Propostas de recursos da Educação polemizam prioridades
do governo
O Diante da falta de verbas enfrentada pelo governo, novas fontes
de recursos estão na pauta do Ministério da Educação
(MEC), que tem estudado propostas alternativas de obtenção
de recursos. Dentre elas, destaca-se a idéia de destinar
parte do dinheiro proveniente de penalizações de práticas
ilícitas para a educação, o que implicaria
em encaminhar ao MEC os valores apreendidos pela justiça.
A proposta foi feita pelo presidente da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, ao ministro
da educação, Tarso Genro, no início de julho.
O projeto de lei, que é baseado no Código Penal Brasileiro,
está em fase de estudo sobre sua viabilidade jurídica
para só então poder ser encaminhado ao Congresso Nacional,
mas ele já levantou o debate sobre os recursos da educação.
"Um
dos principais desafios da qualificação da educação
brasileira é investir mais recursos, mas o cobertor dos recursos
públicos do país é curto, então há
sempre uma busca de novas fontes de financiamento para a área
social", diz Fernando Rossetti, que é cientista social
e consultor do Unicef. Rossetti acredita que qualquer proposta que
leve mais dinheiro à educação é relevante
e deve ser considerada, mas ele lembra que a CPMF, que foi criada
no mesmo contexto, deveria ser destinada à saúde e
acabou sendo desviada para outros fins.
"Falta
vontade política para que realmente sejam priorizados os
recursos públicos para a educação ao longo
de, pelo menos, duas décadas", diz Rossetti. Para ele,
é preciso investir mais em educação, como fez
a Coréia do Sul, que até a década de 80 era
um dos países mais pobres da Ásia e hoje é
uma das principais potências econômicas. Entre as prioridades
do governo estava o investimento em Educação, criando
um sistema que incluía a distribuição de livros
para educação primária, alfabetização
de adultos, descentralização da administração
educacional e implementação da educação
obrigatória.
A
polêmica em relação à proposta aumentou
com o pronunciamento do Ministério da Fazenda, em edição
do jornal O Estado de S. Paulo, do dia 4 de julho, em favor da desvinculação
dos recursos para a Educação em detrimento de mais
investimento do governo federal em infra-estrutura. Tal política
choca-se com as propostas do MEC.
A
coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação-Ação
Educativa, Denise Carreira, preferiu não se manifestar sobre
a proposta da SBPC, mas informou que a entidade publicou nota pública
contra o posicionamento do Ministério da Fazenda. "Nós
pregamos mais recursos para a área. Esta proposta da Fazenda
resulta de compromisso assinado em novembro com o FMI, vai contra
nossa luta de efetivação dos direitos educacionais",
afirma Carreira. A Ação Educativa é uma rede
da sociedade civil que reúne cerca de 200 organizações,
entre sindicatos, ONGs e entidades civis.
"A
vinculação de recursos para a saúde e a educação
públicas é uma conquista histórica da sociedade
brasileira, diante de um Estado que tradicionalmente nunca priorizou
o enfrentamento da dívida social do país", diz
a nota. Segundo Carreira, a Ação Educativa defende
a revisão das prioridades governamentais e propõe
que se mexa na atual distribuição de recursos. A proposta
é que o governo aumente de 4,6% para 8% do Produto Interno
Bruto (PIB) destinado à educação.
Este
seria, inclusive, outro compromisso de campanha do então
candidato Luiz Inácio Lula da Silva: derrubar os vetos decretados
pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao Plano Nacional de
Educação (PNE), que impedem o aumento dos patamares
de financiamento educacional de 4,6% para 7% do PIB. Se mantidos
os vetos, as metas do PNE para os próximos dez anos não
serão cumpridas. De acordo com uma pesquisa do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada e do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (IPEA/INEP), feita com o Senado
em 2003, o cumprimento das metas do PNE exige que haja um aumento
do investimento educacional para 7,9% do PIB. A redução
real do investimento mostra que o governo segue direção
contrária.
Previsto
para ser concluído em agosto, o MEC finaliza um projeto de
alteração na distribuição de recursos
da Educação, pelo qual o governo federal destinará
mais verbas ao setor com a criação do Fundo Nacional
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica (Fundeb). O ministro Tarso Genro já chegou
a se pronunciar sobre o assunto politicamente, afirmando que não
é um projeto que vai contra as metas da Fazenda, mas que
vai a favor da Educação. Genro também tenta
convencer os responsáveis pelas contas públicas de
que a Educação deve ser tratada como investimento,
e não como despesa, por isso não deveria estar incluída
no cálculo do superávit.
A
substituição do Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério (Fundef), no atual governo, pelo Fundo Nacional
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica (Fundeb) significa o financiamento não só
da educação fundamental, mas também a educação
infantil, a média e a de jovens e adultos. O Fundef, que
foi instituído em 1996, destinava recursos para os municípios,
conforme o número de alunos da rede pública do ensino
fundamental. Vários colóquios sobre o Fundeb já
foram realizados em junho (como em Porto Alegre, São Paulo,
Teresina) e outro está marcado para acontecer no dia 19 de
julho, em Palmas (TO).