6 milhões 
              na última edição para US$ 500 mil este ano 
              - mas um dos delegados presentes no evento contradiz a informação. 
              De acordo com o professor de Harvard e conselheiro de Bush, Edward 
              Green, a última conferência enfatizou as críticas 
              às políticas que privilegiam a abstinência sexual 
              e esse foi um dos motivos para a redução da delegação. 
              Algumas apresentações que já haviam sido aceitas 
              para a conferência tiveram que ser canceladas.
            A 
              política de combate à aids patrocinada pela Agência 
              norte- americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), responsável 
              pela maior parte da ajuda financeira aos países pobres, principalmente 
              da África, privilegia aqueles que adotam a chamada política 
              ABC. Em inglês, a sigla significa abstinência, fidelidade 
              e camisinha "quando apropriado" (''abstinence, 
              be faithful, and correct and consistent condom use'').
            O 
              principal ponto de controvérsia está na letra "C". 
              O plano do governo dos EUA prevê que camisinhas sejam distribuídas 
              somente "próximas a áreas em que costumam acontecer 
              comportamentos de risco", como bordéis. Para os solteiros, 
              seria recomendada a abstinência sexual. No total, o plano 
              prevê um gasto de US$ 15 bilhões em cinco anos, destinados 
              a 15 países, sendo 12 da África. Em Bancoc, grupos 
              que questionam essa política - entre estes alguns que perderam 
              financiamento norte-americano por apoiarem o aborto - debaterão 
              com os representantes dos EUA.
            Críticas 
              abertas à política partiram também da Unaids, 
              órgão da ONU responsável pela coordenação 
              de políticas globais de combate à aids. "Nós 
              sabemos que camisinhas salvam vidas. Nós não estamos 
              no ramo da moralidade. A promoção do uso da camisinha 
              deveria ser parte da educação social dos jovens", 
              declarou o diretor-executivo da Unaids à revista semanal 
              inglesa Observer. A mesma matéria informa que grupos católicos 
              dos EUA enviaram circulares para bispos africanos pedindo que reportem 
              sobre funcionários dos governos de seus países que 
              expressem opiniões anti-católicas ou anti-abstinência.
            Genéricos 
              para os pobres
              Em Bancoc, o Fundo Global para o Combate da aids, Tuberculose e 
              Malária, entidade principal no financiamento de campanhas 
              anti-aids, pediu no último dia 13 a aprovação 
              rápida por parte dos Estados Unidos dos remédios genéricos. 
              A medida tornará possível o uso de financiamento norte-americano 
              para a compra de remédios para países subdesenvolvidos. 
              Em maio, os EUA anunciaram que agilizariam a aprovação 
              sanitária desses medicamentos pelos seus órgãos 
              de saúde. Os remédios não poderão ser 
              utilizados nos Estados Unidos pois estão sob proteção 
              de patentes. De acordo com a ONG ActionAid, as drogas anti-retrovirais, 
              que podem custar US$ 140 nos países pobres, chegam a custar 
              US$ 470 por paciente nos países ricos.